O Genro de muitas Sogras - Artur Azevedo
O desfecho da peça além de ser surpreendente, no nível literário, é interessante no que toca às questões psíquicas. Ao se descobrir que Elvira era sua filha, Dona Felícia, não só atesta a "felicidade" da obra, e mas também porque Guilherme retornou ao seu amor, pois passara, momentos antes a se ter reconciliado com a Dona Felícia.
Artur Azevedo opta pela felicidade, mesmo ela sendo uma impossibilidade, segundo Freud. No trato da literatura, expressa-se aquilo que os humanos desejam, tal como Freud muito bem explicou ao tratar da Arte. "um artista é originalmente um homem que se afasta da realidade, porque não pode concordar com a renúncia à satisfação instintual que ela a princípio exige, e que concede a seus desejos eróticos e ambiciosos completa liberdade na vida de fantasia". (FREUD, 1996, p. 05). E mais na frente, Freud mostra a importância que nós humanos damos ao mundo da arte: "Todavia, encontra o caminho de volta deste mundo de fantasia para a realidade, fazendo uso de dons especiais que transformam suas fantasias em verdades de um novo tipo, que são valorizadas pelos homens como reflexos preciosos da realidade. Assim, de certa maneira, ele na verdade se torna o herói; o rei; o criador ou o favorito que desejava ser, sem seguir o longo caminho sinuoso de efetuar alterações reais no mundo externo". (FREUD, 1996, p. 05).
Na peça de Artur Azevedo, há um retorno ao mundo feliz do casal e da reintegração de uma família. Da filha, que era desconhecida (enjeitada), do Pai que não sabia que era Pai. Da Dona Felícia, jogada à escanteio, sem um amor; agora, com seu novo amante, pois vista que agora ela está desimpedida, já que está viúva. Da Elvira, que como filha adotada, e, portanto, abandonada, agora, estará feliz em descobrir quem são seus pais.
A felicidade é tão plena que chega a parecer um sonho. Um sonho de menininha. A Elvira, que tanto queria suprir sua falta; sua perda.
O mundo seria interessante se assim o fosse a vida. Completa ausência de conflitos mais sórdidos, a infelicidade da falta de um grande amor, que nunca se chega e, portanto, nos causa uma dor permanente - a castração.
Enfim, a obra de Artur Azevedo, embora seja bonita, do ponto de vista estilístico e retrata bem a época, no que tange aos dramas humanos é apenas e tão somente uma impossibilidade.
Referências Bibliográficas
FREUD, S. (1920). Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental". Obras Completas, Ed. Standard Brasileira, vol. X, Rio de Janeiro, Imago, 1996.
HELIODORA, Bárbara. Artur Azevedo. São Paulo: Global, 2008;