CONTRIBUIÇÕES AO NOVÍSSIMO POETRIX [1]
Resumo
Abordam-se contribuições ao poetrix no que concerne à titulação, ao número total de pés métricos dos três versos e às formas múltiplas possíveis na interação entre diferentes poetrixtas. São identificados problemas, que são seguidos por recomendações de melhorias alinhadas com os propósitos do MIP e dos poetrixtas.
Introdução
Trata-se de novíssima poesia, essa concebida em 1999 por Goulart Gomes [2]. Brotara do ventre do hai-kai verdadeiramente nipônico, livrando-se, contudo, das regras rígidas do verdadeiro e original linguagem poética japonesa. Ao contrário, o poetrix trouxera consigo a descortinação de um horizonte vastíssimo sobre uma temática livre e se nos facultou a liberdade inata aos desconhecedores das regras de escanção ou de metrificação de versos, bem como daquelas que delimitam o emprego da rima e da estrofação poéticas, para a forma poética em que o poemeto criado por Goulart Gomes deve ser composto.
Para a sua composição, o Movimento Internacional Poetrix – MIP recomenda o emprego da chamada Bula poetrix [3], documento que tem o firme propósito de contribuir para que os poetrix tenham uma cara mais poetríxtica, de verdadeiros trísticos de Goulart e propositadamente menos tercetada, individualizando-se o poemeto como um descendente do minimalismo, possuidor de características próprias. Assim, contribui-se para que o poemeto em foco descortine possibilidades de leituras diversas e subliminares que possam transcender o que aparentemente registram os versos para os leitores.
A Bula poetrix se coaduna com os propósitos de produção criativa empregando a linguagem poetrix, revelando caminhos para boa qualidade de composição poética, essa capaz de apaixonar os leitores afeitos à arte minimalista em poetrix. Não se deve tomar a Bula poetrix como uma regra ou trilho para que não seja quebrado ou punido o processo criativo em poetrix, mas tê-la como uma trilha que pode e certamente deve levar-nos a compor poetrix melhores a cada dia. Deve-se ter em mente que o novíssimo poetrix é livre, portanto não se restringe ao cumprimento de regras ou normas inquebrantáveis; e, dessa maneira, a Bula poetrix se nos apresenta como um apoio na fase de lapidação do poemeto de Goulart recém-criado, de sorte a torná-lo mais belo, mais sintético e mais estimulante ao pensar do leitorado na geração de imagens interpretativas sobre o terceto titulado. Essa condição de poemeto lapidado deve dar ao poetrix um valor superior ao apresentado no momento em que a composição se dá.
Naturalmente, os poetrixtas seguem produzindo poetrix cada vez mais ricos e belos à proporção que se familiarizam com a Bula poetrix, que muito tem contribuído para a continuada melhora da qualidade do poemeto de Goulart lavrado por penas espalhadas pelo planeta.
Um poetrix resume-se a uma única estrofe de três versos e isso em si já se nos revela um primeiro paradoxo para o novíssimo poema sem regra alguma. Assim, duas estrofes de três versos cada não podem ser entendidas como um poetrix, mesmo que cada uma dessas possa ser lida como um poetrix. Por conseguinte, o poetrix é forjado conforme o modelo de um terceto ou trístico. É fato que o poetrix encerra uma única estrofe de 3 versos.
Afasta-se entanto do hai-kai ao receber um título, o qual deve dar sentido e/ou sintetizar o conteúdo da mensagem formulada pelo versejador, isso ocorrendo à semelhança da trova, quando a quadra heptassilábica e de rimas ABAB não incorpora título algum, conforme se observa na maioria das trovas publicadas, sejam essas populares ou literárias. (É mister lembrar que é permitida a elaboração de trova titulada.)
Estando o trístico inserido na arte minimalista versejada, é ululante que versos curtos ou de poucas sílabas poéticas sejam recomendados quando da criação do poetrix. Por consenso dos poetrixtas integrantes do MIP, chegou-se à regra ou à restrição de que não se deve tolerar mais de trinta sílabas poéticas ou métricas ou pés métricos contados para a soma dos valores encontrados nos três versos. Isso não é plenamente corroborado por alguns poetrixtas, provavelmente porque nada afirma sobre a distribuição dessas sílabas poéticas nos versos do poemeto. Mas é o que vigora hoje.
Para o título do poetrix, por sua vez, regra ou restrição alguma está estabelecida, mesmo havendo a recomendação que o mesmo possa ser entendido como complementação aos versos ou coisa parecida.
Títulos muito longos e com muitas sílabas são até possíveis, mas isso se coloca em choque com a própria arte minimalista que busca o mínimo de palavras para dizer muito do tema livre que deve abordar.
As formas múltiplas do poetrix podem gerar tercetos com versos muitos longos, tornando impraticável a declamação dos mesmos. Evidentemente que isso tem a ver com a restrição dos trinta pés métricos aborda anteriormente, fato que pode deformar o poema resultante, roubando-lhe a importância no contexto da arte minimalista em poetrix, onde deixa de se enquadrar formalmente, apesar de moldado como um terceto titulado.
Das 30 sílabas métricas por poetrix
O poetrix deve ser aprendido como uma nova forma de expressão na linguagem poética, esperando-se que o mesmo possa ser declamado em saraus poéticos, apesar desses eventos estarem cada vez mais raros nos tempos atuais.
A trova é o poema que fora popularizado graças ao fervoroso e insistente trabalho a seu favor pelo escritor Eno Teodoro Wanke [4], que abraçou, de forma brilhante, ao trovismo, desde o seu primeiro momento, em 1950, tornando-se um dos maiores propagadores e historiadores do Movimento da Trova Brasileira.
Aquela singela quadra sobrevive até hoje e cada vez mais se dissemina intensamente no Brasil, cujas regras são seguidas regiamente pela União Brasileira dos Trovadores – UBT. Acredita-se que seu verso heptassilábico seja o de mais fácil composição e talvez apresente uma igualmente simples fixação nas mentes dos apaixonados pela trova, mas muito há ainda de se destrinchar a despeito dessa assertiva. Daí – quem sabe? – pode decorrer uma possível explicação para as frequentes declamações de trovas nas reuniões das muitas sessões da UBT existentes no país. As trovas até se nos parecem mesmo escritas para serem declamadas.
Não há regra de metrificação alguma a ser seguida pelo poemeto poetrix. De concreto, tem-se evidenciado que versos polimétricos imperam nas composições publicadas em poetrix.
É sabido que o sucesso na declamação de cada poemeto de Goulart depende do número de sílabas poéticas apresentado por cada verso. Dessa forma, caso se tenham mais de doze pés métricos em algum dos versos, a declamação desse verso longo deve naturalmente exigir do declamador que a faça como se dois versos estivessem sendo declamados. Apesar de se tratar de um ato involuntário de quem recita, deve ser melhor entendido como uma limitação da capacidade pulmonar humana, ou melhor, encerra uma restrição ontológica ou inerente ao ser humano, com dois pulmões sadios.
Tal liberdade exacerbada de composição de versos com mais de doze sílabas se alinha perfeitamente com a liberdade de composição dada ao poetrix, entretanto se choca com a restrição da capacidade pulmonar dos declamadores. Quando isso ocorrer, o poetrix declamado será escutado como se uma quadra fosse, no mínimo; e, assim ocorrendo, ter-se-á imposto ao poemeto de Goulart uma perda de identificação quando de sua declamação.
Sabe-se bem que poemas existem para serem lidos e declamados e não apenas para servirem à leitura de pessoas afeitas a esse gênero literário, apesar dessas últimas serem mais comuns que as recitadoras.
Sendo a arte minimalista a hospedeira do poetrix, versos curtos ou de poucas sílabas poéticas devem ser recomendados e bem que isso poderia estar sugerido em página dedicada ao MIP na internet e/ou na Bula poetrix.
Das formas múltiplas do poetrix
Foram criadas pelos competentes poetrixtas Pedro Cardoso e Tê Soares objetivando a interação entre poetrixtas frequentadores do Grupo Poetrix, esse ainda figura disponível no Facebook [5].
O poetrix e as formas derivadas deste servem para aproximar as pessoas através da arte versificada, cibernetizada via net, objetivando o engrandecimento cultural dos homens, da gramática histórica (nascimento de termos novos ou neologismos) e da poesia, ao tempo que deve evitar o uso de formas deletérias na comunicação veloz e apaixonante que encerram, bem como desviar-se do uso da pornografia inconsequente ou da linguagem dos seres rasteiros ou contrários ao bem-estar na sociedade dos homens justos [6].
Sabe-se que o objetivo das formas múltiplas do poetrix – duplix, triplix e multiplex – tem se nos revelado ser de grande importância para a manutenção do contato virtual entre os poetrixtas que integram o MIP, muitos deles ainda atuantes nesse movimento desde a sua criação há mais de década.
Sobre as formas múltiplas do poetrix, como se deve naturalmente esperar, devem integrar o cabedal de poemetos que compõem o inventário do MIP. Todavia, na grande maioria dessas formas múltiplas geradas ou produzidas ou compostas, o poema formado nem sempre é um poemeto, apesar de apresentar um título e três versos. A razão maior para esse fato repousa na formação de poemas com mais de trinta sílabas poéticas nos três versos. Títulos que também acabam por ficar longos demais contrariam os propósitos do poemeto mínimo. Gera-se, pois, tão só um terceto, sem valor algum para a arte poetríxtica, pelos motivos então expostos.
Como explicação para essa anomalia teratológica nascida da iteração criativa entre poetrixtas e seus poetrix se dá se nos apresenta porque nem todo par de poetrix, a rigor, deve ser duplixado, triplixado ou multiplixado, pois que os mesmos podem gerar formas múltiplas que não se conformam ao que reza a definição de poetrix, não atendendo ao número já colocado de trinta sílabas poéticas. Então, se a forma múltipla gerada não é um poetrix, a mesma não deve integrar o inventário de poetrix do MIP e/ou dos autores. Os poetrix podem ser excelentes, mas podem geram formas múltiplas que não têm valor algum dentro da arte poetríxtica pelo simples fato de não pertencerem à arte poética em poetrix.
É claro que os processos de duplixação e triplixação são indubitavelmente importantes para a interação entre os poetrixtas. Servem até mesmo para que o poetrixta possa autoduplixar seus poetrix. Idem para autotriplixar e automultiplexar seus poetrix. Trata-se, portanto, de um exercício de confluências semânticas e de junção de formas textuais que se ajustam perfeitamente, sem perda alguma acontecer sobre os poetrix originais na montagem do novo poema.
No exercício prático, esses processos de união sem perda entre poetrix de autores diferentes ou do mesmo autor não é uma realidade sem imperfeições serem cometidas, por não ser tão simples quanto se possa imaginar, muitas vezes requerendo habilidades singulares do poetrixta que completa a duplixação à direita ou à esquerda do poetrix original, por exemplo.
Na maioria das duplixações praticadas podem ser encontradas algumas falhas, que, a priori são devem acontecer e/ou serem toleradas, mas é sabido têm sido aceitas entre os praticantes. Nessas irregularidades podem ser verificadas negligências no tocante à obediência da pontuação, uso indevido de letras maiúsculas postas em artigos, substantivos e adjetivos no meio dos versos resultantes da duplixação, dentre outras mais. Além desses cometimentos de desvios menores, o que se mostra mais chamativo é quase sempre o exacerbado número de sílabas nos versos da forma múltipla obtida, formando um pseudopoetrix ou um poetrix teratologicamente deformado. Não fosse isso, o mesmo poderia ser considerado um correto poetrix duplixado ou duplix, simplesmente, para o caso mais simples da forma múltipla.
Para as formas múltiplas, em se preservando a forma com que se permite sejam praticadas hoje, devem ser criadas as denominações pseudoduplix, pseudotriplix e pseudomultiplix, de modo que esses poemas resultantes da interação entre os poetrixtas sejam entendidos como não pertencentes à arte poetríxtica, mas admitidos como mero resultado da interação entre poetrixtas do MIP. Dessa maneira, ao serem lidos por novatos não devem causar estranheza alguma, desde que o prefixo ‘pseudo’ seja empregado para cada uma das denominações dadas à forma múltipla focada.
Por fim, devemos entender que os processos de duplixação, triplixação e multiplexação de poetrix podem gerar ou não duplix, triplix e multiplix. Quando a forma múltipla contrariar a restrição das trinta sílabas, a mesma deve ser chamada de pseudoduplix, pseudotriplix ou pseudomultiplix.
Uma explanação breve sobre o abordado aqui deve ser disponibilizada na internet para os poetrixtas e os duplix, triplix e multiplix devem ser abrigados pelo inventário de poemetos do MIP e seus poetrixtas. Para as formas múltiplas irregulares ou não enquadradas no gênero poetrix, a guarda ou não pelo MIP deve ser melhor discutida na ambiência do seu Grupo de Discussão na internet.
Do título do poetrix
Que a arte minimalista busca dizer o máximo com o mínimo de termos se nos parece óbvio. Está na internet [7]:
O poetrix é minimalista, ou seja, procura transmitir a mais completa mensagem em um menor número possível de palavras e sílabas.
Essa posição endossa as colocações dispostas no item anterior.
O título dado a um poetrix, contido no bojo da arte literária minimalista em versos, também deve ser definido, preferencialmente, de modo claro e conciso, entendível pelo leitorado desse tipo de poemeto. Frequentemente, títulos longos em demasia podem ser enxugados e elegantemente reescritos coerentemente ao minúsculo tamanho do poemeto. (Isso deve ser melhor feito pelo autor do poetrix.)
Título em que se permita fazer impropriamente a contagem de suas sílabas poéticas contidas, como naquele que pode ser lido junto com o poema como se parte dele fizesse, deve passar pela mesma dificuldade de leitura apontada antes para versos com mais de doze pés métricos: devem provocar a impressão de um título e um verso, pelo menos, o que descaracteriza e/ou deforma a estrutura do poemeto de Goulart. Isso deve ser evitado ou, ao menos, buscada a minimização dessa ocorrência na confecção do poetrix.
A descaracterização supracitada pode ser evidentemente mitigada se os poetrixtas evitarem títulos longos, o que não configura um grande esforço para aqueles que compõem bons poetrix, servindo isso de incentivo a todos os poetrixtas para que se pratiquem títulos mínimos e ricos.
À guisa de recomendação, igualmente ao item anterior, instruções devem ser disponibilizadas em página dedicada ao MIP e/ou na Bula poetrix.
Conclusões
Depreendem-se do exposto no ensaio:
1º – verso com mais de 12 sílabas poéticas pode frequentemente deturpar o entendimento do poetrix declamado, sendo ouvido como se fossem dois versos e não um, adulterando o entendimento do poemeto que pode ser erroneamente compreendido tratar-se de uma quadra e não um trístico;
2º – versos de poucas sílabas reafirmam posicionamento do poetrix dentro da arte literária minimalista;
3º – títulos muito longos devem ser evitados, pois podem causar deformações quando da recitação do poemeto de Goulart por razões semelhantes àquelas sofridas por versos com mais de doze pés métricos, além de se afastar do tamanho mínimo que o minimalismo se nos impõe, conflitando com mesmo, não se recomendando tal prática na escrita de poetrix;
4º – as formas múltiplas – duplix, triplix e multiplix – devem obedecer à restrição das trinta sílabas poéticas inerentes à característica definida do terceto titulado chamado poetrix, isto é, máximo de trinta pés métricos para a soma relativa aos três versos; e, quando isso for contrariado, a forma múltipla deve ganhar o prefixo ‘pseudo’ antes dos nomes convencionados até hoje como duplix, triplix e multiplix: pseudoduplix, pseudotriplix e pseudomultiplix.
Como é sabido dos afeitos à arte minimalista em poetrix, tem-se que a sua evolução está acontecendo graças a interação de poetrixtas em muitos cantos do planeta e, com esse mesmo espírito, alinha-se a presente contribuição.
Referências
[1] O autor é integrante do Grupo de Discussão do Poetrix desde a sua criação. Possui livros publicados em poetrix e outros gêneros literários. Integra diversas instituições literárias, com destaque para o IGHB, ALJ, ALB, Grupo Pórtico e MIP.
[2] GOMES, Goulart. Trix – poemetos tropi-kais. Salvador: Pórtico Ed., 1999.
[3] Disponível em: <http://www.goulartgomes.com/visualizar.php?idt=1402080>. Acesso em: 28 dez. 2014.
[4] Disponível em: <http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=7644&cat=Ensaios>. Acesso em: 28 dez. 2014.
[5] Disponível em: <https://www.facebook.com/groups/movimentopoetrix/?fref=ts >. Acesso em: 28 dez. 2014.
[6] MARTINS, Oswaldo Francisco. Realidades versejadas em poetrix. V.2. Salvador: EGBA, 2002. P. 159-160.
[7] Disponível em: <http://www.goulartgomes.com/visualizar.php?idt=1402080>. Acesso em: 28 dez. 2014.
Salvador, 28/12/2014.