Você sabe, quase sem querer...

Te digo que foi do nada

Que acordei e estava mudada

Desconfiei dos hormônios – tão insensatos

Mas não, a mudança lá estava

Nem me encarava

Nem me desafiava

Apenas estava lá – comigo

Passando a caminhar na minha frente

E a resolver – por mim

Os momentos adequados

De controlar palavras – e gestos

E a ignorar – ao contrário do que eu faria

Ações externas, ausências e cegueiras alheias

“Touché!”, ela me dizia vez ou outra

Nocauteando ideias construídas

E me levando a respirar lentamente.

É sério, ouvir a respiração é curioso

E nem sei te dizer se antes o fazia

Ocupada que estava

Em juntar provas

Sobre o que era correto

E o fato, anestésico até

É observar, em mim, a falta de preocupação

Com justiças e julgamentos

Enfim. Te digo mesmo que foi do nada

E te digo mais, e só pra você que digo

Agora passos largos

Já não me atormentam

Menos ainda a falta deles

Possível ou não

Voltamos àquele ponto de antes

Quando a indiferença ordenava

E ninguém obedecia.