A vida seria isso

A vida seria isso: procurarmos eternamente aquilo que um dia perderemos. É o tempo, esta máquina de fazer passado, que apagou a luz do fim de todos os túneis. Foi quando a minha mãe caiu morta. Foi quando o Marcelo Fitness me contou uma história. Disse que tinha comprado um carro quando tinha uns 23 e estava tentando impressionar as meninas. Impressionou mesmo e um homem. O homem disse: - Troca de mano o teu carro comigo por um terreno lá perto da rua Londrina? Marcelo só não quis. Terrenos não impressionariam as meninas. Voltou pra casa e contou o causo para a mãe. E a mãe disse: - Volte lá e troque agora este carro teu por aquele terreno. Marcelo argumentou, mas obedeceu. Marcelo continuou a história. Eu ouvi com a parte da frente dos meus olhos, mas lá trás fiquei pensando naquela obedecida dele. No fato montado em algum ponto da espaço e do tempo de um jovem obedecendo sua mãe. De um conselho de prudência dado. Fiquei pensando neste senso comum, nas parábolas antigas, nos clichês, nas estruturas por trás de todas as histórias que guardam grandes verdades da vida. Tudo isso que a gente adolescentemente acha batido e chato e óbvio demais. Quantos aí não gostariam de simplesmente obedecerem suas mães? Sem ironia, esta horrível. Para mim que vezes há uma enorme pilha de frustrações e escolhas erradas que se erguem e me rodeiam e me apontam e me dizem - A culpa é tua, Adrian. Marcelo acendeu a luz porque o dia já ia se fechando, algo que me distraiu de de estar distraído. Ouvi com clareza o final da história: ele disse - Agora temos este lugar aqui para a gente se encontrar.