Estudo da Etimologia da Língua Portuguesa

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva.

Pendura veio de pendurar,do latim pendulare,afixar no alto,pendurar.O verbo derivou do adjetivo latino pendulus,suspenso,pendurado.E senado,invenção romana muito admirada por outros povos,teve origem no latim senatus assembleia de velhos.

Gibão:talvez do italiano antigo gippone,giubbone no atual.A origem remota é do latim juba,crina de leão,juba influenciado pelo árabe djubba,veste de algodão.Desssa última palavra nasceu o italiano giubba,crina do leão,juba,mas também jaqueta,paletó.De início gibão foi casaco de couro,depois colete usado sob o paletó, com bolso na parte inferior.O gibão retornou às origens no ciclo do ouro,designando o casaco de couro dos vaqueiros.Um gibão de seda aparece entre as recompensas que o almirante Cristóvão Colombo (1451-1506) anunciou aos marinheiros que o acompanhavam na viagem da descoberta da América,iniciada em 3 de agosto de 1492,no porto de Palos,Espanha.Assim se lê em As Quatro Viagens do Almirante e seu Testamento,publicação da Editora Espaça-Calpe,de Madri,em 1977:”Aquele que lhe dissesse primeiro que via terra lhe daria logo um gibão de seda sem falar das outras mercês que os reis haviam prometido,que era dez mil maravedis de ouro.” promessa foi feita em 11 de outubro.Às duas horas do dia seguinte,a América foi descoberta.

Notário:do latim tardio notarius,amanuense,escrivão,escrevente,copista,notário.A raiz remota é notatum, notado supino do verbo notare,notar,marcar,pôr um sinal.Supino do latim supinus,alto,elevado,superior,deitado de costas,é uma forma nominal do verbo que existe apenas no latim.O costume de tudo anotar foi levado pelo império romano par Portugal,onde escrivães,tabeliães e notários cumpriram papel importante na administração da Coroa,mas com a vantagem para os historiadores.Se tudo foi anotado,tudo pode ser pesquisado.As instituições nas quais esses profissionais trabalhavam,como os cartórios,guardaram por séculos,graças ao papel,detalhadas operações financeiras,registros de posse e outros.A Associação dos Notários e Registradores do Rio de Janeiro publicou em 3 de agosto anúncio bem-humorado,aproveitando que era Dia do Tintureiro:”Não lave dinheiro nem pendure suas dívida.Dirija-se a um Tabelionato de Protesto de Títulos para cobrar suas dívidas e deixe tudo limpo.”Como a roupa suja,também dívidas e créditos sujos precisam ser “lavados”.E demandam serviços de “tinturaria”,às vezes obtidos em paraísos fiscais.Lá o dinheiro é lavado,enxaguado e tingido,sendo o verde do dólar a cor preferida.

Pendura: de pendurar do latim pendulare,afixar no alto,pendurar.O verbo nasceu do adjetivo pendulus,pendurado suspenso.A troca do”l” pelo “r”remonta ao primeiro milênio.Há registro de pendorare no latim utilizado na Península Ibérica em território onde hoje é Portugal.No latim ,o primeiro registro está no futuro:alguém pendorabit(pendurará)não se sabe bem o quê,pois o texto está fragmentado.As primeiras coisas penduradas podem ter sido couros de animais abatidos pelo homem,depois suas roupas feitas incialmente de peles,antes que aprendesse a cultivar o algodão.No sentido de pendurar já em português,então escrito ainda “ pendorar”, o primeiro registro escrito se dá nas Cantigas de Santa Maria,manuscritos da corte de dom Afonso X,o Sábio (1221-1884):”E pendurou os ferros,/Logu’e as outras prijjões,/que ao colo trouxera;/e contou y ant’os monges/e ante todas- las gentes/todo como ll’averal e como Santa Maria/em tira-lo aguçosa/fora,per que mui loada.” Penduradas em varal para secarem ao sol,as roupas ensejaram metáforas para as contas.Quando surgiu o comércio,as dívidas contraídas em tabernas e armazéns,depois de registradas em papéis,eram penduradas em prego.Então pendura veio a designar dívida.

Senado:do latim senatus assembléia de velhos,senado.Em latim, velho é senex.Na Roma antiga,a instituição política do senadofoi objeto de grande admiração dos outros povos.Exemplo Exemplo de tal estima é o episódio ocorrido após a primeira vitória de Pirro(318-272 a.C) sobre o xército romano.Ele enviou como embaixador o orador grego Cineas para celebrar a paz com os romanos vencidos,que tinham sido surpreendidos pelos elefantes,animais que desconheciam usados pelo rei de Épiro.Os senadores já estavam aceitando os termos de rendição quando foi levado a assembleia o velho censor Apius Claudius Ceacos(Apio Claudio,o Cego).Ele era muito admirado pelos senadores por sua coragem e coerência.Disse que nenhuma paz seria possível enquanto um só prisioneiro romano estivesse em mãos do inimigo.Todos concordaram com ele e Cineas falou a Pirro que o senador romano era” uma assembleia de reis”.Mais tarde o senado enviou o cônsulo Caio Fabrício para negociar a libertação dos reféns.Pirro tentou suborná-lo com dinheiro,mas não teve sucesso.Pirro sabia com quem lidava.Ao caminhar pelos campos de batalha,notou que os soldados romanos mortos ou feridos tinham sido atingidos pela frente.E ninguém fugira.Pirro venceu as batalhas,porém teve tantas baixas em seu exército que a expressão “vitória de Pirro”passou a designar eufemismo para derrota.Ele venceu os romanos em Heracléia e Ásculo,no entanto perdeu a terceira e decisiva batalha,em Benevento.Em relação ao senado romano,outrora tão glorioso,entrou em decadência tempos mais tarde.

O escritor Deonísio da Silva é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo,diretor do Curso da Universidade de Comunicação Social Estácio de Sá,do Rio de Janeiro,autor de De Onde Vêm as Palavras(A Girafa,14º edição)e Avante Soldados;Para Trás(A Girafa 9º edição)entre outros 28 livros.E-mail:deonisio@terra.com.br

Doutor Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 08/09/2016
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