Beijo é ciência
Ao meditar sobre efeitos suscitados pelo ato de beijar, estive conjeturando sobre experiências vividas e reflexões ensejadas...
É bastante curioso como algo considerado - nestes dias – trivial possa carregar tanto estudo, tanto desmembramento analítico. O beijo é metafísico!
Por que se beija? Não sei ao certo. Talvez por status, por ser um caminho inevitável a outros deleites posteriores, ou porque realmente é muito bom. Mas eu penso que beijar seja muito mais que isso. O beijo traz o D.N.A. da união, antiga ou nova. Ele nos diz se devemos ir adiante quando estamos conhecendo alguém; se essa pessoa nos corresponde em nossos desejos mais íntimos; se há química, se os feromônios se combinam, se há identidade entre as salivas, os hálitos, as texturas de línguas, os formatos de bocas, dentes, gostos. É o raio x do perfil comportamental e das propriedades orgânicas de cada um. Por meio dele, descobrimos se a pessoa é carinhosa, poética, sonhadora; se é dominadora, egoísta, sádica. Revela até se é reprimida, desinteressada, morna, ou o contrário: acelerada demais para o nosso ritmo. Ele declara quando se deseja partir ou permanecer, ou ainda partir para algo mais. Atesta o final de uma relação, muito antes do anúncio oficial. E nem me refiro à sua ausência, que, em si, dispensa maiores comentários.
Amor sem beijo é amizade (lembra até Jabor), sexo sem beijo é isso: apenas sexo. Mas sexo com beijo, beijos, infinidade de beijos é o que chamamos de “fazer amor”, ainda que não seja necessariamente o amor a liga da relação. Ora, beijo é sexo!
Reputo-o como o momento mais íntimo entre dois seres, mesmo que, normalmente, venha sempre antes de outras intimidades, ainda que sua prática possa ser pública. É o momento mágico de encontro, de comunhão; de doar-se e de receber; de expor-se no todo e de perceber até o mínimo.
Sempre acreditei nas revelações que os beijos me proporcionaram e, quando negligenciei, arriscando ignorar a teoria, paguei o preço dos tolos.
Minha sugestão é que se acredite lucidamente nessas suas propriedades científicas. E, se elas te parecerem um tanto abstratas, caro leitor, não te aflijas, pois não o são. Talvez o que falte, por ora, seja um pouco mais de estudo metodológico, ou, antes disso, conhecimento empírico...