Ensaio sobre a terapia na escrita introspectiva

Minha escrita é análoga ao espasmo dos membros ao despertar de um sonho intenso, é o ato de segurar um cigarro fantasma entre os dedos – sequela de um vício passado. Escrevo como quem diz eu te amo pela enésima vez, como quem se desculpa ao pisar no rabo cachorro acidentalmente. Escrevo, não por que preciso, apenas faço sem julgar. Escrevo por impulso.

Palavras e palavras e palavras perdidas entre a rota de colisão da criatividade com a autocrítica, findadas pela revisão algoz. Letras assombrando minhas noites insones, dando fruto a ideias desconexas fadadas a serem palavras não lidas ou lixo eletrônico. Textos abandonados, vítimas da procrastinação e intervenção de outros textos, que se misturam formando uma grande avalanche de conceitos mal explorados, inacabados e esquecidos. Minha escrita é análoga à um ciclo vicioso, meus hábitos são hábitos de um viciado.

Escrevo até atingir o narciso orgasmo literário contido em cada ponto final e, não obstante, não me orgulho disto. Meu sonho é algum dia escrever algo à alguém, pois, apesar de todos os esforços, no fundo todas a palavras são minhas e para mim. Literatura é atividade solitária e a comunicação por meio dela é uma mentira. Tudo escrito vem de dentro para dentro, numa espécie de introspectiva metalinguística.

Contudo, é inevitável o dilema do escritor. Figura que vaga num deserto de vaidade em busca de olhos em sua direção, de mentes engajadas em suas opiniões. O leitor é um pequeno, porém imprescindível, intermediário entre aquele que escreve e o que é escrito. Apenas com a leitura por parte de terceiros é possível concretizar a satisfação que a escrita promove. Em outras palavras: a escrita é o diálogo entre o escritor e seu texto e o leitor é como um psicanalista silencioso – ele se acomoda num canto e aguarda até o escritor encontrar um modo de se encontrar dentro das próprias palavras.

Escrevo como quem faz terapia. A ilusão de estar sendo ajudado é proveitosa para o doutor e cogente para mim. Escrevo para me salvar. Escrevo por escrever.