Ensaio sobre Felicidade e Ilusão.

Início:

Eu já ouvi a maior mentira do mundo, esta é, que tudo vai ficar bem.

Sinto que minha alma se banha em melancolia e depressão ao ouvir isso, mas precisamos ser realistas.

Dizem que existe um estado mental onde tudo fica bem, alguns o chamam de ilusão, outros de felicidade. Para prosseguirmos com nossa reflexão, precisamos compreender do que se trata cada uma dessas definições.

llusão:

O estado de ilusão, ou apenas ‘’ Ilusório ‘’ é longo, nele, nos perdemos entre falsas expectativas e realidades. O estado ilusório começa por influência de ações externas e devastadoras, que com sua manipulação, plantam uma semente de esperança em nossas mentes, e a partir de sua germinação, uma grande raiz ilusória cresce em nossas mentes, afetando nossos sentidos e emoções, escolhas e sentimentos.

Ora, o estado ilusório ainda nos proporciona grandes alegrias, que acabam se frustrando ao seu final. Vejamos um exemplo clássico de tal situação:

‘’ Um rapaz conhece uma moça e se apaixona, não é amor à primeira vista, e sim, paixão. Ele começa a imaginar cenários ilusórios onde ele tem a moça em sua vida, não só como amiga mas como namorada, ou quem sabe ainda, esposa. O rapaz se sente extasiado ao pensar naquele sorriso bonito, ou naquele cabelo cheiroso, a moça se torna tudo para ele.

Podemos perceber até aqui que o rapaz ainda não passou por algum momento triste, ou seja, ele ainda está vivendo dos benefícios (cruéis) da ilusão. Então o rapaz tem a oportunidade de conhecer pessoalmente a moça, ambos se apresentam, o momento se torna excitante, magnifico, e em certas palavras, perfeito. O rapaz percebe que a moça lhe vê com olhos diferentes, e não poderia existir emoção melhor do que a de pensar que está sendo correspondido por alguém que você tanto deseja. O rapaz finalmente se sente bem, inspirado, seus pensamentos se tornam coloridos e bonitos.

Até aqui, o rapaz só provou de belas emoções, o famoso ‘’ frio na barriga ‘’ de ansiedade é uma sensação gostosa, e tudo parece estar bem.

Numa determinada ocasião, a moça cede um beijo ao rapaz ( a semente está plantada e regada), e diz que gosta muito de sua companhia. Em muitos momentos como esse, a moça ou moço, se for homem, sabe o que se passa. Geralmente temos noção de que certo indivíduo está criando sentimentos altos demais para serem alcançados, e é ai que começa a frustração.

O rapaz pensa que tudo será como imaginado, amizade, namoro, casamento e etc. Mas a moça já tem plena certeza de que aquilo não passará nunca do beijo que foi cedido por simples piedade, e mesmo assim, tem consciência de que se disser algo ao jovem apaixonado, partiria o coração dele na mesma hora, sendo assim, ela diz que o sentimento é correspondido. Nunca existiu tempo melhor para o rapaz, seus sonhos estão sendo realizados e ele nunca se sentiu tão bem. Ao contrário disso, a moça sabe o que sente, e não sente nada.

Provei agora que o estado de ilusão pode nos proporcionar bons momento e emoções, o rapaz está preso à uma alegria incomparável, aliás, ele tem o que tanto desejou.

O cenário que conhecemos, como você irá concordar comigo, não é esse. Aliás, a moça não iria ficar com o rapaz por tanto tempo, ainda mais não sentindo a mesma coisa, e ainda mais estando sujeita à lei filosófica de Heráclito: Nada dura para sempre.

A moça finalmente, após a arvore da ilusão estar grande e frutífera na mente do rapaz, diz o que sente, a ainda diz que não podem continuar juntos.

E é aqui que entra o que é incontrolável em estados de ilusão, o rapaz se frustra perante seus sentimentos, sua arvore fica podre, e ao cair, seu peso machuca suas boas emoções, outrora, alimentadas pelo sentimento ilusório em que o rapaz fora exposto. ‘’

Com esse exemplo, percebemos quanto uma promessa falsa pode ser devastadora para mentes ingênuas. Talvez a moça tivesse motivos vingativos para iludir alguém, talvez ela tivesse algum motivo pessoal contra o rapaz em questão. Existem milhões de possibilidades para esse tipo de exemplo. Nunca saberemos todos.

Alguém ainda poderá nos aparecer com algum antidoto para tal situação, mas acredite, o estado ilusório as vezes se torna necessário. Como?

Veja, uma pessoa que fica à mercê de uma falsa promessa, em algum momento será frustrada, e com esse aprendizado, poderá se livrar de futuras situações ilusórias. É difícil encontrarmos alguém racional o bastante para nunca ter sido enganado na vida, ou ter tido esperança onde havia.

Concluindo o que propus anteriormente, algumas pessoas consideram a ilusão algo onde tudo se encontra ‘’ bem ‘’, pessoas assim não sabem que se encontram iludidas ou ainda não passaram pelo estagio de frustração.

Sempre onde um estado ilusório é aplicado, haverá esperança, ou seja, alegria. Porém, onde sempre um estado ilusório for aplicado, ele findara com decepção.

Somos donos de nossas escolhas? Nem sempre. O ser humano é baseado em sentimentos, e isso sempre o tornará fraco, apaixonado e irracional.

O que vemos foi: Você um dia será enganado, mas isso faz parte da convivência entre homens e mulheres. Escapar ileso nunca será uma opção. E nem ser feliz.

Felicidade:

Aos olhos de muitos, felicidade é algo fácil de se definir, e muitos almejam um estado permanente e infinito de felicidade boa e verdadeira. Eis que eu diga; Tal estado não existe.

Como já disse, minha alma já deve ter se transformado num abismo escuro e fundo, mas tal pensamento não é melancólico, caro leitor, tal pensamento é realista.

Ser realista virou sinônimo de chato e moralista, dizer que tudo dará errado e que o mundo é injusto. Esse não sou eu, e aparamente, nem você.

Nosso realismo é mais suave, rejeita todo pensamento depressivo e pessimista, o que nos difere da outra massa (chata) de realistas é o convencimento.

Agora, para darmos continuidade ao nosso pensamento realista, não triste, vamos analisar os dados que temos. Primeiro precisamos definir cuidadosamente o que seria a tal dita felicidade antes de tentarmos aplica-la à prática diária.

O conceito de felicidade é complexo demais para mentes realistas, e simples demais para otimistas, basta acreditar. Hoje é comum comprar felicidade, sendo assim, indo ao shopping perto de sua casa, ou acessando o site que você costume comprar. Nesse contexto encontramos um bom exemplo da modernidade que Zygmunt Bauman outrora chamou de liquida.

A modernidade liquida condiz com a maneira superficial em que lidamos com os fatores que nos rodeiam. Sendo mais literal, Bauman explica que tudo se desvai, nada fica, assim como a agua.

É comum que a dita felicidade seja alimentada com compras ou consumo. (Sendo analítico, o consumo pode se mostrar também ilusório, pois após a compra, sempre passamos pelo momento de racionalidade em que avaliamos, aquilo era mesmo necessário em minha vida?)

E ainda podemos encontrar quem fale que felicidade é ter dinheiro, fama, sucesso. Talvez tais bens possam nos gerar certo conforto espiritual e, muitas vezes, até físico.

Mas e a verdadeira felicidade? Será que ter dinheiro supriria todos os outros problemas de nossa vida? Será que ser famoso preencheria o buraco da carência humana? Será que ser bem sucedido em nossos trabalhos ou projetos seriam o suficiente para que nossa relação familiar se tornasse boa e feliz? É ai que eu projeto minha defesa de que, felicidade duradoura e permanente não existe.

Ora, temos grandes exemplos de ocasiões e momentos em que nos sentimos felizes ao vivenciar experiências que envolvam dinheiro, fama, sucesso e etc., mas como citado acima, ser feliz em um extremo, não cancela a infelicidade de outro.

A felicidade é momentânea e seletiva, pois ser feliz em um departamento de sua vida, não significa que a mesma felicidade será aplicada também em outros departamentos. Veja, acabado de ter um filho, estou feliz, o mais velho continua rebelde e vagabundo, estou triste. Comprei um carro novinho em folha, estou feliz, terei dividas para dois anos, estou triste. Consegui o desejado cargo que tanto almejei, estou feliz, terei menos tempo para esposa e filhos, tristeza.

É certo que poderíamos criar uma extensão de exemplos onde seria comprovado que a felicidade é única e passageira. Mas também poderíamos citar ocasiões onde a felicidade se encontra unicamente boa. O primeiro beijo, um abraço em tempos difíceis, uma boa companhia, família, uma boa leitura, para alguns um bom vinho e etc.

O que temos é aqui é a afirmação de que a felicidade começa e termina, e não que ela não existe. Diferente disso, o que não existe é o paraíso (Não religiosamente falando), onde seremos completamente felizes em todas as ocasiões para o resto da vida. Parece algo que todo mundo já sabe, mas as vezes falta esse pensamento em mentes pensantes.

Vemos então, com cuidado, do que se trata a felicidade. Descobrimos que conseguimos ser felizes ao estarmos no emprego tão disputado, mas que seremos infelizes no ônibus cheio e mal cheiroso.

Conclusão:

No começo do ensaio, falei que a maior mentira do mundo era que tudo iria ficar bem. Me justifiquei que não se tratava de nenhuma afirmação melancólica ou triste, mas sim de dados baseados em percepções minhas.

Descobrimos que existem dois estados onde as coisas podem se ajeitar, estes são: Estado ilusório, onde somos indicados à um caminho alegre e feliz para que logo após trevas e escuridão nos cerquem. Estado de felicidade, onde existe início e fim, em situações prolongadas, poderemos contar com o meio, mas sempre será necessário o fim. Aliás, como diria Heráclito, nada é permanente.

Descobrimos também que em nossa vida o estado ilusório as vezes se torna necessário para que nosso caráter seja edificado e modelado, pois mentes ingênuas se desformam a partir de decepções. Sabemos também que é necessário sermos felizes para viver. Bom, viver de acordo com os outros seres humanos, podemos dizer. Mas que sempre estaremos a procura de felicidade novas.

E para finalizar nossa reflexão, vamos dizer que esse ensaio não se mostrou nada otimista. Talvez você posso interpretar minhas palavras como palavras de um realista daqueles chatos que são pessimistas e ignorantes, mas... Precisamos combinar algo, você nunca irá namorar alguém que não conheça, isso é, como podemos ser felizes sem sabermos o que é felicidade? Tenho plena noção de que o verdadeiro conceito cru e nu de felicidade se desforma de mente para mente. Para alguns felicidade é Jesus, para outros Buda, ou o Alcorão. Esse foi o meu, e ainda posso dizer que minha felicidade (lembre-se que ela sempre será) momentânea se baseia em gestos simples que vivo em meu dia-a-dia, e ao ter minha dose de felicidade findada, sempre estou em busca de mais.

Por isso eu posso te perguntar, amigo. Você é conformado ou iludido?

- Fim -