Marta X Neymar- Por que precisamos de um ídolo?

Por que precisamos de um ídolo?

MARTA x NEYMAR- analisando comportamento coletivo

Escrito pelo Bacharel em Teologia

Estudante de Religião e Filosofia e

Capelão Ev. Antonio F.Bispo

Todos os que são elevados a categoria de celebridade ou ídolo de algum segmento vivem várias faces da mesma moeda: a de influenciar e ser influenciado, a de servir como referencia por algum “bom” que tenha feito ou servir de chacota quando esse objetivo não for atingido e a pior de todas: ser descartado de forma coletiva quando as pessoas acharem outro que faça igual, ou melhor, ao que este faz. Se a subida desse ídolo for meteórica, provavelmente sua queda também será. Se ele chegou aonde chegou por méritos próprios, ainda que caia poderá se levantar, mas se sua imagem foi construída pela mídia, sua estabilidade será como um castelo de cartas e desfará com o vento da opinião publica, ou apenas por uma má citação da mídia quanto a este.

É comum a toda pessoa que repete comportamentos coletivos sem se dar conta do que faz, fazer de um ídolo sua moeda de troca, seu troféu, seu ódio ou seu bem amado. O tamanho da fé empregada neste, será o tamanho das exigências feitas a esse também. Seja esse ídolo um ser humano, ou um ser espiritual. Quem dar louvor é por que quer favor. Sempre assim!

As pessoas agem assim, pois é uma forma fácil de escapar da realidade das coisas, disfarçar suas dores, seus problemas e criar um universo de fantasias dentro de si, afinal, nada melhor do que alguém desse ou de outro mundo para por a culpa quando algo em sua vida der errado.

No mundo cristão temos Deus e o diabo para assumir mais da metade dos méritos ou culpa por nossas ações. Depois tem os políticos, os pais, os professores, o sistema, nosso time de futebol, nosso patrão, o motorista do ônibus que atrasou e por ai vai...Sempre bom ter algum pra por a culpa, não importa quem. Se não houver no mundo físico, cria-se no mundo espiritual. Para ídolos humanos funciona mais ou menos assim: nós te veneramos, te adoramos, te idolatramos, compramos todos os produtos que você lança na mídia, fazemos do seu nome assunto para nossa pobre roda cotidiana de conversa, ofertamos parte do nosso tempo construindo sua imagem de pessoa perfeita e em troca temos o direito de descarregar em ti nossa ira quando alguma coisa em nossas vidas de errado e queremos te xingar do mesmo modo que enaltecemos seu nome. Queremos falar mal de ti do mesmo modo que falamos bem. Queremos que você faça o melhor e nos represente naquilo que esperamos independente de sua condição física ou emocional e acima de tudo fique calado, baixe a cabeça e se der por vencido, quando nós acharmos que é hora de te substituir por outro, pois admitimos 99% de acerto e não aceitamos de jeito nenhum 1% de erro. Simples assim! Curto e grosso! Desse modo funciona a vida do torcedor fanático com seu jogador, do crente comum com seus pastores e celebridades gospel, do aluno medíocre com seu professor, do funcionário puxa saco com seu empregador, dos membros de partidos políticos em relação a seus “salvadores”, etc, etc, etc...

No palco, do outro lado tem o líder, ídolo ou celebridade, que com o passar do tempo molda sua vida a gosto do publico, perde sua identidade pessoal como ser, e vira massa de manobra do povo, orientado geralmente pelos seus lideres de campanhas, conselheiros, empresários, pastores e gurus. Esse talvez seja o motivo principal de tanta gente famosa, rica e bonita, assumir que são infelizes, se acharem feia, viver em depressão, buscar suicídio, ou conforto no álcool drogas, prostituição e outras atividades degenerativas. De forma consciente ou inconsciente, eles abrem mão de si mesmo, do seu “EU” e do seu propósito de vida, em busca de se encaixar num perfil que agrada as massas em troca de dinheiro, fama, poder, ou simplesmente para serem aceito pelo grupo em que estão inseridos. O mal que cerceiam os sentimentos de um, é recebido por outro de modo imperceptível e ambos ficam enlaçados um ao outro, gerando sentimentos confusos, de revolta, de servidão, de ser servido até a autodestruição do ídolo ou do fiel.

O mais recente exemplo visto dentro desse tema é o do “astro” Neymar que de repente, em um dos jogos nas olimpíadas, perde sua popularidade para a jogadora Marta. Ele é aguardado na arena como herói e sai como plebeu, enquanto ela entra como plebéia e sai como heroína. No gosto popular para ir do lixo a lama ou da lona ao pódio é rapidíssimo. Apenas se fazem necessário agradar ou desagradar ao publico ou frustrar expectativas pessoais de alguns poucos.

Esse tipo de comportamento coletivo é usado como válvula de escape há milênios pelos poderosos para trazer a multidão ao seu dispor. É uma ferramenta perigosa para ambos os lados. É como andar na corda bamba o tempo inteiro. Você tem que agradar a multidão controlando o ídolo, e agradar o ídolo tirando da multidão e dando para este. Os coliseus romanos são os exemplos mais conhecidos que temos desse tipo de manobra. Havia ali na arena, homens fortes, bem treinados, com poder de destruição enorme, que poderiam usar sua força somada a de seus colegas para subjugar seus opressores, já que um deles sozinho, era capaz de derrotar mais 30 soldados comum em batalha, mas em troca de fama ,migalhas de seus senhores e louvor do publico, escolhiam matar um ao outro até ficar apenas 1 homem de pé e esse por sua vez recebia todo louvor, recompensa e regalia momentânea por alguns dias, até ser morto por outro lá na frente e ser esquecido por sua “bravura” na arena.

Na platéia estava a multidão. Enquanto riam, zombavam, urravam, xingavam e provocavam algazarras, tinha a falsa impressão momentânea que todo fanático tem que é de possuir ainda que por alguns minutos seus ídolos para beneficio próprio (boa parte dos evangélicos fazem isso o tempo todo sem perceber quando após trazer seus dízimos e ofertas “ao senhor” e depois pedir a morte de qualquer pessoa por que não concordou com sua fé ou lhe aborreça). As vezes se reunia nesses estádios romanos mais de 50 mil pessoas como platéias a fim de assistir aquele “espetáculo”. 50 mil pessoas reunidas, que poderiam usar sua força física coletiva para acabar com seus opressores ali mesmo, pois naquele recinto, fora alguns poucos privilegiados do rei, quem não era escravo, era empobrecido diariamente pelos pesados impostos romanos. Mas aquele espetáculo servia exatamente para despertar neles a idéia de que tinham algum tipo de poder sobre o outro e esquecer suas reais condições de servos, quando decidiam por meio de gestos quem vivia ou morria no embate mortal logo mais abaixo entre os que se digladiavam. Melhor ser um escravo vivo do que um herói morto, talvez pensasse estes.

Ainda na platéia, o governador num local especial, visível ao publico, aos apostadores, a própria platéia e a uns poucos privilegiados que com seus gestos e sua “simpatia” regulava os ânimos de todos, servia como transformador de tensão de alta voltagem, recebendo, transformando e emitindo cargas emocionais entre o ídolo e os fanáticos. O ídolo, achando que tinha poder por que tinha fama e vencia seu oponente, os fanáticos achando que tinha poder por que estava ali para assistir outros mais fortes que si mesmo tombar, e ainda ter “misericórdia” para com alguns poucos levantando para cima seu polegar como aprovação, ou reprovando como o polegar para baixo, como no Facebook de hoje (coincidência estranha...)

A história se repete todos os dias em cada canto do mundo. Uma população com sérios e intermináveis problemas na saúde publica, segurança, educação, emprego, moradia, corrupção e degeneração moral coletiva esquecem tudo isso com a promessa de se reunir em massa para ver seu time, atleta artista ou grupo musical favorito se apresentar. No palco ou no pódio estará o ídolo, que em apenas algumas horas de “show” irá ganhar mais do que todos os pagantes reunidos ganharia em um mês de trabalho e por isso acha que tem poder sobre o público, mas lá na frente percebe que se vendeu para fazer o que não gosta ou não quer, mesmo estando a beira de exaustão física. Na platéia estar o publico pagante, que pelo simples fato de pagar e torcer por seu ídolo, acha que tem algum poder sobre este, quando fala mal, chora, grita, esbraveja e põe neste o motivo de sua frustração momentânea ou permanente quando esse não lhe “serviu bem”. Acima destes ou entre os dois estão os governantes, que sabem que quanto mais pessoas reunidas para qualquer tipo de comemoração, elas esquecerão todos os seus problemas, e desse modo eles conseguem desviar a atenção do que realmente importa para coisas triviais.

A ativação de memória seletiva é uma ferramenta fantástica usada como manobra por lideranças políticas. Um sujeito gravará na lembrança por toda uma vida o gol que seu ídolo fez há 50 anos atrás num evento qualquer, mas é capaz de esquecer o crime bárbaro que seu candidato político cometeu há apenas uma semana prejudicando milhares de pessoas no agora e até de gerações futuras. Eles dizem de modo imperceptível o que as pessoas devem lembrar, e o que elas devem esquecer.

Um gol perdido, um pênalti mal cobrado ou uma performance mal feita de um “artista”, confinando em uma casa de um reality show que não traz beneficio nenhum a vida de ninguém ou de muitos poucos apenas, as pessoas nunca esquecem. Aquele sujeito que causou uma crise política, moral ou econômica, que quebrou a nação, estado ou município, destes as pessoas esquecem rapidinho. As vezes chego a pensar, que as lideranças põem na água, no ar, ou nos alimentos que ingerimos alguma substancia para fazer com que registremos apenas as memórias que eles querem, mas imediatamente sou levado a refletir, que o ser inconsciente é traído o tempo todo pela falsa idéia de poder e por isso se vende, toda vez que ver vantagem pessoal em meio a vantagem coletiva. Jesus, Buda, Confúcio e outros grandes mestres e pensadores, jogou muita luz sobre esse lado obscuro do nosso ser e nos deu a chave para iniciarmos nosso processo pessoal de auto- restauração e se libertar desse círculo vicioso, mas há quem pense que eles estiveram aqui na terra pra serem adorados, idolatrados, fundar religiões ou autorizar que “seus representantes” te cobrem 10% tudo o que você ganha enquanto eles “te ensinam a verdade”. O que esses mestres mandaram fazer os tais “líderes” não ensina, mas o que eles não pediram ou proibiram esses tai exigem do público e pune publicamente quem discordar.

Uma pedra será sempre uma pedra. Poderá ser usada em uma construção, mas serve também para atacar, se defender, amassar, triturar, esmagar ou ainda servir de arte não mão de escultor. Os ensinos dos grandes mestres servirão de ferramenta para liberdade pessoal e coletiva nas mãos de uns e como meio para opressão pessoal e coletiva nas mãos de outros. O conteúdo é o mesmo, mas depende do vaso que recebe se estiver sujo ou limpo, ou das mãos de quem manipula o conteúdo acrescentando ou subtraindo doses próprias.

Estar mais do que na hora de lideres e liderados, ídolos e fanáticos, perceberem que são apenas marionetes nas mãos uns dos outros e usar seus recursos para melhoras coletivas. Enquanto o individuo agir no coletivo ou no coletivo como individuo apenas para beneficio próprio, nossa restauração será mais tardia. A falsa idéia de poder é a coisa que mais nos engana o tempo todo. Só dominamos o outro até o dia que ele aceite ou acorda, e só seremos dominados até o dia que quisermos ou despertamos, seja em que regime for. Muitos índios brasileiros no período de colonização, apesar de serem considerados matutos, preferiram morrer a viver como escravos e perder sua individualidade servindo apenas os interesses de seus colonizadores.

Os ídolos se vendem fazendo o que não gostam, não querem, ou não poderiam por exaustão física em troca de dinheiro e fama. Os fanáticos se vendem quando acham que pagando, ofertando, ou dizimando tem o poder de controlar o seu ídolo ou divindade espiritual.

O ser consciente analisa os fatos e procura na medida do possível se libertar dos vícios das massas.

ESCRITO EM 14/8/16

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 14/08/2016
Código do texto: T5728599
Classificação de conteúdo: seguro