NÃO SÓ DURANTE O CARNAVAL SE DEGRADA O CENTRO HISTÓRICO!

TADEU BAHIA - Autor

Ao caríssimo Mestre e Professor ALDO TRIPODI, in memoriam.

Prezado Aldo Tripodi, o seu trabalho é um verdadeiro documento sociológico do carnaval na Bahia, merecendo os nossos elogios, releituras e profundas reflexões, pois o carnaval baiano deixou de ser o carnaval folclórico/romântico do final dos anos 50 até o final dos anos 60, quando além das famosas “caretas”, “mandús” e outras fantasias diversas dos meus tempos de criança, apareceram os Trios Elétricos, o primeiro dignificado na legendária “Fobica” do Dodô e Osmar, seguido anos depois pelos Trios Elétricos patrocinados pela Fratelli Vitta, Jacaré com o lendário Moacyr à frente. Nos início dos 70, após o retorno do Caetano Veloso e do Gilberto Gil do exílio em Londres, surge o meteórico e fenomenal Trio Elétrico Caetanave, ficando o nosso carnaval passando pelo Dodô e Osmar, Caetano Veloso, Moraes Moreira e os Novos Baianos... (saudades do amigo Galvão!). Quando o Chiclete com Bananas entrou no circuito, para mim acabou a fase de romantismo do carnaval na Bahia e começou a fase da violência física propriamente dita... Não por culpa do grupo Chiclete com Banana, mas pelos bananas de alguns chicleteiros que acreditam que o vigor e a performance do Chiclete com Banana só é completo quando existe a agressão física... claro que o Bel Marques e o seu grupo não concordam com isto! Os baianos também não... Mas é fato! A última vez que participei do carnaval na Bahia foi em 1989, quando do meu segundo casamento e chegando à tarde da terça feira do carnaval daquele ano na Praça da Piedade com a minha esposa, fiquei perplexo com as agressões covardes e gratuitas que assisti no momento em que passava na Av. Sete de Setembro o Trio Elétrico do Chiclete com Banana...

Quanto às agressões vis e covardes porque passa o nosso patrimônio público, especialmente o Centro Histórico, caríssimo Aldo Tripodi, esta agressão não acontece somente na época do carnaval na Bahia. Ela acontece durante todos os 365 dias do ano, com especial acento durante o período carnavalesco, como você bem documentou com propriedade e exatidão no seu trabalho. Esta agressão ao nosso patrimônio nasce inicialmente pelo absoluto descaso dos nossos governantes que não zelam como deveriam, com os monumentos públicos da nossa cidade, o seu secular Centro Histórico, digo melhor, deixam a nossa cidade às moscas, só tratando de cuidar o que lhes interessa pessoalmente. O Pelourinho, verdadeiro museu barroco a céu aberto, está entregue às prostitutas, veados e viciados em drogas, traficantes e etc. Nada contra as prostituas ou aos veados, em absoluto, mas o descaso a que chegou o patrimônio histórico do Pelourinho, Terreiro de Jesus, Portas do Carmo e arredores já diz de forma silenciosa e sentida do absoluto descaso que os governos promovem com o que é nosso! Faltam policiais nas ruas, policiais de ação e atitude, não esses policiais bosçais, cretinos e esnobes que encontramos pelas ruas da cidade e que nem conhecem o verdadeiro sentido histórico e documental dos nossos casarões, monumentos antigos e Igrejas etc:. deixando-os à ação predatória e covardes de vândalos que depredam e saqueiam o que é nosso a olhos vistos! Quando você fala do Largo Dois de Julho, eu que trabalho perto dali, vejo diariamente o descaso a que foi relegado aquele logradouro situado no coração da cidade do Salvador, verdadeiro mercado a céu aberto onde você encontra 70% das coisas que procura comprar nas barracas estabelecidas irregularmente pelos passeios públicos do que nos interiores dos próprios mercados, lojas e afins. Mercados e lojas, bem como farmácias e outros que pagam os seus impostos regularmente, sendo prejudicados por ambulantes e camelôs que irregularmente estabelecidos em pleno meio de rua enfrentam de maneira ilegal e aberta os comerciantes estabelecidos regularmente. Cadê os fiscais da Prefeitura Municipal? Onde está a ação coercitiva do Governo? Na Bahia isto não existe... falar do Campo Grande, coração de Salvador, onde está estabelecido o Teatro Castro Alves, com o advento do carnaval, de fato, caríssimo Aldo Tripodi, aquela região dali e mais adjacências, vira uma autêntica zona de “SODOMA E GOMORRA” onde tudo acontece e nenhuma providência é tomada. Ausentes os policiais, ausentes as ações do Governo, ausentes as autoridades que deveriam intervir, agir em nome da segurança e do conforto não somente dos turistas mas dos seus próprios cidadãos soteropolitanos. Por isto esta devastação promíscua que assistimos durante os 365 dias do ano contra o nosso patrimônio cultural, o nosso Centro Histórico, com maior incidência nos dias do carnaval quando o epíteto “ninguém é de ninguém” é regiamente empregado por todos aqueles que, realmente, não querem uma Bahia melhor. Vergonha para os nossos governantes que de quatro em quatro anos permitem que esses estados de coisas ainda permaneçam, e como falou você, Tripodi, ao lembrar-se do poeta Gregório de Mattos, também o recordo quando o mesmo definiu há anos atrás que com somente “dois ff” é feita a nossa Bahia:

DEFINE A SUA CIDADE

De dois ff se compõe

esta cidade a meu ver:

um furtar, outro f....

Recopilou-se o direito,

e quem o recopilou

com dous ff o explicou

por estar feito, e bem feito:

por bem digesto, e colheito

só com dous ff o expõe,

e assim quem os olhos põe

no trato, que aqui se encerra,

há de dizer que esta terra

de dous ff se compõe.

Se de dous ff composta

está a nossa Bahia,

errada a ortografia,

a grande dano está posta:

eu quero fazer aposta

e quero um tostão perder,

que isso a há de perverter,

se o furtar e o f... bem

não são os ff que tem

esta cidade ao meu ver.

Provo a conjetura já,

prontamente como um brinco:

Bahia tem letras cinco

que são B-A-H-I-A:

logo ninguém me dirá

que dous ff chega a ter,

pois nenhum contém sequer,

salvo se em boa verdade

são os ff da cidade

um furtar, outro foder.

Um grande abraço, caríssimo Aldo Tripodi, quando renovo os meus parabéns pelo seu magnífico trabalho!

Salvador – BA. em 23 de fevereiro de 2011.

TADEU BAHIA
Enviado por TADEU BAHIA em 07/08/2016
Reeditado em 29/09/2016
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