POEMA DESENTITULADO - ao escritor e poeta chileno PABLO NERUDA, in memoriam

“_MIS ALEGRIAS Y MIS DOLORES VIENEN DE AQIO O AQUI SE QUEDARAM.” (Pablo Neruda)

TADEU BAHIA – Autor

Isto tudo é para o NERUDA, com toda a consideração:

Mas o que é qu’eu posso falar sobre um Poeta Imortal?

Nada. Absolutamente nada.

No ano passado, justamente quando morreu o NERUDA, eu estava começando a minha escalada, a minha caminhada como Poeta. (Era o tal negócio: morre um, nasce outro). Tudo me enchia de sonhos, e imaginava, com o meu parco lirismo, os nossos arranha-céus construídos com casebres de zinco nos morros para ficarmos mais pertinho do céu e etc:. etc:.

Tudo o que escrevo agora é sem nexo, sem base. Sem nada. Todavia queria homenagear o NERUDA de alguma forma.

NERUDA morreu amiga, morreu num domingo de setembro igual a este, quando eu me perco em mim mesmo recordando seu sorriso fra(n)co e débil como um CONTA-GÔTAS DA PAZ!

É. Morreu um dos maiores poetas do mundo, e daí? O que podemos fazer amiga? Nada...

Meus olhos verdes se perdem nos versos escritos atoa em papéis antigos e usados de baratas... e vejo, no horizonte desses versos, canções febris de paz e desespero e um símbolo em forma de cruz (QUE NÃO FOI CRUXIFICADA).

NERUDA e os seus versos de paz e desespero. A paz mergulhante e cálida do mar que nos molha os pés e os corpos morenos nesse domingo maravilhoso de sol...

O sol de ISLA NEGRA!

O sol, o mar, a canções monótonas e nostálgicas dos marinheiros. A paz nos olhos, de todos os olhos e umbigos morenos e seios palpitantes expostos à rua... Olhares lânguidos de paz que perambulam por corpos desnudos, bastos, castos (?), nem sei!...

As nádegas nuas. As nádegas cruas gingando ao ritmo louco deste poema de domingo, poema sem fundo, inexperiente e sem nexo. Muito fraco!

NERUDA! Onde está você? Aparece! Vem com essa “Gente Jovem” passear nesse mundo de ilusões, de poesias. Vem de lá para o SUBMUNDO DA NOSSA POESIA, ainda tão fraca, tão jovem, ainda tão débil.

Vem pelas ladeiras antigas dessa cidade boba para encontrar com poemas de pernas virgens, nuas e adolescentes, para sentir o calor dos lábios sôfregos e úmidos, pintados de sangue o qual escore pelos queixos como numa pintura surrealista. Vem ouvir o “roar” dos caravelles por sobre os nossos cabelos descorados de tano sol, de tanta luz...

...da luz madreperolácea do luar iluminando todas as ruas e quintais da minha infância.

Das luzes mortiças dos faróis dos automóveis gritando: PARE – PARE! Não, não posso parar amiga. Cadê NERUDA? Cadê a minha PAZ DE ESPIRITO?

_NERUDAAAAA!! NERUDAAAA!!...

Não. Não adianta gritar.

POIS ELE AGORA SAIU DO CHILE. E É TARDE, MUITO TARDE.

E a minha poesia é inválida... Impotente...

Contudo ela vai, prestando-lhe esta homenagem “Post-Mortem”.

Ela vai, amiga, perdida pelas avenidas congestionadas de carros e de gentes histéricas tomando cafezinhos.

Vai pelos meretrícios eternos e encantados dessa cidade tão maravilhosa (como uma pornografia encabulada!), deslizando pelo dorso de todas as VIRGENS, de todas as PROSTIPUTAS como num calafrio de gozo e de paz...

Vai pelas igrejas, calçadas e viadutos pedindo uma esmola ou uma coisa qualquer. Ela vai. Sombria, chocante, alucinante, dissonante (porque não rimar?) ela vai...

Ela é Poesia...

E ela vai amiga, como a vida vai. Como o NERUDA FOI(??).

Ela vai porque, NAVEGAR É PRECISO

VIVER NÃO É PRECISO... Como diziam há muito tempo os navegadores antigos.

Para completar o sentido desses versos, eu encaixo o NERUDA, porque não é necessário viver, e sim, CRIAR. E quem mais que ELE criou tanto nesses últimos tempos pelas Américas?

(Podemos citar o JORGE AMADO, CAETANO VELOSO... somente).

Se que não adianta falar nada. Mas é preciso. Porém o meu vocabulário de Poeta-Novo é muito ANÊMICO para falar do NERUDA. Apesar de tudo ELE está ai.

É só o que eu posso dizer, amiga, por enquanto.

Se pudesse escreveria algo mais. Contudo não posso, sou Poeta.

MENDIGO DOS VERSOS,

MASTURBADOR DE ILUSÕES!

Vai, NERUDA!

O seu nome tremula e escapole-me dos lábios, como uma canção de ninar cantada por Discos Voadores:

_PABLO NERUDA!

Perdoem-me por este domingo tão bobo, inexpressivo e fútil.

A razão disso tudo é que, a cada dia que passa, fica mais difíil a gente se expressar (e entender) na língua portuguesa.

Ela me deixa R(L)OUCO pelos séculos dos séculos,

AMÉM!

(O ensaio acima foi escrito em 03 de setembro de 1974, em homenagem ao falecimento do poeta Pablo Neruda, publicado com destaque na Revista do Jornal da Bahia, na página literária “GENTE JOVEM”, do ex-JORNAL DA BAHIA em 18 de maio de 1975 – ARQUIVOS DO AUTOR).

TADEU BAHIA
Enviado por TADEU BAHIA em 04/08/2016
Reeditado em 08/08/2016
Código do texto: T5718657
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