Umas considerações sobre nós e o mundo
Estamos acostumados a pensar que os países sejam coisas estáveis, que sempre existiram e sempre existirão: não são. O Brasil ainda não tem 200 anos, os EUA têm pouco mais que isso. A Alemanha esteve dividida até pouco tempo, e a União Soviética já não existe mais. Vejam a Europa de 200 anos atrás:
Estamos prestes a viver uma revolução sem precedentes na história da humanidade, não me surpreenderei se dela resultar o fim dos países do modo como os conhecemos (temo o surgimento de um regime neo-feudal regido por corporações multinacionais).
Mas, por que, pergunta o leitor, algum profeta louco imaginaria tamanho disparate? Responderei.
O mundo se encontra em um impasse incomum e estranhamente instável devido à dissociação entre o poder econômico e o militar. Embora a notícia importantíssima permaneça abafada pelos meios de comunicação, a economia chinesa já superou fartamente a americana, e continua ampliando essa defasagem a passos largos (confira isso na internet). Por outro lado, o poderio bélico americano ainda continua superior ao chinês devido, em grande parte, ao conjunto de bases militares americanas encravadas no mundo inteiro. A situação é preocupante, o risco de uma guerra apocalíptica é imenso.
Um punhado de pessoas, chamo-os “os donos do mundo” vem dominando o planeta há coisa de um século, pelo menos. Esses caras estão acostumados a mandar, sempre fizeram isso, desde que nasceram. Continuam sendo as crianças mimadas que foram um dia; nunca foram contrariados, não imaginam que isso possa acontecer, e não sabem lidar com isso. Foram eles que “desenharam” o mundo atual, que ditam as regras gerais, determinam quem sejam os árbitros, etc., em suma, são eles que governam o mundo. Têm sido capazes de fazer isso em decorrência de sua riqueza fenomenal. Existe, por exemplo, o FED, uma estranha instituição privada americana que produz o dólar. Os caras que fabricam dólares são, naturalmente, muito ricos.
Já há várias décadas esses caras vêm fazendo propaganda do sistema democrático. Quando convém eles se tornam democratas. Também fazem propaganda da “liberdade”, adoram essa palavra que sabem ter um enorme poder de sedução junto à população, e a usam com os mais variados propósitos. São eles que mantêm o mundo como ele é, são eles que têm mantido o planeta dividido da forma que conhecemos, retalhado em países. Esse desenho atual tem sido adequado a eles que controlam o governo dos EUA e usam esse país como braço para o controle dos outros países. Tem sido assim e isso lhes tem sido útil. Também lhes é útil o conceito de democracia à americana, o espetáculo que temos podido acompanhar pela TV, e que resultará na escolha do novo presidente americano. Trata-se de um imenso show cujos protagonistas são inseridos em uma superprodução grandiosa bem ao estilo dos espetáculos cinematográficos que admiramos. Nas últimas décadas, o modelo foi exportado para a maioria dos países do ocidente, democracias estão na moda. Também gosto delas. A moda, no entanto, não é necessariamente duradoura; parece estar sendo conveniente aos donos do mundo interromper esse ciclo que puderam dominar por anos.
As democracias contemporâneas têm sido convenientes aos donos do mundo porque dominando o dinheiro e os meios de comunicação pelo mundo afora, eles conseguem um domínio maior sobre todos os países que o que conseguiriam sobre ditaduras. Ditadores costumam se tornar meninos mimados com desejos próprios e inamovíveis, o que sempre acaba por irritar os donos do mundo. Presidentes eleitos democraticamente que se insubordinem contra os desígnios desses senhores são substituídos periodicamente. Lula quebrou essa norma, conseguindo uma popularidade desmedida que superou o poder dos meios de comunicação; tendo sido impossível trocar o governo com financiamentos eleitorais, armaram o golpe de estado que resultou no desgoverno dos ratos interinos que nesse momento se empenham em rapinar o país alvoroçadamente.
Os donos do mundo vêm criando dólares com uma voracidade incontrolável. Difícil imaginar controle sobre ação tão tentadora; basta a eles digitar um número em uma conta e está criado o dinheiro, tantos trilhões de dólares quantos queiram. Têm feito isso com naturalidade. O resultado disso, após décadas, é uma bola de neve com um valor maior do que todos os bens existentes no mundo. Esse sonho disparatado talvez pudesse ir sendo empurrado para amanhã quase indefinidamente, até que algum desastre surpreendente ocorresse. Os chineses, no entanto, donos da maior economia do planeta, senhores da economia real, palpável, produtores da maioria dos bens circulantes por todo o mundo, resolveram se insurgir, propondo a criação dos BRICS e de um enorme banco ligado ao grupo. Dominando o comércio mundial, esse banco acabaria permitindo a substituição do dólar como moeda de reserva internacional. Tal acinte desagradou os donos do mundo que resolveram então acabar com a farra no Brasil, e detonar a incipiente democracia local. O enfraquecimento dos BRICS não esmoreceu a China que decidiu, então, criar um banco mundial com seus parceiros asiáticos. Os donos do mundo sabem que, em breve, isso levará o yuan a se tornar a nova moeda de reserva, explodindo o dólar absurdamente inflacionado, transformado em uma bolha colossal. Essa ameaça é inaceitável para os donos do mundo; a troca do dólar como moeda de reserva internacional significará a morte de sua galinha de ovos de ouro, e o fim de seu poder hegemônico. Em vista disso, os donos do mundo têm um pequeno número de opções, a pior delas seria cavar uma guerra apocalíptica bombardeando a China e a Rússia, matando bilhões de pessoas e eliminando o mal pela raiz. Tal “opção” tem inconvenientes óbvios.
Uma outra tentativa poderia ir na linha da dissolução dos países. Uma vez que os EUA perderam a hegemonia econômica e não servem mais para impor à força os desejos dos donos do mundo, estes poderiam “melar” os países, dissolver todas as instituições políticas atuais e desenvolver algo novo, baseado na descentralização de poderes políticos locais regidos por poderes econômicos internacionais. Seria uma espécie de feudalismo, com poder político descentralizado, leis locais, regidos por um deus econômico onipresente incorporado na figura de uma trindade una e múltipla representado por um grande conglomerado econômico multinacional agregando virtualmente todas as marcas e forças produtivas existentes.
De qualquer modo, a derrocada iminente do dólar jogará os EUA em uma convulsão social estrondosa. Os estertores de uma era de pujança econômica ecoarão por todo o planeta causando uma onda de descontentamento e enorme ebulição social e política. Em vista disso, providências têm sido tomadas no mundo inteiro “naturalizando” os estados policiais onde, por décadas, reinou a liberdade. A campanha publicitária em favor do terrorismo iniciada após o ataque ao pentágono e às torres americanas acabou dando frutos, tendo sido necessária, além da propaganda, o incentivo à construção de grupos terroristas.
No Brasil, por exemplo, temos desde 2001 um conjunto de procedimentos nos aeroportos cujos propósitos só se “justificam” como necessidade americana. Não temos a mania americana de ficar jogando bomba em árabes, não precisamos temer retaliações deles, consequentes de tais atos. Pelas mesmas razões, não temos nenhum motivo para nos preocupar com retaliações terroristas em metrôs, ou estádios, nosso país nunca atacou os árabes, gostamos deles, somos amigos do mundo inteiro. Por que um terrorista muçulmano viria se explodir no Brasil? Por que tanta propaganda de terroristas suicidas que nunca existiram aqui? Tragam uma dúzia de terroristas suicidas muçulmanos fanáticos para o Brasil e em menos de um ano eles terão caído na gandaia e abandonado a ideia de se explodir. Estão criando esses bichos-papões para justificar a construção de um estado policial e preparar o cenário para um golpe de extrema-direita patrocinado por estrangeiros, conforme as diretrizes das guerras híbridas.
Também não precisamos de navios de guerra idiotas patrulhando nossas costas para demonstrar belicosidade durante os jogos olímpicos, essa festa imensa que sabemos preparar como ninguém!
Atentem, ninguém no mundo sabe fazer festas populares como nós!
Essas olimpíadas deveriam ser a maior festa já vista pela humanidade, seriam se não estivéssemos sob ataque, e talvez o sejam, mesmo assim. Mas estamos sob o ataque de uma guerra híbrida. Temo estarem fermentando uma ditadura de extrema direita mais dura e abominável que qualquer coisa que já tenhamos visto em nosso país. Nossa economia vai muito mal, nossa política ainda pior. Estamos divididos, jogando contra nós mesmos.
Quando o dólar ruir, os donos do mundo ficarão expostos. Inúmeras mentiras virão à tona. Será difícil justificar a razão de os rebanhos dóceis terem gasto suas vidas no afã de conseguir dinheiro, um número criado magicamente pelos estelionatários que comandam o mundo e que por mágica também terá se esvaído. Será difícil controlar a ira das massa empobrecidas, ao descobrir tal fato. Para se safar, os donos do mundo inventarão inimigos entre nós mesmos. Deveremos brigar entre nós para não mirarmos neles. Já têm feito isso, têm criado os terroristas e os estados policiais.
O governo brasileiro prendeu, uns 10 dias atrás, mais de uma dezena de pessoas “suspeitas de terrorismo”. Esses suspeitos encontram-se em isolamento, sem direito a advogado, nem a proteção legal. Nenhuma informação sobre eles tem sido divulgada, nada se sabe sobre eles.
A lei que os mantém cativos é, de fato, uma lei americana incrustada estranha e inconstitucionalmente na legislação brasileira. Diz-se que eram terroristas, ficam sendo. Talvez tenham feito alguma piada na internet, talvez tenham apenas usado mochila e roupas estranhas, pouco importa, são suspeitos de terrorismo e, sendo assim, podem ser presos indefinidamente, sem nenhuma proteção legal. Sem advogados, sem defesa, já estão condenados de antemão. Em tais condições confessarão o que quiserem que confessem, todos confessaríamos. Em tais condições, aliás, nem precisam confessar nada, já estão confessados, não têm advogados, quem vai desdizer o quê? Nossa Guantánamo será muito pior que a original.
Querem que tenhamos inimigos que nos amedrontem e que sejam nossos alvos. Querem que estejamos divididos; que odiemos e temamos os terroristas, e os muçulmanos, e quem sabe os esquerdistas, ou direitistas, e todos os istas contra quem nos aticem. Querem que tenhamos inimigos para ser nossos alvos, ou miraremos os donos do mundo. Também tentarão nos preparar para acreditar na novas mentiras que contarão. Será assim em todo o ocidente.
Mas poderemos acordar, perceber as mentiras, nos libertar dos grilhões que nos mantém cativos e construir um futuro de sonho e esperança, livre de tantas mentiras. Temos que ficar atentos. Os donos do mundo tentarão nos fazer crer que o momento seja de ruína e desesperança, e que não existe salvação sem seus arreios. Mas a explosão da grande bolha financeira poderá ser o momento da libertação, do autocontrole de nossos próprios destinos, da revelação de nosso eu. Teremos apenas que descobrir sermos nós mesmos, senhores de nós, de nossos destinos; livres.