Ensaio despretensioso sobre filosofia

O Fantasma da Ilusão

Pode-se conceituar a vida como sendo um infinito e insondável mar de ilusão, ainda que isto não represente as realidade total. Mesmo desconhecendo até onde podem nos levar os sonhos que acalentamos, é pela ilusão que os mantemos. O homem vive iludido; considerar isto como sendo bom ou mau pouca coisa representa diante da verdadeira postura que distingue felicidade de estado ilusório de vida. Saber quando se está feliz e quando envolvido pelas garras da ilusão é tarefa de uma existência inteira. É-se feliz ao enxergar-se a vida pelo prisma da realidade. O desconhecimento do que seja morte é tão fatal para a liberdade quanto o acúmulo das experiências relacionadas a uma projeção material exclusivista. Não vivemos pela matéria, mas pelo espirito. Mais vale uma vida eterna desiludida do que passar cinquenta ou cem anos de alma maculada, adormecida, perpetuando a inercia cultivada na ignorância da missão espiritual.

Satisfazer a sede de conhecimento pode representar a maior das felicidades. A sabedoria pode dissipar a ilusão. Querer o melhor, ansiar pelo mais elevado é tarefa de todos. A grande problemática reside na aplicação do conhecimento na sua direção. Há um mundo de ofertas disponíveis. Não faltam incentivos para o fomento da ilusão. Quando se considera o homem carnal como sendo o verdadeiro homem, têm-se na ilusão a companheira de todos os esforços. O grande erro está em ver na satisfação dos cinco sentidos uma fonte de felicidade. Poderíamos chamar de paradoxal a nossa existência, mas o que a faz conflitante é exatamente a posição em que se coloca para observar o mundo em si. As coisas que Aparentam ser não o são de fato. Em outras palavras, não existe o que parece existir e o que parece não existir é que que existe verdadeiramente. Assim é com o nosso corpo material e com tudo aquilo que se apresenta aos cinco sentidos.

Todas as coisas mutáveis são manifestações transitórias. O contínuo estado de ilusão em que normalmente se vive só permite ver e perceber o que não é real. A realidade está acima dos sentidos grosseiros. A existência de Deus, do que é eterno e imperecível; a perfeição inerente à criação; o mundo de eterna pureza, de felicidade constante, onde não há a possibilidade de o mal existir fazem parte do estado não ilusório. As coisas que não existem, que nunca foram criadas são produto da imaginação assolada por uma outra coisa também não existente: a ilusão. A ilusão produz o desencadear de fatos e aspectos que, ao persistirem, reforçam a ideia de ilusão. Costumamos encarar de modo equivocado a realidade. Isto porque o fazemos tendo por base a ilusão. Não podemos ter ideia exata de como será o nosso futuro. O passado já se foi para não mais retornar. Então só nos resta o agora; devemos fazer dele o melhor para não nos arrependermos amanhã. Quando nos tornamos prisioneiros do ontem ou nos preocupamos desnecessariamente com o amanhã é porque estamos nos deixando levar pela ilusão. A vida está no agora; é do agora bem vivido e despreocupado que resulta a felicidade. Se pararmos para uma análise vamos concluir que a ilusão é algo inexistente. Só nos damos conta dela quando esquecemos de agradecer pela vida que estamos desfrutando nesse momento.

Existem formas diferentes de se desfrutar a vida e é a escolha de cada um que vai formar o seu destino. Conclui-se daí que o destino não é algo imposto ou definido, mas que ele é o resultado das escolhas e decisões que são feitas ao longo da vida. Se, através da observação dos diferentes destinos que se desenrolam ao nosso redor conseguirmos adquirir experiência e sabedoria, teremos nas mãos a chave para um destino feliz. O pior para alguém é cair no eterno mundo das comparações. Não é possível penetrar no íntimo de uma pessoa e descobrir o que a leva a ter determinados sonhos e se esforçar tanto para alcançá-los. É por esse motivo que a análise se faz primordial e a comparação pode ser perigosa. É fácil cair na ilusão quando nos deixamos impressionar pelas aparências. Cada ser é universo totalmente único e independente. A felicidade pode ser desfrutada de diferentes maneiras. Cabe a cada qual descobrir o que o faz feliz e trabalhar para isto. À partir do momento em que a felicidade de um não rouba nem interfere na felicidade do outro ela pode ser considerada autêntica e quando promove ou aumenta a felicidade alheia ela passa a ser a felicidade ideal.

Não há pecado nem ilusão na procura da própria felicidade. A vida correta traz como consequência uma felicidade natural. Pode-se entender como vida correta aquela que tem o amor como guia, o amor em todas as circunstâncias. A prática desse amor já é um resultado da gratidão por se estar vivendo. A vida natural é desprovida de sonhos mirabolantes; não se apoia em comparações, desconhece a inveja, vê no semelhante um filho de Deus e procura vivificá-lo, jamais fazendo a ele o que não quer para si próprio. Analisando o mundo e todas as desgraças que nele ocorrem é notório como partem exclusivamente do próprio ser humano as ações que trazem infelicidades e sofrimentos, ou seja, é o próprio homem o culpado por suas mazelas. E tudo se resume em depositar na ilusão a maioria dos sonhos. O anos passam como foguetes, fazendo de uma vida carnal um fato efêmero e, na maioria das vezes é tarde demais quando a realidade se apresenta e só encontra consolo na resignação. Viver de maneira simples é o melhor caminho, mas isso não quer dizer desistir dos sonhos, levando uma vida ociosa. Muito pelo contrário. A carência de seres que buscam a sabedoria é lastimável e é preenchendo essa coluna que se pode alcançar uma vida mais feliz e desprendida. A alegria é um magnifico tônico e transmiti-la ao outro através de uma vivência pura e exemplar é contribuir enormemente para a melhoria do mundo. Nas palavras de incentivo, no otimismo e nas ações altruístas encontra-se o maior exemplo de uma vida feliz.

As dúvidas sobre o amanhã, sobre o futuro incerto não deixam nunca de invadir os nossos pensamentos, mas à partir do momento em que nos prendemos a isso surge a ansiedade e muitas vezes o medo, dois inimigos terríveis da felicidade e da paz de espirito. Quando entregamos a Deus o futuro e fazemos, no presente, tudo aquilo que se encontra ao nosso alcance podemos ter tranquilidade, pois o futuro não é nada se não o hoje vivido intensamente. É pelo fato de termos uma mente complexa e desenvolvida que sofremos pelo passado e pelo futuro. Se não tivéssemos o conhecimento das coisas da forma com que elas se nos apresentam sofreríamos menos, mas, por outro lado seriamos como os irracionais que só vivem pelo instinto. Então, tudo serve de aprendizado; cada momento é uma oportunidade maravilhosa. A felicidade parece ser extraída exatamente à partir do momento em que passamos por esses conflitos existenciais. O esforço da superação, os desafios que o dia a dia nos impõe, tudo vem em função de termos essa consciência do amanhã incerto, mas inexorável. Por isso queremos fazer o melhor, pois temos a vantagem de sermos seres superiores. Como tudo possui um preço correspondente, as colheitas tornam-se diferentes em quantidade e qualidade. Por isso há vencedores e fracassados. Não deve-se, contudo, encarar como uma luta a vida; ela vai além disso. É antes um jogo em que nada se aposta, a não ser a capacidade de enxergar mais adiante. Sendo assim não precisa haver perdedores. É sempre possível o recomeço, o reinício da partida com mais atenção e desprendimento, corrigindo os erros e aprimorando aquelas jogadas que deram certo; aí o sucesso será inevitável.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 24/07/2016
Reeditado em 24/07/2016
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