NAWARAN, EU!!!
Foi no dia da posse da diretoria do SINTSEP/AL. Eu estava lá, deslocada, mas presente. Meu coração sangrava, ferida recente. Meu Guerreiro acabara de fazer a Grande Travessia, após dez meses de agonia e oito horas de puro terror! Vi a Tribo Xukuru/Kariri aproximar-se do nosso grupo de diretores.
Lembrei de minhas avós materna/paterna, dona Águeda Maria Indalino Poção e dona Joanna Rodriguez Araújo. Eles me fascinam sempre! Pedi a Indira que me levasse até o Cacique, ela me atendeu e nos colocou um frente ao outro. Olhei aquele homem magnífico em sua simplicidade extrema, estendi minha mão, falei meu nome de registro e completei “_____É um prazer conhecê-lo!” ele respondeu______ “Natwié, às suas ordens.” Perguntei se ele me considerava digna de receber as cores da sua tribo.
Ele sorriu e chamou um jovem que ostentava um colar no pescoço, confeccionado com contas pequeninas, de um vermelho vivo. Ele se aproximou sorrindo e disse ___ “Com sua licença senhora.” Com o dedo indicador da mão direita pintou os dois lados da minha face com traços fortes, dois traços negros intercalados por um traço branco.
Indaguei sobre o significado das cores. Natwié explicou que a cor negra significava o respeito aos Antepassados e o branco representava um pedido de Paz. Olhando-o firmemente nos olhos fiz a pergunta que não queria calar: “_____Natwié, se eu fosse submetida ao ritual de iniciação da sua tribo e me saísse bem, qual nome de guerra você me daria?” Ele segurou minhas mãos, ficou em silencio alguns segundos e em seguida chamou seu irmão, o pagé da tribo. Olharam-se e ele falou “_____ Nawaran, esse é o seu nome.”
Meus olhos se encheram de lágrimas e como sempre faço, quando algo me foge, perguntei o por que do nome Nawaran e o que significava. Ele continuou me fixando e respondeu “___ Você é uma mulher que já passou e está passando por uma grande prova. Um grande sofrimento está estampado em seu olhar. Nawarã = Guerreira de Pedra!!!”
Depois fiquei sentada observando eles dançarem e cantarem. Não entendo as palavras do seu canto, mas fico fascinada pelo som dos maracás, a pintura alvinegra de seus corpos, os colares vermelhos, verdes, brancos, seus cocares de penas de variados pássaros e fibra de agave(creio).
O Cacique Natwié segurando, com a mão esquerda, seu filhote e com a direita um maracá, encabeça a fila que forma um circulo na areia, entre os dois coqueiros. Tawrã agita também um maracá e entoa, a plenos pulmões , o canto do toré. Sawary e a outra índia rodeiam o pequeno círculo masculino, por fora, em sentido contrário, como se na tribo as mulheres formassem um círculo ao redor dos guerreiros. Quis perguntar, mas desisti porque meu pensamento voou para uma história sobre mulheres/homens e tesouros!
*Texto de Adda-nari Sussuarana/eu.
PS: Hoje estou com muita saudade do meu Guerreiro... uma saudade que dói, assim, fininha feito chuvisco em tarde de verão. Tem cheiro de terra quente molhada aos pouquinhos, fazendo o ar ficar mais fresco sem perder o morno do entardecer. Creio que É para sempre, esse AMOR por Francisco!!!