Ensaio despretensioso sobre filosofia - Do dinheiro
A vantagem de se viver desapegado das coisas grosseiras supera infinitamente os prazeres materiais advindos do acúmulo de dinheiro. Ele não é chaga, não é coisa que deva ser amaldiçoada, pois que sua força se resume a nada, pelo simples fato de ser matéria e matéria não fazer parte da natureza intrínseca do ser humano. A felicidade do espirito satisfeito com sua razão de ser, consciente do valor da vida é, de longe, superior àquela em que o dinheiro é peça primordial. Este estado de felicidade destoa da satisfação consigo mesmo, independente da ascensão a que se conseguiu chegar por meio da aquisição de bens. Unir os dois tipos de felicidade, a espiritual e a financeira seria o estado ideal, embora não seja fácil a manutenção deste balanceamento na escola da vida.
Há ricos providos de sensibilidade espiritual que fizeram a diferença no mundo, deixando atrás de si, rastros de sabedoria em como lidar com essas duas forças. A prova de que isto seja possível encontra-se no legado desses homens e mulheres que até hoje norteiam nossas ações. Alfred Nobel foi um exemplo nobre de dedicação à humanidade. A influência de Bertha Kinsky foi decisiva, ao lhe transmitir seus ideais pacifistas, o que contribuiu para a criação de uma fundação com o seu nome, que promovesse o bem-estar da Humanidade. O prêmio Nobel é um pequeno exemplo de como o dinheiro, utilizado por cabeças inteligentes, mas que têm por guia o coração, pode ser uma glória ao invés do que tem sido considerado pelos que nao possuem a correta visão espiritual.
Como tudo que é material está circunscrito pelo poder do dinheiro, a conclusão nos faz conotá-lo como sendo o simbolo da matéria. O desprendimento de tudo que é material lança o ser humano ao outro extremo, o que nao é sensato nem lúcido. Somos expressões de nossas próprias ideias, manifestando, em nossos atos, convicções que viemos adquirindo ao longo do tempo. Quanto ao dinheiro não é diferente. Projetamos nele nossa crença que acaba por se manifestar circunstancialmente em nossos projetos de vida, em nossos sonhos e ideais. O dinheiro também é espírito e sofre influência da mente como sofre influência das manipulações mundo afora. Retorna em forma de felicidade como em forma de tragédias. Possui os gumes da faca e o poder dualista da eletricidade, do fogo e de todos os elementos que podem enriquecer a vida ou acabar com ela. Mata-se e morre-se pelo dinheiro; pelo dinheiro impérios são construídos por um lado enquanto, por outro, pela fome e degradação, nações, não abençoadas por um meio ambiente generoso, entram em decadência até a ruína total.
Nesse particular, a cor do sangue, a filiação divina, o humano, portador de espiritualidade e de um coração que também pulsa e sente, não podem ser levados em conta; esses detalhes são perda de tempo, são empecilhos intrometidos no caminho da industrialização.
As aspirações a um modo espiritualizado de vida não devem deixar de fora o bem estar que o dinheiro proporciona. A máquina industrial poderia fomentar, no homem ávido de projeção econômica, igualmente a sede por valores que transcendem a pura e simples aquisição de dinheiro. Visto que a morte é inevitável e imprevista, a caminhada rumo a um estado descontraído precisa fazer parte de toda e qualquer aspiração a fim de trazer o equilíbrio. Quando os homens que controlam o poder preencherem de ideias transparentes os rincões alcançados pelas manifestações de mídia; explicarem, em termos claros, exposições tais como ‘Deus seja louvado’ em notas de dinheiro e estabelecerem, nos locais de atividade profissional momentos de reflexão, programas de conscientização quanto às consequências deletérias do uso impróprio de riquezas teremos, acredito, menos chances de depauperação moral. No lugar onde se concentram pensamentos de nível elevado e incentivo a que outros se beneficiem dessa onda de paz que jamais pode ser encontrada na efemeridade material encontra-se a chave para a mudança. Forma-se aí um ambiente magnético advindo da reflexão nas coisas que realmente têm relevância.
Avalia-se comumente um homem pela quantidade de dinheiro que ele possui. Todos sabem quão errado é este tipo de conduta humana e não adianta querermos disfarçar esse ponto de vista; é isso mesmo o que acontece nas relações. Mesmo sabedores, contudo, da superficialidade contida neste procedimento, parece que a força da energia gerada por essa, digamos, superioridade financeira tira-nos a lucidez necessária a que tenhamos a avaliação correta. Homens influenciam outros homens por força da capacidade de comerem em um restaurante mais sofisticado, usarem as roupas de marca que se sobressaem diante do padrão ordinário e frequentarem locais acima da condição dos humildes. Tudo isto passaria despercebido ou seria aceito com naturalidade se não fosse a índole humana tão facilmente aviltada pelo impacto das diferenças sociais. Tudo isso gera no espírito uma propensão ao atraso na escala evolutiva. Têm-se no dinheiro uma ferramenta inigualável de ascensão espiritual. Ele é, sim, um fator de felicidade e independência. Nossa mente foi projetada de forma tal que podemos mudar, com sua influência, o rumo de todas as coisas. A mesma crença capaz de transformar um condenado por doença fatal em um indivíduo saudável ou um potencial fracassado em vencedor, também funciona em relação à força que exerce o dinheiro. Dá-se a ele o poder de realizar aquilo que o conduziu a crença, ou seja, o bem ou o mal, em função do pensamento ou vibração que eu permiti que o impregnasse.
Os desejos de um homem, acalentados ao longo de sua dedicação em busca do dinheiro situam-se, de modo geral, na esfera do puramente egoístico; o que contam são suas vontades e suas ambições. A lide da existência, no lugar de endereçar o esforçado aos anseios da alma o levam, com frequência, a busca de posses. Essa generalidade faz do ser um escravo da matéria. Daí surgem todas as espécies de conflitos; conflitos esses dissociados do caminho traçado pela Grande Vida, que é o do contínuo crescimento espiritual. Não é que o dinheiro em si ou as vontades associadas a ele sejam a causa direta do desencaminhamento. O criador foi sábio em seu projeto de ordenação, ao dar à criatura as chances de sobrepujar a ilusão sem desconhecê-la. O prêmio maior está no controle dos instintos carnais inerentes à imposição do veículo material. A felicidade com ou sem abundâncias só é possível ao ser encarnado esclarecido. Ele não precisa sofrer por incontinências se sua conscientização abstrair-se das plêiades que se destacam por interesses próprios. Dinheiro pode ser arma ou instrumento de redenção.