ensaio | O LAPSO
A sala descrevia-se apenas como um simples cômodo, as paredes pintadas de branco, a porta. Sem janelas, sem teto. Uma cama, fogo para cozinhar, comida e roupas encontravam-se aos cantos. Era um quadrado em uma planície vasta. Seria desesperador não ter ali presente o brilho dos astros, a pulsão da luz.
O brilho do raio fez elevar a mente ao estado sensível, onde poderia ferir-se sem ao menos sentir, pois a concepção de fim, quebra, o lapso na consciência, aplicou-se como lei de sobrevivência. A introdução desse lapso, onde a completa diluição do ego se faz por valer, torna então o instinto o sentido predominante na consciência, desgarrando-se das sensibilidades carnais e da concepção de consequência. Ação gera reação, e no campo que condiz a psique humana, o lapso nessa atividade exterioriza-se como o reflexo. Por assim dizer, o ego superior tenta restabelecer essa conexão, bastando-se apenas dos valores sociais, éticos e morais do indivíduo para que ocorra a retomada do ego no âmbito da razão.
Hipoteticamente falando, surgindo daí nos ancestrais do homo sapiens o desejo de desvendar aquele fenômeno, a liberação de criatividade iniciou-se com as indagações, e uma figura superior fora atribuída ao remetente destas imagens que nos é processada na cabeça.
Postado em frente ao espelho o homem se analisou, olhou ao céu e focou em um ponto brilhante.
- O que? O que devo fazer? – a luz permaneceu ali, pulsando.
Parecia interpretar o ritmo das pulsões, se valia dos conselhos da luz para que escolhesse o que vestir, o que comer, e quando dormir.
- Sinto vontade de sair – e interpretando a luz, o homem deprimiu-se com a negação.
Deitado, após boa refeição, o homem tornou a olhar os céus, e as estrelas pareciam mais opacas, tímidas, talvez estivessem…
- Não! As estrelas, elas estão se apagando! – esbravejou o homem – as estrelas!
As nuvens cobriam e assolavam com sombra e trevas sua cabeça, ajoelhou-se no chão, e desesperado, tentou cavar um buraco para refugiar-se da tempestade, socou os punhos no solo duro, fincou os dedos na terra e a despedaçou. Mas antes mesmo de adentrar o buraco o homem fora atingido por um raio, morrendo quase que instantaneamente.