Pequeno Ensaio Sobre Questões de Filosofia - parte 13
Não é que a religiosidade seja indispensável à vida. Pode-se viver satisfatoriamente sem se professar uma religião. Ela é um conceito superior de entendimento que traz tranquilidade ao colocar diante do homem conceitos e respostas que nem mesmo a filosofia tem a capacidade de conseguir. Buscar a verdade através da filosofia é um problema sério, pois as opiniões se cruzam espantosamente, trazendo ainda mais dúvida e insatisfação; é como querer saciar a sede ingerindo água do mar. Já a religião, embora apresente ramos, às vezes divergentes e até opostos, não contemporiza tanto e por isto, traz maior satisfação e maior paz.
O homem nasce, se desenvolve e encontra, em meio a todos os seus esforços para encontrar a felicidade, obstáculos dos mais diversos tipos. Creio que o maior é o desconhecimento de si mesmo. A vida parece tão atribulada que ele não vê tempo ou ânimo para ir além do trivial, materialmente falando. Confunde-se sucesso com posição social porque é feita a comparação com outros que cresceram e desfrutam de destaque nas relações com as outras pessoas. É onde o valor espiritual fica em segundo plano. Deus, religião e fé são vistos como um passatempo para quem não tem interesses mais urgentes e importantes.
Poucas pessoas conseguem desfrutar verdadeiramente a felicidade; ela parece uma utopia na cabeça da maioria. A paz de espírito é o maior bem que se pode desejar e só pode ser alcançada através do viver cotidiano. É nas pequenas coisas que está contido o germe do grandioso. Vencer nas pequeninas coisas é tão importante quanto as grandes vitórias. A melhor filosofia de vida tem a ver com o bom relacionamento social. Se pensarmos a fundo veremos que todos, sem exceção querem ser amados e compreendidos. Julgar-se o centro do universo é o melhor caminho para a arrogância.
Não há ser humano na face da terra que um dia não tenha feito a si mesmo aquela pergunta básica: quem sou? De onde eu vim? Para onde eu vou? Como não há aquele que tenha respondido satisfatoriamente a essas questões. O propósito de se estar vivendo pode diferenciar entre um e outro ser humano, mas ele é básico. A vida tem que ser sempre o presente. Sonhos grandiosos que não levam em conta a melhoria das condições do planeta e pairam na esfera do individual só tendem a deixar frustrações e uma sensação de vazio logo que sejam realizados. É porque o ser percebe que há algo além de viver só para si.
As religiões estão sempre falando do amor ao próximo e o do amor a Deus sob todas as coisas. Existe aquele amor a tudo que vemos e que temos, portanto certeza e prova de sua existência. Amar o invisível, para alguns, assemelha-se a enganar a si próprio acreditando em algo que não existe; daí torna-se consequência natural dedicar o amor a um ser próximo cujo contato ou presença física é a garantia de que praticamos o amor verdadeiro, o de um ser humano direcionado a outro ser humano. Tudo isto está muito bem e é aceitável dentro da escala física que representa o eu e o outro. A ampliação desse conceito é o que vai trazer maior interesse à vida e ampliar o leque de felicidade porque se sai do medíocre para o mundo das possibilidades.
O homem possui dentro de si uma mente, manadeiro de criatividade e sabedoria que em nenhum outro lugar poderá ser encontrado. Quando pesquisamos a vida acabamos dando continuidade à tendência de deixar inexplorado este lado fantástico da natureza de todas as coisas.
Se estudarmos com afinco os conceitos básicos, as orientações e mesmo os dogmas de uma religião e não deixarmos nossas opiniões formadas interferirem em nossa análise, acabaremos por penetrar em sua essência e entender os sentimentos que levaram o fundador a querer divulgá-la.
Se deixarmos que nossas ideias vulgares sobre a vida, sobre aquilo que captamos pelos cinco sentidos e aquilo que vemos no mundo em forma de sagacidade influenciar nossa análise vai ocorrer o seguinte: não haverá evolução para nós além da que o mundo nos oferece. O que se deixa influenciar pelos conceitos vigentes porque são os que estão com a maioria fará sempre parte da manada cega que acompanha o condutor. Nessas circunstâncias abrir os olhos significa querer sabedoria e essa só vem quando atendemos ao apelo da alma. Sem querer emitir ideias de protecionismo ou adesão vejo o fundador de uma religião como um ser especial que possui a capacidade de se diferenciar. Ele está em constante contato com as verdades da vida. Estuda profundamente as causas que levam o homem ao sofrimento, consegue arrebanhar multidões que congregam suas ideias e é notório que já contribuiu para modificar para melhor inúmeras vidas; por que eu os classificaria como seres desonestos e espertalhões?
Isto é apenas uma questão de lógica e raciocínio. Seriamos tolos ao extremo se fôssemos generalizar os fatos. Não há dúvidas de que existem os aproveitadores da fé e do sofrimento humanos para se beneficiarem; esses existem e é certo que colherão as consequências do mal que empreendem, mas seu número é pequeno e suas ações não possuem força para anular os benefícios das ações do bem. O líder de uma religião precisa ser, e geralmente é, uma pessoa diferenciada em seu comportamento e em sua atitude perante a vida. O fato de sofrer perseguições está dentro da normalidade do que é o nosso mundo. O cerne da questão vem a ser o ponto de vista presente no homem comum; ele é materialista sob todos os aspectos. Daí surge a necessidade da busca, do estudo desvinculado das ideias pré-concebidas e das influências externas.
A importância de conhecer o poder da mente resulta nesse ponto fundamental. O conceito materialista de que o homem é corpo físico está impregnado no imo da natureza humana. Libertar-se dessa ideia errada é que é o x da questão. Enquanto pensar que não passa de um aglomerado de matéria, que o espírito é apenas imaginação e que a mente não vai além da energia gerada pela força do cérebro o homem não vai evoluir para além do que se encontra agora.