Genética

A confirmação das ideias de Mendel concomitante à descoberta do código genético inscrito nos cromossomos generalizou uma crença fortíssima, embora completamente injustificada, de que TODA a informação genética herdada pelos indivíduos estaria inscrita nesse código.

De fato, a compreensão da genética pressupõe a ideia de uma "receita para a construção do ser", algo análogo, em certa medida, a um programa de computador contendo as especificações para a construção do novo ser, acrescido das ferramentas necessárias para a execução do projeto especificado.

Tais especificações, muito provavelmente, não se baseiam em medidas-padrão previamente estabelecidas, análogas à definição de grandezas como "metro", mas, provavelmente, utilizam-se de medidas definidas de modo endógeno, como "palmo"; não haveria uma definição prévia do comprimento de um palmo, mas a especificação de como obter um palmo, imprimindo a mão espalmada sobre a região a ser medida. Tais especificações devem estar, muitas vezes, nas próprias ferramentas utilizadas para a construção do ser, de modo que cada “semente”, ou embrião, traz embutida a especificação de suas medidas padrão, a especificação do que será interpretado como “palmo”, por exemplo.

Obviamente, a construção dos seres não se vale da medida de palmos, mas, muito provavelmente, usa instrumentos de medidas análogos às mãos, e já presentes na célula original. Para delimitar o tamanho de uma dada estrutura a ser construída, o procedimento não se vale de uma definição prévia de comprimento, estipulada em alguma unidade definida externamente, mas utiliza alguma definição interna, como o tamanho de algo já pronto, podendo também utilizar a repetição de uma dada ação, como a construção da molécula constituinte de um polímero e repetida certo número de vezes.

Tal ação equivaleria, quase, à definição de uma grandeza externa, e é viável. Os seres vivos, no entanto, muito provavelmente usam os dois tipos de ação, privilegiando, provavelmente o número de repetições para a construção de pequenas moléculas, ou moldes precisos para elas, e utilizando padrões analógicos análogos ao palmo e definidos por grandezas presentes na célula original, ou em estruturas construídas, ou mesmo encontradas, posteriormente, já no meio em que o ser se desenvolve. Tais padrões teriam que ser herdados dos ancestrais, juntamente com o código genético.

Não apenas os instrumentos de medida análogos a réguas deverão ser herdados. A herança prévia de outras ferramentas utilizadas na construção do ser, facilitarão enormemente esse processo, sendo, portanto, muito provavelmente, frequentemente herdadas, também.

Desse modo, uma descrição genética completa, quero dizer: a descrição de tudo aquilo que deve ter sido herdado por um ser para que tenha sido possível a ele se construir a si mesmo, (aquilo a que chamei alhures, o “genótipo estendido”) deve incluir, além do software especificado pelo genoma do indivíduo e tratado pela genética tradicional, também as especificações das ferramentas utilizadas pela autoconstrução dos seres, e herdadas por eles de seus ancestrais.