O SEGREDO DA MAÇONARIA
O método da Maçonaria
O que se busca no ensinamento maçônico é a iluminação. Esse é o elo existente entre a prática da Arte Real e os antigos Mistérios arcanos. É nesse sentido que a Maçonaria pode ser considerada como herdeira da cultura simbólica dos antigos povos que cultuavam os arquétipos hospedados no inconsciente coletivo da humanidade sem o saber, e dos fenômenos e forças da natureza faziam seus deuses, erguendo para eles suntuosos templos.
Não há na Maçonaria um modelo filosófico a ser seguido nem uma orientação religiosa imposta como paradigma. Por essa razão os fundamentos da sua prática estão assentados em símbolos, lendas e alegorias, e sua aprendizagem se dá através do método iniciático. Esse método exige do seu praticante um espírito aberto e avesso a dogmas, já que ele terá que trabalhar com temas esotéricos e exotéricos ao mesmo tempo, ora tratando-os pragmaticamente como orientação para a vida prática, ora especulativamente como orientação espiritual, mas nunca sem perder o senso de realidade e utilidade que tais temas encerram para a realização do aprendizado.
Método iniciático, ou psicológico é aquele segundo o qual os ensinamentos não são dirigidos à razão do aprendiz, mas ao seu inconsciente. Por isso, o catecismo maçônico não segue a organização epistemológica própria de uma ciência ou doutrina, como seria de praxe em qualquer forma de aprendizado. O aprendiz maçom deve participar desses ensinamentos através de repetidas iniciações, que têm como objetivo "impressionar” o seu espírito e levá-lo, mais a “sentir” o ensinamento, do que propriamente compreender a sua lógica.
O método iniciático é próprio para o ensino das doutrinas esotéricas. Ele é muito utilizado no estudo da filosofia, para estimular a mente na obtenção dos chamados insights (descobertas, iluminação), que são súbitas manifestações do nosso inconsciente, que levam para o consciente a notícia de conhecimentosque ali estão armazenados sem que deles tenhamos nos apercebido. O exemplo mais perfeito de ensino pelo método iniciático é o budismo zen, onde a quase totalidade da doutrina é transmitida através de koans, tipo de mensagem dirigida ao inconsciente do aluno. Uma forma bem elaborada de koan é a fórmula poética conhecida como haikai, onde o poeta, em três versos livres, com dezessete sílabas, exprime um insight.[1]
A necessidade da Iniciação
O método iniciático, como o próprio termo revela, é aquele que exige uma iniciação. Diferente das disciplinas acadêmicas, onde a mente do estudante é submetida a um conjunto lógico de conhecimentos encadeados, aqui é o inconsciente do estudante que é alimentado por uma série de informações codificadas em símbolos, alegorias, mensagens cifradas, parábolas e outras formas de linguagem, algumas delas não verbais, como os ritos e cerimônias que são praticados em sociedades como a Maçonaria, e nas mais diversas formas de religião.
Todas as religiões têm a sua forma de iniciação: batismos, purificações, viagens simbólicas, ritos de admissão e passagens de grau, etc. Todas essas práticas nada mais são que fórmulas ritualísticas diversas que visam abrir a porta da mente do iniciado para os conteúdos sutis do ensinamento que ele vai receber.
E seja qual for a forma de iniciação, ela contém elementos que são comuns a todas as crenças, pois elas provém de uma mesma origem e servem a uma finalidade semelhante, que é impressionar o espírito do praticante, preparando-o para ser o recipiendário de um conhecimento que se fundamenta mais na sua sensibilidade do que na razão. Aliás, uma crença que precisa ser fundamentada não é crença, mas filosofia. Um ritual que precisa ser explicado não é ritual, mas técnica.
A morte ritual
Todas as antigas iniciações começavam com uma morte ritual, que encerrava uma visita à escuridão total, para que dela o iniciando pudesse renascer como semente fecundada pelos raios solares, pronta para iniciar uma caminhada em direção à luz.
Porque essa era a idéia, extraída da observação da natureza, que os antigos mestres do conhecimento arcano faziam do processo que dá origem à vida: uma semente é posta no útero da terra, como se fosse um corpo posto em sepultura; ali ela é regenerada pelos nutrientes da terra e a ação do calor do sol; recomposta, ela atravessa a escuridão começando uma jornada em busca da luz. Para a vida encerrada na semente, brotar significa sair para a luz do sol, ou seja, reviver. O homem novo, renovado, renascido em função da nova crença, é um Lázaro ressuscitado das trevas, que vence a morte psíquica, reencarnando para uma nova vida.[2]
Segundo antigas tradições, a prática da iniciação começou em eras anteriores a atual raça adâmica (que é a nossa), com os atlantes. Quando a degeneração daquela raça ocorreu, os sábios daquele povo resolveram ocultar do vulgo os grandes segredos que fizeram o esplendor daquela civilização e somente comunicá-los a poucos escolhidos, que se mostraram dignos de compartilhar deles. Os grandes heróis dos mitos vedantas, gregos, babilônicos, judaicos e outros, foram alguns desses escolhidos. Depois os Mistérios da Iniciação foram trazidos da Atlântida pelos arianos e incorporados à tradição de vários povos, entre os quais os hindus, os egípcios, os caldeus e outros povos antigos.[3]
Nos tempos pré-históricos, a iniciação não comportava nenhum dogma e não tinha qualquer relação com temas escatológicos. Eram praticados através de festivais populares, que chegaram até nós através dos ritos conhecidos como Mistérios.[4] No entanto, tais Mistérios constituíam a verdadeira religião daqueles povos, ou seja, uma disciplina metafísica (no sentido filosófico) e religiosa ao mesmo tempo, na qual se procurava reproduzir os processos naturais pelos quais a divindade se manifesta no mundo da matéria física. Era uma imitação da atividade dos deuses na produção dos eventos naturais. Com o passar dos tempos, a prática dos Mistérios deixou de ser apenas uma manifestação de religiosidade arcana e laicizou-se, invadindo o território da cultura popular e do próprio sistema educacional. É assim que vamos encontrar no antigo Egito, entre os povos da Mesopotâmia e na Índia dos brâmanes, e depois na Grécia clássica, Os Grandes Mistérios funcionando como escola de formação de líderes, onde se ensinavam as ciências, as artes, a filosofia, o direito, a medicina, e principalmente o respeito pela grande Mãe Natureza. Os templos aos deuses que presidiam esses Mistérios passaram a funcionar como verdadeiras universidades onde o saber acumulado por essas sociedades era desenvolvido e preservado.
Tudo quanto de bom, nobre e verdadeiro há na natureza humana, seja em termos de virtudes éticas e morais, seja como aspirações divinas, era cultivado pelas antigas sociedades iniciáticas em seus Mistérios. Daí o fato de essas antigas práticas, que no início eram essencialmente religiosas, se tornarem verdadeiras instituições, venerada pelos povos e consagrada pelos estados onde eram praticadas. Essa é a razão de os Antigos Mistérios remanescerem nos ritos praticados pela Maçonaria como memória de um tempo em que as Grandes Luzes da raça humana eram os iniciados nessas práticas. Como herdeira dessas antigas tradições, a ciência maçônica visa salvaguardar essa conquista cultural do espírito humano, imitando, no quanto ainda é possível, essas instituições. Daí o simbolismo de seus rituais, cujo verdadeiro significado, muitas vezes é ignorado até pelos seus próprios praticantes.
Uma jornada em busca da Luz
Da mesma forma que a nossa existência como seres humanos tem o seu início com a abertura dos olhos para o mundo, iluminado pelo sol, a verdadeira vida do espírito também começa no momento em que os nossos olhos são feridos pela luz do nosso próprio sol interior. Até então temos um espírito que habita em uma caverna, em meio á trevas, e como na metáfora de Platão, ele é como uma semente que não emergiu para a vida. Tudo que ele conhece são apenas sombras dos seus próprios pensamentos. Somente quando ele deixa a caverna e recebe a luz do sol é que passa a ter conciência de si mesmo e de tudo que o rodeia. Isso é iluminação.
Em consequência, a vida, tanto da carne, quanto do espírito, é o resultado do nosso encontro com a luz. Essa idéia estava no centro das doutrinas que informavam as religiões antigas . Por isso iremos encontrar em todas essas manifestações espirituais a busca desesperada pela luz, e como consequência desse anelo, o culto áquele que a gera, o Sol. Assim, o Sol tornou-se a deidade central em todas essas crenças, razão pela qual esses cultos são chamados cultos solares.
No Egito antigo, por exemplo, essa idéia envolvia não só as crenças religiosas do país, mas tinha implicações políticas e sociais importantes. O faraó era considerado o Filho do Sol. Seu poder não vinha de nenhuma relação política e hierárquica temporal, mas do próprio astro rei, (o deus Rá), por isso seu poder era supremo. Daí o caráter teocrático do seu governo e a duração extremamente longa da instituição faraônica, que sobreviveu enquanto a crença nos poderes do Sol e na transmissão desse poder aos seus filhos na terra encontrou adeptos.
Nos Upanixades, um dos livros sagrado da religião hindu se diz que o sol é o pai da vida e a lua a sua mãe. Da união dos dois nasceu a Criação. O filósofo Aristóteles também dizia que “o homem e o sol geram a vida”, emprestando assim a sua respeitada opinião ao culto do mito solar. Até o Cristianismo, embora seus teólogos tentassem apagar os traços da sua origem solar, sofreu a influência dessas ideias arquetípicas. Jesus, para algumas seitas gnósticas, era considerado uma divindade solar. Sua identificação com o Sol aparece principalmente no Evangelho de João onde se afirma que Jesus é a Luz do mundo.[5]
A própria Igreja Católica se aproveitou das tradições cultivadas pelas religiões solares para firmar alguns dogmas e datas do Cristianismo. O dia 25 de dezembro, dado como sendo o dia do nascimento de Jesus, é uma data que tem correspondência em várias religiões solares, como por exemplo, o Mitraísmo, que tem esse dia como sendo o dia do nascimento de Mitra.[6] Na religião egípcia essa data também corresponde ao nascimento de Hórus, o filho de Isis e Osíris; na religião hindu, ela corresponde à data do nascimento do deus Krishna, etc. Todos esses deuses, coincidentemente, foram concebidos e nasceram de forma miraculosa, semelhante à que foi atribuída a Jesus.
É oportuno também lembrar que em certos círculos teológicos antigos, Cristo era um ser solar e seus discípulos simbolizavam os doze signos do zodíaco. Assim, o arquétipo inspirador do personagem Jesus Cristo não era uma intuição puramente judaico-cristã, como comumente se pensa, mas uma tradição compartilhada por quase todos os antigos povos. E foi essa identificação com o mito solar, e o fato de a figura do Cristo ser uma noção compartilhada pelo Inconsciente Coletivo da humanidade que ajudou os doutrinadores cristãos a fazer do Cristianismo uma religião, muito popular no Império Romano. Daí a tese, defendida principalmente por historiadores alemães, de que o verdadeiro fundador do Cristianismo é o apóstolo Paulo. Quando Jesus fracassou como o Messias judeu, dizem esses historiadores, Paulo pegou a sua experiência e desenvolveu uma doutrina nova, fundindo a tradição judaica do Messias com a idéia do Cristo universal, um arquétipo que os filósofos neoplatônicos tinham idealizado como catalizador das forças cósmicas, para levar o mundo á salvação, como antes já havia sido pregado por Zoroastro e pelos adeptos da doutrina de Mitra.
Como essa idéia tinha uma similitude bastante próxima à doutrina pregada por Jesus, não foi difícil ao arguto rabino de Tarsus criar uma nova e instigante teologia, e assim torná-la palatável à grande maioria dos povos do Império Romano.
Dessa forma, o Cristianismo, em sua origem e no seu fundamento escatológico, também é um culto solar.
A pedra filosofal dos maçons
O simbolismo da busca pela Luz tem uma clara correspondência na prática da alquimia, onde a obtenção da pedra filosofal é a “iluminação” final do adepto. Na moderna ciência física ele também se aplica, sendo o insight do cientista o seu momento de luz. [7]
Sendo a Maçonaria a herdeira da promessa contida no escopo dessas antigas religiões, não é estranho encontrar no conjunto da suas tradições uma profusão de referências a essas duas forças da natureza, geradoras da vida, que são a Luz e o Sol. Por isso encontraremos, em todos os Templos maçônicos claras alusões a esse simbolismo, que faz do Sol o centro irradiador da luz do mundo. E na figura do Venerável Mestre, posto em seu trono, no Oriente, está a representação desse poder irradiadiante, que se reflete para todo o Ocidente, onde o mundo maçônico se realiza por força dessa "luz" que dele é refletida.
Justifica-se, dessa forma, dizer do Irmão que procura iniciação nos Augustos Mistérios maçônicos, que ele é “um pobre candidato que caminha nas trevas, e despojado de todas as vaidades, deseja receber a Luz", como consta do seus Rituais de iniciação.
E a Luz lhe é dada, pelo toque da Espada Flamígera, em presença dos Irmãos como corolário de uma jornada na qual o seu espírito venceu as trevas e despontou para um novo dia, pronto para trabalhar no canteiro de obras mais nobre da terra. Essa será a sua missão, a sua tarefa enquanto maçom.
É dessa forma que nós também vemos a escalada do maçom pela Escada de Jacó. Como diziam os adeptos da Maçonaria espiritualista praticada pela Sociedade de Thule, essa é uma experiência que o espírito humano empreende pelo Cosmo em busca pelo seu Vril particular.[8]
O método da Maçonaria
O que se busca no ensinamento maçônico é a iluminação. Esse é o elo existente entre a prática da Arte Real e os antigos Mistérios arcanos. É nesse sentido que a Maçonaria pode ser considerada como herdeira da cultura simbólica dos antigos povos que cultuavam os arquétipos hospedados no inconsciente coletivo da humanidade sem o saber, e dos fenômenos e forças da natureza faziam seus deuses, erguendo para eles suntuosos templos.
Não há na Maçonaria um modelo filosófico a ser seguido nem uma orientação religiosa imposta como paradigma. Por essa razão os fundamentos da sua prática estão assentados em símbolos, lendas e alegorias, e sua aprendizagem se dá através do método iniciático. Esse método exige do seu praticante um espírito aberto e avesso a dogmas, já que ele terá que trabalhar com temas esotéricos e exotéricos ao mesmo tempo, ora tratando-os pragmaticamente como orientação para a vida prática, ora especulativamente como orientação espiritual, mas nunca sem perder o senso de realidade e utilidade que tais temas encerram para a realização do aprendizado.
Método iniciático, ou psicológico é aquele segundo o qual os ensinamentos não são dirigidos à razão do aprendiz, mas ao seu inconsciente. Por isso, o catecismo maçônico não segue a organização epistemológica própria de uma ciência ou doutrina, como seria de praxe em qualquer forma de aprendizado. O aprendiz maçom deve participar desses ensinamentos através de repetidas iniciações, que têm como objetivo "impressionar” o seu espírito e levá-lo, mais a “sentir” o ensinamento, do que propriamente compreender a sua lógica.
O método iniciático é próprio para o ensino das doutrinas esotéricas. Ele é muito utilizado no estudo da filosofia, para estimular a mente na obtenção dos chamados insights (descobertas, iluminação), que são súbitas manifestações do nosso inconsciente, que levam para o consciente a notícia de conhecimentosque ali estão armazenados sem que deles tenhamos nos apercebido. O exemplo mais perfeito de ensino pelo método iniciático é o budismo zen, onde a quase totalidade da doutrina é transmitida através de koans, tipo de mensagem dirigida ao inconsciente do aluno. Uma forma bem elaborada de koan é a fórmula poética conhecida como haikai, onde o poeta, em três versos livres, com dezessete sílabas, exprime um insight.[1]
A necessidade da Iniciação
O método iniciático, como o próprio termo revela, é aquele que exige uma iniciação. Diferente das disciplinas acadêmicas, onde a mente do estudante é submetida a um conjunto lógico de conhecimentos encadeados, aqui é o inconsciente do estudante que é alimentado por uma série de informações codificadas em símbolos, alegorias, mensagens cifradas, parábolas e outras formas de linguagem, algumas delas não verbais, como os ritos e cerimônias que são praticados em sociedades como a Maçonaria, e nas mais diversas formas de religião.
Todas as religiões têm a sua forma de iniciação: batismos, purificações, viagens simbólicas, ritos de admissão e passagens de grau, etc. Todas essas práticas nada mais são que fórmulas ritualísticas diversas que visam abrir a porta da mente do iniciado para os conteúdos sutis do ensinamento que ele vai receber.
E seja qual for a forma de iniciação, ela contém elementos que são comuns a todas as crenças, pois elas provém de uma mesma origem e servem a uma finalidade semelhante, que é impressionar o espírito do praticante, preparando-o para ser o recipiendário de um conhecimento que se fundamenta mais na sua sensibilidade do que na razão. Aliás, uma crença que precisa ser fundamentada não é crença, mas filosofia. Um ritual que precisa ser explicado não é ritual, mas técnica.
A morte ritual
Todas as antigas iniciações começavam com uma morte ritual, que encerrava uma visita à escuridão total, para que dela o iniciando pudesse renascer como semente fecundada pelos raios solares, pronta para iniciar uma caminhada em direção à luz.
Porque essa era a idéia, extraída da observação da natureza, que os antigos mestres do conhecimento arcano faziam do processo que dá origem à vida: uma semente é posta no útero da terra, como se fosse um corpo posto em sepultura; ali ela é regenerada pelos nutrientes da terra e a ação do calor do sol; recomposta, ela atravessa a escuridão começando uma jornada em busca da luz. Para a vida encerrada na semente, brotar significa sair para a luz do sol, ou seja, reviver. O homem novo, renovado, renascido em função da nova crença, é um Lázaro ressuscitado das trevas, que vence a morte psíquica, reencarnando para uma nova vida.[2]
Segundo antigas tradições, a prática da iniciação começou em eras anteriores a atual raça adâmica (que é a nossa), com os atlantes. Quando a degeneração daquela raça ocorreu, os sábios daquele povo resolveram ocultar do vulgo os grandes segredos que fizeram o esplendor daquela civilização e somente comunicá-los a poucos escolhidos, que se mostraram dignos de compartilhar deles. Os grandes heróis dos mitos vedantas, gregos, babilônicos, judaicos e outros, foram alguns desses escolhidos. Depois os Mistérios da Iniciação foram trazidos da Atlântida pelos arianos e incorporados à tradição de vários povos, entre os quais os hindus, os egípcios, os caldeus e outros povos antigos.[3]
Nos tempos pré-históricos, a iniciação não comportava nenhum dogma e não tinha qualquer relação com temas escatológicos. Eram praticados através de festivais populares, que chegaram até nós através dos ritos conhecidos como Mistérios.[4] No entanto, tais Mistérios constituíam a verdadeira religião daqueles povos, ou seja, uma disciplina metafísica (no sentido filosófico) e religiosa ao mesmo tempo, na qual se procurava reproduzir os processos naturais pelos quais a divindade se manifesta no mundo da matéria física. Era uma imitação da atividade dos deuses na produção dos eventos naturais. Com o passar dos tempos, a prática dos Mistérios deixou de ser apenas uma manifestação de religiosidade arcana e laicizou-se, invadindo o território da cultura popular e do próprio sistema educacional. É assim que vamos encontrar no antigo Egito, entre os povos da Mesopotâmia e na Índia dos brâmanes, e depois na Grécia clássica, Os Grandes Mistérios funcionando como escola de formação de líderes, onde se ensinavam as ciências, as artes, a filosofia, o direito, a medicina, e principalmente o respeito pela grande Mãe Natureza. Os templos aos deuses que presidiam esses Mistérios passaram a funcionar como verdadeiras universidades onde o saber acumulado por essas sociedades era desenvolvido e preservado.
Tudo quanto de bom, nobre e verdadeiro há na natureza humana, seja em termos de virtudes éticas e morais, seja como aspirações divinas, era cultivado pelas antigas sociedades iniciáticas em seus Mistérios. Daí o fato de essas antigas práticas, que no início eram essencialmente religiosas, se tornarem verdadeiras instituições, venerada pelos povos e consagrada pelos estados onde eram praticadas. Essa é a razão de os Antigos Mistérios remanescerem nos ritos praticados pela Maçonaria como memória de um tempo em que as Grandes Luzes da raça humana eram os iniciados nessas práticas. Como herdeira dessas antigas tradições, a ciência maçônica visa salvaguardar essa conquista cultural do espírito humano, imitando, no quanto ainda é possível, essas instituições. Daí o simbolismo de seus rituais, cujo verdadeiro significado, muitas vezes é ignorado até pelos seus próprios praticantes.
Uma jornada em busca da Luz
Da mesma forma que a nossa existência como seres humanos tem o seu início com a abertura dos olhos para o mundo, iluminado pelo sol, a verdadeira vida do espírito também começa no momento em que os nossos olhos são feridos pela luz do nosso próprio sol interior. Até então temos um espírito que habita em uma caverna, em meio á trevas, e como na metáfora de Platão, ele é como uma semente que não emergiu para a vida. Tudo que ele conhece são apenas sombras dos seus próprios pensamentos. Somente quando ele deixa a caverna e recebe a luz do sol é que passa a ter conciência de si mesmo e de tudo que o rodeia. Isso é iluminação.
Em consequência, a vida, tanto da carne, quanto do espírito, é o resultado do nosso encontro com a luz. Essa idéia estava no centro das doutrinas que informavam as religiões antigas . Por isso iremos encontrar em todas essas manifestações espirituais a busca desesperada pela luz, e como consequência desse anelo, o culto áquele que a gera, o Sol. Assim, o Sol tornou-se a deidade central em todas essas crenças, razão pela qual esses cultos são chamados cultos solares.
No Egito antigo, por exemplo, essa idéia envolvia não só as crenças religiosas do país, mas tinha implicações políticas e sociais importantes. O faraó era considerado o Filho do Sol. Seu poder não vinha de nenhuma relação política e hierárquica temporal, mas do próprio astro rei, (o deus Rá), por isso seu poder era supremo. Daí o caráter teocrático do seu governo e a duração extremamente longa da instituição faraônica, que sobreviveu enquanto a crença nos poderes do Sol e na transmissão desse poder aos seus filhos na terra encontrou adeptos.
Nos Upanixades, um dos livros sagrado da religião hindu se diz que o sol é o pai da vida e a lua a sua mãe. Da união dos dois nasceu a Criação. O filósofo Aristóteles também dizia que “o homem e o sol geram a vida”, emprestando assim a sua respeitada opinião ao culto do mito solar. Até o Cristianismo, embora seus teólogos tentassem apagar os traços da sua origem solar, sofreu a influência dessas ideias arquetípicas. Jesus, para algumas seitas gnósticas, era considerado uma divindade solar. Sua identificação com o Sol aparece principalmente no Evangelho de João onde se afirma que Jesus é a Luz do mundo.[5]
A própria Igreja Católica se aproveitou das tradições cultivadas pelas religiões solares para firmar alguns dogmas e datas do Cristianismo. O dia 25 de dezembro, dado como sendo o dia do nascimento de Jesus, é uma data que tem correspondência em várias religiões solares, como por exemplo, o Mitraísmo, que tem esse dia como sendo o dia do nascimento de Mitra.[6] Na religião egípcia essa data também corresponde ao nascimento de Hórus, o filho de Isis e Osíris; na religião hindu, ela corresponde à data do nascimento do deus Krishna, etc. Todos esses deuses, coincidentemente, foram concebidos e nasceram de forma miraculosa, semelhante à que foi atribuída a Jesus.
É oportuno também lembrar que em certos círculos teológicos antigos, Cristo era um ser solar e seus discípulos simbolizavam os doze signos do zodíaco. Assim, o arquétipo inspirador do personagem Jesus Cristo não era uma intuição puramente judaico-cristã, como comumente se pensa, mas uma tradição compartilhada por quase todos os antigos povos. E foi essa identificação com o mito solar, e o fato de a figura do Cristo ser uma noção compartilhada pelo Inconsciente Coletivo da humanidade que ajudou os doutrinadores cristãos a fazer do Cristianismo uma religião, muito popular no Império Romano. Daí a tese, defendida principalmente por historiadores alemães, de que o verdadeiro fundador do Cristianismo é o apóstolo Paulo. Quando Jesus fracassou como o Messias judeu, dizem esses historiadores, Paulo pegou a sua experiência e desenvolveu uma doutrina nova, fundindo a tradição judaica do Messias com a idéia do Cristo universal, um arquétipo que os filósofos neoplatônicos tinham idealizado como catalizador das forças cósmicas, para levar o mundo á salvação, como antes já havia sido pregado por Zoroastro e pelos adeptos da doutrina de Mitra.
Como essa idéia tinha uma similitude bastante próxima à doutrina pregada por Jesus, não foi difícil ao arguto rabino de Tarsus criar uma nova e instigante teologia, e assim torná-la palatável à grande maioria dos povos do Império Romano.
Dessa forma, o Cristianismo, em sua origem e no seu fundamento escatológico, também é um culto solar.
A pedra filosofal dos maçons
O simbolismo da busca pela Luz tem uma clara correspondência na prática da alquimia, onde a obtenção da pedra filosofal é a “iluminação” final do adepto. Na moderna ciência física ele também se aplica, sendo o insight do cientista o seu momento de luz. [7]
Sendo a Maçonaria a herdeira da promessa contida no escopo dessas antigas religiões, não é estranho encontrar no conjunto da suas tradições uma profusão de referências a essas duas forças da natureza, geradoras da vida, que são a Luz e o Sol. Por isso encontraremos, em todos os Templos maçônicos claras alusões a esse simbolismo, que faz do Sol o centro irradiador da luz do mundo. E na figura do Venerável Mestre, posto em seu trono, no Oriente, está a representação desse poder irradiadiante, que se reflete para todo o Ocidente, onde o mundo maçônico se realiza por força dessa "luz" que dele é refletida.
Justifica-se, dessa forma, dizer do Irmão que procura iniciação nos Augustos Mistérios maçônicos, que ele é “um pobre candidato que caminha nas trevas, e despojado de todas as vaidades, deseja receber a Luz", como consta do seus Rituais de iniciação.
E a Luz lhe é dada, pelo toque da Espada Flamígera, em presença dos Irmãos como corolário de uma jornada na qual o seu espírito venceu as trevas e despontou para um novo dia, pronto para trabalhar no canteiro de obras mais nobre da terra. Essa será a sua missão, a sua tarefa enquanto maçom.
É dessa forma que nós também vemos a escalada do maçom pela Escada de Jacó. Como diziam os adeptos da Maçonaria espiritualista praticada pela Sociedade de Thule, essa é uma experiência que o espírito humano empreende pelo Cosmo em busca pelo seu Vril particular.[8]
[1] Como nestes versos do poeta japonês Bashô (1644-1694) o rei do haikai: “Se olho atentamente/Vejo florir a flor nazuna/ Na fenda do muro.” Neste koan o poeta nos diz que é preciso estar atento para surpreender a natureza no momento exato da sua atividade criativa.
[2] É nesse sentido que entendemos as palavras de Jesus e o episódio da ressurreição de Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim não morrerá.”. Essa é a razão de muitos historiadores acreditarem que a passagem referente à ressurreição de Lázaro se refere a um ritual de iniciação praticado pela seita fundada por Jesus e não um acontecimento histórico mesmo. Realmente, é estranho que um fato tão marcante como esse não tenha sido registrado pelos evangelhos sinóticos, mas apenas pelo evangelho gnóstico de João.
[3] Hércules, Gilgamés, Sansão, Aquiles, e os heróis dos Vedas, livros sagrados dos hindus, são alguns desses iniciados, escolhidos pelos deuses para compartilhar desses segredos arcanos. Sobre o sentido iniciático dos Doze Trabalhos de Hércules, veja-se o capítulo XII da nossa obra “Mestres do Universo”, publicada pela Biblioteca 24x7, 2010.
[4] Escatologia é a doutrina que trata da consumação do tempo e da finalidade da história humana.
[5] Eu sou a luz do mundo; o que me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida.” João, 8,12.
[6] Na verdade, essa data corresponde ao início do solstício de inverno no hemisfério norte, que se inicia no dia 23 de dezembro.
[7] Por isso o maçom e cientista Thomas Alva Edison, inventor da lâmpada elétrica, era chamado pelos irmãos da sua Loja como um “Irmão em busca da Luz.”.
[8] Vrill é uma forma energia que algumas sociedades ocultistas acreditam existir no interior da terra e no espírito do homem. Seria a essência da sua alma, ou seja, uma força que atua no núcleo da célula e a faz desenvolver-se para exercer as funções que lhe cabe. Seria algo semelhante á noção desenvolvida pela filosofia de Aristóteles, que ficou conhecida como "enteléquia", a nossa energia interior. A famosa Sociedade Thule, seita ocultista que supostamente teria orientado Adolf Hitler e incutido na sua mente febril a doutrina da superioridade da raça ariana teria desenvolvido pesquisas e ritos no sentido de capturar e utilizar essa energia para finalidades práticas. Daí a imensa potencialidade energética dos " guerreiros" nazistas, que não se detinham diante de nenhum obstáculo físico nem moral para a realização de seus objetivos.