NOSSOS PADRÕES DE SUCESSO
ENSAIO FILOSÓFICO N 44
Escrito pelo Bacharel em Teologia
Estudante de Religião e Filosofia e
Capelão Ev. Antonio F.Bispo
Nossos padrões de sucesso
O que define o sucesso ou fracasso de uma pessoa? A realização de suas metas de vida ou cumprimento das perspectivas de sucesso padronizadas pelo grupo onde ele estar inserido? Quem não atinge tais metas é exatamente um fracassado ou seria apenas um ser livre de padrões repetitivos e doentios de comportamento? O tamanho de um homem deve ser medido pelo número de conquistas exteriores adquiridas ou pelo seu nível de equilíbrio e descobertas interiores? Quanto influenciamos e quanto somos influenciados cada vez que compartilhamos nossos sentimentos com outras pessoas ? Vamos pensar um pouco...
O que seria sucesso para um cantor de funk ostentação? Seria sair em fotos de jornais ou em perfil de redes sociais, com óculos escuros, uma corrente de outro pesando quase um quilo, rodeado de varias bundas seminuas diferentes e um sorriso estampado no rosto? Pelo menos é isso que parece, já que quase todos fazem assim.
O que seria sucesso para um sertanejo universitário? Seria comprar carrões , encher de mulheres e depois criar musicas baseado em experiências de luxúria e vícios? Pelo menos é isso que parece, já que quase todos repetem esse padrão.
O que seria sucesso para um cantor ou pregador gospel? Seria ter num mês de 30 dias uma agenda com 50 shows para comparecer, não ter tempo para si, para sua família, para fazer o que se gosta, mas criando em si mesmo a falsa ilusão que estar sendo “um vaso usado por Deus” viver a aqui e acolá como mero fantoche? Pelo menos é isso que parece, já que quase todos fazem exatamente assim.
O que seria sucesso para a grande maioria dos políticos brasileiros? Desviar para si a maior quantidade possível de dinheiro público, fazer falsas promessas, manipular todos ao redor e depois adquirir um patrimônio 500 vezes maior do que o que poderia precisar para viver em sua curta estadia de vida nesse corpo? Pelo menos é isso que parece, já que quase todos fazem coisas semelhantes.
O que seria sucesso para um “homem garanhão” ou “mulher que passa o rodo”? Seduzir todos, transar com todos, enganarem todos, mentir a todos para depois chorar as escondidas na solidão por acabarem sem ninguém? Pelo menos é isso que parece, já que quase todos repetem esse padrão.
Percebe-se então, que na visão comum do ser, sucesso é apenas uma mera repetição de padrões sociais de um grupo, que fazemos movidos por comentários exteriores, com o intuito de sermos aceitos naquele grupo, criando uma falsa sensação de bem estar, segurança e superioridade.
Nota-se que nesse modelo comum de pensar, sucesso não é fazer o que se gosta, no tempo que se gosta, por que gosta ou quer, por que te faz bem, por que faz bem a outros, por que te fazer crescer, por que faz amadurecer, mas nesses padrões repetitivos de pensamento, sucesso é ser aceito por todos e elogiado por todos, ainda que você esteja fazendo algo que te maltrata e te tortura por dentro.
Nosso ser social, muito raramente consegue fazer algo livre de influencia externa. Quando temos ao nosso redor pessoas que nos amam, nos quer bem, cuida de nós de modo especial fazemos de tudo para agradá-las, retribuindo sua afeição, fazemos o que não gostamos ou queríamos, simplesmente para não ferir as perspectivas do outro em relação a nós. Assim jovens ilustres , saudáveis, com todo vigor sexual ativo, vão para conventos e seminários, fazem votos de castidades, renunciam suas vidas, fazem cursos que não querem, trabalham no que não gostam, jogam todo sua existência fora, apenas para agradar ao seu genitor, tutor, ou ser admirável que tem nestes um modo de viver uma vida que não viveu, ou de projetar nestes uma fama ou sucesso, para também serem aceitos e elogiados entre os seus.
Assim também quando ao nosso redor, temos pessoas que nos maltrata, nos persegue, nos oprime, nos humilha e nos põe para baixo, passamos então a fazer coisas que não queremos ou gostamos simplesmente para “dar o troco” ao nosso opressor. A força que nos move passa a ser o ódio, a vingança, a ira, a revolta, e desse modo sem perceber deixamos a vida escorrer por entre os dedos.
Os lugares mais doentios e perigosos para se construir uma idéia de sucesso, podem ser exatamente os grupos fechados, sejam eles políticos, religiosos, sindicatos, torcida organizada, ou simples associações, cujo líder proíba o diálogo com pessoas de outro grupo, que proíba outro tipo de literatura ou musica que não seja produzida por eles, que proíba a interpretação de pontos de vista de um mesmo ângulo que não seja o deles...Tais grupos, que poderiam ou dizem oferecer refugio, abrigo ou o caminho para os membros, acabam por escravizá-los, impedindo o crescimento e amadurecimento do ser como individuo, quando distorce a realidade dos fatos, tornando inimigo todo que não fazem parte de tal grupo. Daí então a necessidade de afiliação, e quando não conseguem passam a hostilizar os que antes convidavam para ser parte do seu grupo. O verdadeiro ame apenas a quem nos aceita e aborreça quem nos aborrece.
Desses grupos acima, tomemos como exemplo uma igreja evangélica: o que seria sucesso na visão de uma pessoa comum, freqüentadora desse ambiente? Estar em comunhão com a igreja seria a resposta. Daí perguntamos: o que seria estar em comunhão? Responde-se então: estar em obediência ao seu pastor e a palavra de Deus. Então pergunta-se: o que é obedecer a palavra de Deus? ??? A resposta triste que encontramos é que obedecer a palavra de Deus, geralmente é fazer aquilo que o líder do grupo entende ser a palavra de Deus, que irá variar no nível cultural, intelectual, social, moral, emocional, temperamental e financeiro do líder do grupo. Não há uma definição exata entre eles do que seja fazer a vontade de Deus, ainda que digam buscar na bíblia suas bases de fé, fazem ao oposto dela o tempo inteiro, já que o Cristo resumiu em “ame ao próximo como a ti mesmo”.
E o que é uma pessoa fracassada segundo esses próprios líderes religiosos? É um desviado, dizem eles! O que é um desviado? “Eles respondem: é sujeito que “caiu da graça”, “pecou”, “abandonou a igreja”, “saiu dos caminhos do senhor”, “vendeu sua alma ao diabo”, “ se rebelou contra o ungido do senhor” e hoje vive fora do caminhão as salvação!...Digno de pena é o que faz essa interpretação! Digno de pena é o que aceita essa interpretação. As vezes o maior presente do mundo que alguém pode dar a si mesmo é a saída por conta própria de grupos fechados e opressores que mais te domina do que ilumina! Desviar-se em certos casos, é tomar para si as rédeas de sua própria existência, ser responsável pelos seus atos, criador do seu destino e parar de por a culpa em divindades a razão do seu fracasso ou sucesso. Os maiores iluminados que já passou pela terra trazendo sabedoria foram alguns “desviado”, inclusive Jesus, que segundo o próprio registro dos evangelhos, se desviou dos padrões religiosos repetitivos de sua época, trouxe um novo jeito de as pessoas se ver em relação ao Criador, e mudou o curso da historia humana ocidental.
Há uma diferença gigantesca entre estar desviado e ser ímpio! Segundo o livro sagrado cristão chamado bíblia, não serão exatamente os “desviados” que serão punidos num futuro próximo. Serão os ímpios! Ímpios são os que cometem impiedade, os que vivem na prática consciente do mal, ou os que faltam com a compaixão, que podendo e tendo recursos para fazer o bem não o faz. Esses são os ímpios mesmo estando dentro de um grupo religioso. São eles que segundo o livro serão punidos e não exatamente os desviados. Desviado é o que sai do rumo. É o que abandona um caminho, um grupo, um segmento, uma ideologia, um modo ritmado de ser ou pensar. Nem todo desviado é ímpio, mas todo ímpio é um desviado, por que mesmo estando inserido em um grupo, vai de encontro aos ensinamentos e ideologias do próprio grupo, qual ele defende, mas não cumpre suas leis e faz por vontade própria.
Quem dera todos tivessem a coragem de se desviar de um grupo, ao perceber que os objetivos pelos quais esse grupo lutava também se desviou assim como os propósitos pelos quais o grupo fora fundado. Se alguns poucos tivessem a coragem de se desviar, não teríamos na igreja católica a mancha negra das cruzadas, da inquisição, das caças a bruxas, da infalibilidade papal, da repressão a ciência, e tantos outros erros cometidos ao longo de milênios. Se alguns poucos tivessem coragem de se desviar, não teríamos também as manchas negras em grandes partidos políticos que atualmente sangram nossa nação, cujo objetivo se perdeu há décadas mas os pobres iludidos que são alguns de seus “militantes” ingênuos, continuam a acreditar que ainda lutam pela “libertação” do Brasil. Se alguns poucos tivessem a coragem de se desviar, não teríamos grandes sugadores do salário alheio, usurpadores do patrimônio individual, malabaristas da fé e grandes hipócritas que se tornaram os mega pastores tele-evangelistas, curandeiros e defensores da teologia da prosperidade. Quem dera se em todo grupo crescesse o numero de “desviados” como cresce o numero de “convertidos”! Seria saudável a todo grupo. Todo equilíbrio é saudável. Todo extremismo é doentio!
Por que então esse medo de se rebelar, assumir a própria identidade, ser quem somos, e lutar por aquilo que realmente nos importa ou vale a pena? Exatamente pelo padrão repetitivo de sucesso. Se conformar que tem, ser indiferente a dor alheia, lutar por metas que valem menos que esterco de gato e ser “sociável” sem se rebelar contra o sistema, também é um padrão natural de sucesso. Não estou convidando ninguém a anarquia nem a quebrar o que nos unem como civilização e sair por ai como bárbaros queimando e incendiando tudo pela frente. Apenas convidando a examinar o próprio ser e suas razoes de existência.
Uma pessoa mediana, num grupo medíocre, não considera aquele que rompeu com nossos padrões, como alguém que agora de fora, pode ter uma visão melhor dos fatos que antes, e assim apontar soluções para problemas que antes não víamos. Costumamos considerar todos que não estão conosco como oposição. Toda oposição nessa visão medíocre deve ser suprimida. Desse modo suprimimos imensas possibilidades de resolução de problemas pessoais ou sociais, simplesmente por ver o outro como opositor. Acho que a historia do mito da caverna de Platão, deveria ser leitura oficial em todo grupo social e não apenas nos filosóficos. Quem sabe assim perceberiam por uma simples ilustração quantas vezes estamos acorrentados as paredes vendo apenas as sombras passarem a nossa volta.
As pessoas que mais fizeram e fazem sucesso no mundo, não são ou foram as que seguiram o padrão social de sucesso. Em sua grande maioria foram as que remaram contra a maré, que sofreram bulling por agir e pensar diferente, que as vezes foram contra a lógica e a razão dos padrões estabelecidos e ao querer provar para si mesmo que algo poderia ser feito de modo diferente, criaram invenções que facilitam nossas vidas até hoje, curam doenças, encurtam a distancia, desmitifica os mitos ou põe o homem como agente e causador dos fatos e não apenas como reagente.
Quem já leu sobre Thomas Edson, sabe quantas vezes ele experimentou seus inventos até acerta um modelo melhorado para suas criações. Construindo, inventando, descartando, recriando e refazendo seus próprios modelos e conceitos até achar um considerado o melhor. Que diga o mesmo o criador da penicilina, das vacinas, do telefone, dos motores propulsores, da engenharia genética e tantos outros que enfrentaram descrenças ao romperem com os padrões aceitáveis de sucesso e ou da ciência da época, descobriram ou patentearam coisas fabulosas que mudaram para sempre a história humana. Que diga o mesmo também os teólogos, filósofos, matemáticos, físicos, biólogos e tantos outros profissionais do ramo da pesquisa que diariamente enfrentam os padrões preestabelecido de mundo, descobrindo outros tantos mundos novos.
As vezes, romper com os padrões pré-estabelecidos de sucesso, é o melhor sucesso que alguém pode conquistar!
As vezes, desviar-se de um grupo, sistema, ideologia, crença ou fé, é o melhor presente que alguém pode dar a si próprio e ao mundo!
A vida pode ser aquilo que fazemos dela ou pode ser aquilo que deixamos que outros façam dela! Pode ser o céu que criamos ou o inverno que ouros criam e nos inserem nele para depois chamar isso de sucesso ou castigo divino.
O sol nasce diariamente para todos. Lindo, potente, exuberante, trazendo luz, calor e vida a todo ser vivente. O mesmo sol se torna um perigo mortal aos que sofrem de deficiência de melanina ou precisam das trevas para agir. A uns o sol produz vida. A outros nem tanto.
Se o nosso sucesso vier sempre dos padrões impostos a nós diariamente pelo nosso grupo, seremos como meros corpos sem almas, numa sociedade de zumbis, sem rumo, sem causa e sem destino. Seremos literalmente um bando de ovelhas balindo atrás de um pastor qualquer.
Se o nosso sucesso vier da busca pela compreensão do mundo ao nosso redor, nos libertando de tudo que nos oprime e delimita nosso ser, então possivelmente teremos vivido uma existência que valeu a pena ser experienciada nesse corpo. Seremos cidadões livres.
Obedecer é preciso! Desviar-se é necessário! Reprogramar-se é essencial!
Escrito em 14/6/16