UM SONHO DE CRIANÇA - PEÇA TEATRAL

UM SONHO DE CRIANÇA – Peça de teatro

Autor: Valéria Guerra Reiter.

Dona Zenir: Tá na hora de levantar, não adianta resmungo não: “ce” tem que trabaiar senão a gente não come.

Pelézinho: Mãe eu to tão cansado, posso dormir só mais um pouquinho?

Dona Zenir: Não nada disso, deixa de “lero”, tu tá cansado porque ficou lendo aquele tal livro até tarde, se tivesse me ouvido e deitado logo, hoje não taria pregado!

Narrador: Pelé da Silva de Jesus, nome de registro, homenagem ao jogador. Ele é um menino alegre, mas está cansado da vida que leva; ele precisa trabalhar para ajudar sua mãe, a sustentar os outro quatro irmãos, e ele só conta nove anos, vende doces desde os quatro ; se arrisca atravessando as ruas movimentadas do centro e sul da cidade do Rio de Janeiro.

narrador: Seu pai (Senhor João) - Sempre dizia: - Esse menino vai jogar futebol como rei.

Narrador: Quando seu joão dizia isso o menino tinha apenas dois anos e meio de vida, e seu João viveu apenas mais um ano, depois que disse isto

Narrador: Pelézinho não ligava muito para o futebol, jogava sim, mas não demonstrava ser o craque que seu João imaginava que ele seria...

Narrador: e enquanto sua mãe esquentava o café que sobrara do dia anterior, o pequeno sonhava com as aventuras que lera no livro que ganhou da professora Vera, já que “tirou” o melhor conceito do ano.

Narrador (Val Reiter) (flashback): professora entregando o livro de presente a Pelézinho e dizendo: Meu querido aluno Pelézinho, este prêmio é por conta de seu desempenho! Narrador: - Ela abraça o pequeno, ele abre o livro e sorri feliz!

(Val Reiter) Narrador: Seus pensamentos foram de súbito interrompidos pelo chamado enérgico de dona Zenir:

Dona Zenir: Menino senta aqui que o café vai esfriar! Tu tá querendo apanhar guri?

Narrador: E o menino franzino e fantasioso sentou-se à mesa pequena e mambembe daquela casa humilde, baixou a cabecinha sonhadora e antes de beber seu café sem pão, disse:

Pelézinho: Mãe você já ouviu falar do Peter Pan?

Narrador: E sua mãe respondeu curiosa.

Dona Zenir: Que “diacho” é isso menino?! É algum menino gringo que tu conheceu?

Pelézinho: Não mãe! É um menino mágico que mora na Terra do Nunca...lá é tão legal!, as crianças nunca crescem, e...

Dona Zenir: Não quero saber de nada disso!, você tem é que aprender a “faze” conta pra “trabaiar” num supermercado quando “ce” crescer, ou quer ficar que nem seu pai, biscateando ali e aqui - fazendo obra pros outros, e então acabou morrendo daquele jeito: debaixo de cimento!?

Narrador: O menino tomou seu café puro e levantou; pegando seus doces para descer o morro da maior favela da América Latina: A favela da Rocinha.

Paulinho: Ei neguinho, tá indo para onde? Praia ou asfalto?

Pelézinho: Eu vou para a Terra do Nunca, e nunca mais quero voltar...gostaria de conhecer o lago das sereias e brincar com os “meninos perdidos...”

Paulinho: Epa! Que lugar é esse? Aonde você vai que tem sereia!, que é isso mané nunca “sôbe” disso, e olha que eu conheço quase metade do Rio de Janeiro.

Pelézinho: Paulinho esse lugar é muito longe daqui, precisa pegar um navio, ou um avião para chegar até lá! Acho que é mais longe que o japão...

Paulinho: E como “ce” vai chegar lá: - ganhou na loteria?

Pelezinho: - Não ganhei em nada disso, ganhei foi um livro lindo que mostra como três crianças de um país chamado Inglaterra chegaram à Terra do Nunca.

Paulinho: Puxa “neguinho”! Você sabe ler...isso é legal! Você gosta pra valer, eu não sei nem ler, nem escrever, nunca fui à escola, você tem sorte de sabe ler!

Paulinho: - Você é meu grande amigão, se pudesse iria conhecer a terra do nunca com você...por que ela chama Terra do Nunca?

Paulinho: Por que lá as crianças não crescem, ficam sempre crianças ? Você viu isso no livro? Tem figura neste livro? Mostrando tudo que tá contando?

Pelézinho: Tem sim, é colorido, muito bonito, mostra a cara do capitão gancho, ele é um pirata malévolo que mora lá na terra do nunca.

Paulinho: - “Pera” aí Pelé, lá tem pirata? “é” aqueles homens que roubam tesouros nos filmes e só andam de navio, com uma caveira enfeitando?

Pelézinho: Sim, e este pirata é inimigo do Peter Pan?

Paulinho: Então este “Perter” também é pirata?

Pelézinho: - Peter!!! Não, ele não é pirata

Ele é um garoto muito legal, que nunca cresce, ele sempre será criança, ele e os meninos perdidos. Peter defende os indefesos do ataque do “Gancho”.

Paulinho: - Então esse menino que defende todos já é grande, tem quantos anos?

Pelézinho: Uns 12. Na história não falam a sua idade, mas eu achei que ele tem uns 12 anos.

Paulinho: E por que ele não cresce nunca?

Pelézinho: - Porque ele mora num lugar mágico que é essa Terra do Nunca.

Paulinho: - Então quem chegar lá não vai mais crescer?

Pelézinho: Não. Por isso que eu quero ir para lá! Lá não tem maldade, e nem as criança precisam trabalhar tanto, como nós, desse modo, eu poderei levar meus irmãos e minha mãe para lá, todos pararão de crescer e de sofrer, eu acho que foi por isso que a professora Vera deu-me este livro. Ela quer que eu encontre este lugar maravilhoso como a Wendy e seus irmãos acharam.

Paulinho: - É cara você já tem um lugar para ir e eu vou perder um grande amigo e continuarei aqui: crescendo e sofrendo...e quem é Wendy?

Pelé: Você pode ir comigo Paulinho, somos amigos desde que nascemos, e a Wendy é uma bela menina que foi levada a Terra do Nunca. Peter usou um pouco de pó de Pirlimpimpim...que uma fadinha chamada Sininho utilizava para encantar as pessoas, fazendo que elas voem rumo à Terra do Nunca.

Nesse momento: os atores congelam, e de forma mágica aparecem à sua frente: - A princesa Tigrinha conversando com a Wendy e a fadinha Sininho.

Tigrinha: - Minhas queridas amigas que bom que vocês estão aqui lanchando comigo! Querem mais geléia?

Sininho: - Não precisa não! Já comi bastante néctar de flores por hoje!

Wendy: - E eu estou bem farta. Já que também tomei suco de morancereja, essa fruta que é maravilhosa, e só se encontra aqui nesta Terra Esplêndida do Nunca!

Nesse momento chegam os meninos perdidos - que em alvoroço - dizem ambos a uma só voz: - lá vem o Peter Pan! Ele vem chegando já! E aí entra Peter Pan que diz: A VOAR, A VOAR , A VOAR...

Tudo parece mágico...e até o capitão Gancho aparece

A cena desaparece com a voz de Paulinho que diz:

- Ei cara tá chegando freguês, vamos ver quem eles irão escolher para comprar...

Adolescente Gabriela : - Ei garoto eu quero um referigerante bem geladinho! Se dirigindo ao Pelézinho.

Pelézinho: - Olha minha amiga, hoje eu só tenho doces , mas meu amigo Paulinho têm refigerantes.

Gabriela diz: - Hoje eu não quero mais nada!!!! Vocês são uns vendedores incompetentes!

Narrador: - E os dois meninos caminharam em frente sem nada a dizer, apenas magoados com as ofensas pronunciadas pela adolescente arrogante.

Narrador: Chovia muito! E durante a subida para chegar em casa, os inseparáveis companheiros ficaram encharcados. A noite já dava às boas vindas; quando Paulinho se despediu de seu amiguinho sonhador, eles correram para seu lares, que quase desmoronaram em função da chuva forte. Entrando em casa o pequeno vendedor com nome de campeão estava cansado e febril, sua mãe percebeu sua chegada e indagou preocupada:

Zenir: - O que houve? “ce” nunca chegou tão tarde meu filho! E está tossindo muito...

Pelézinho: - Mãe! Hoje não vendi nada...só ganhei ofensas e contei histórias...

Zenir: - Valei-me Jesus!

Pelézinho: - Agora irei dormir, boa noite mãe!

Zenir: - Tu não irá dormir antes de se “enxutar” menino! , “ce” já tá tossindo abessa, não quero que fique doente, nem em sonho...

Narrador: E depois de receber “enxugões” e afagos daquela mãe tão sofrida, a criança esperançosa, enfim dormia...

Narrador: - O dia amanhecera...sem chuva e sem névoa...o sol iluminava a cidade e o morro. Dona Zenir entrara no quarto de seu filho mais velho chamando por ele como todas as manhãs era o costume; mas levara um susto, o menino não estava na cama, e sim, sobre ela, havia uma pequena carta que dizia assim:

“Mamãe, resolvi ir sozinho para a Terra do Nunca, para conhecer e localizar o local, depois virei buscar a senhora e meus irmãos; prometo não pegar mais chuva, comerei tudo que lá me oferecerem de forma hospitaleira, diga ao Paulinho e a tia Vera que vou escrever um livro narrando minhas aventuras lá na Terra do Nunca, e o título será: Minhas aventuras na Terra do Nunca.

Um forte abraço, com beijos mil do teu neguinho preferido”

Pelézinho.

( Val Reiter) Narrador: Passaram-se três dias e nada de Pelézinho retornar. Sua mãe desesperada pediu ajuda aos vizinhos e a polícia, que realmente o encontrou:

Num banco do aeroporto Santos Dumont com sua mochila de escola surrada contendo: um livro de estória, intitulado Peter Pan, uma muda de roupa simples e um caderno, em cuja primeira página estava escrito: Minhas Aventuras na Terra do Nunca; em oito linhas se encontrava o início da narrativa da obra...daquele menino que agora estava muito frio e sem vida, mas que se transformara em escritor...talvez o seu sonho esteja se realizando, chegar à Terra do Nunca, e nunca mais crescer, para ser muito feliz...para ser uma criança de verdade...como Peter Pan e seus companheiros ...como todas as crianças deveriam ser!

BLECAUTE; SURGE NO PALCO PELÉZINHO que com uma roupa diferente alva como a neve, levando seu livro “As aventuras na Terra do Nunca” e uma luz branca incide sobre três personagens que acenam para o menino, o chamando, são eles: PETER PAN, GANCHO E BARBA NEGRA.

Fim.

Valéria Guerra
Enviado por Valéria Guerra em 08/06/2016
Reeditado em 25/09/2024
Código do texto: T5661144
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.