PITAGORISMO E MAÇONARIA
A figura que vemos acima é o chamado Teorema de Pitágoras, uma das mais interessantes contribuições desse filósofo ao estudo da matemática. Pitágoras (570 – 461 a. C) acreditava que o universo era regido por números. Dessa forma, toda a filosofia estudada em sua Academia tinha como meta descobrir as propriedades dos números, pois para ele a matemática era o elemento responsável pela harmonia do universo. Assim, os números pares e ímpares e suas somas expressavam as relações do universo que se encontram em permanente processo de mutação. Por isso o número era considerado como a essência das coisas, o símbolo mais representativo do processo criativo do mundo.
Para os adeptos do pitagorismo o cosmo é regido por relações matemáticas. É um pressuposto que lhes foi sugerido a partir da observação dos astros. Dessa observação eles intuíram a existência de uma ordem na estrutura do universo e que ela seria demonstrável em termos matemáticos e geométricos. A alternância entre dia e noite, as estações do ano, o movimento circular e perfeito das estrelas eram uma clara evidência desse pressuposto. Com isso eles cunharam o termo cosmos, para mostrar que o universo era regido por uma ordem numérica/geométrica que determinava a sua criação e desenvolvimento. Cosmos, portanto, é um termo pitagórico que integra as ideias de ordem, harmonia e beleza.
Uma das conclusões extraídas dessas especulações foi que a matéria universal era granular. Em consequência, a sua forma também seria esférica. Dessa maneira, todos os corpos celestes também seriam esféricos. A partir dessa cosmovisão os pitagóricos também concluíram que a Terra também era esférica e que ela girava ao redor de um centro. Alguns pitagóricos chegaram até a intuir a rotação da Terra em volta de um eixo, mas o caráter esotérico que se atribuía ao pitagorismo impediu que suas conclusões sobre astrologia fossem levadas a sério pelos defensores da doutrina cristã. Assim, o pensamento pitagórico foi relegado à vala comum das heresias e codificado como pernicioso ao espírito humano.
Porém, com a abertura proporcionada pelo Renascimento, o pitagorismo, junto com outros sistemas filosóficos censurados pela Igreja, ressurgiu. Os intelectuais renas-centistas redescobriram-no e perceberam quem nem tudo, como afirmavam os teólogos da Igreja, eram heresias ou superstições inspiradas por pensadores influenciados pelo demônio. A maior influência da escola pitagórica deu-se no domínio da geometria e foi aplicada no estudo da astrologia e da astronomia, sendo também muito útil na arquitetura e nas ciências matemáticas.
Pitágoras afirmava que o número é o princípio fundamental que demonstra a essência do universo. Ele não distingue forma, lei e substância nos elementos, como realidades em si mesmas. Considera ser o número o elo que liga todas as coisas existentes no universo, quer dizer, é o valor numeral do elemento que lhe dá identidade. A essa mesma conclusão chegaram os cientistas ao determinar a existência do chamado número atômico, termo usado em física e química para designar o número de prótons encontrados no núcleo de um átomo. Essa descoberta foi associada ao físico britânico Henry Moseley e é hoje uma das principais ferramentas no estudo das propriedades químicas e físicas dos materiais.
Os mestres cabalistas também tiveram a mesma inspiração ao intuir a existência de um valor numérico no nome das pessoas. Esse nome, segundo a Cabala, é o “nome original” que a nossa alma recebe quando sai do Centro Irradiante (o Criador), o qual é determinado segundo a quantidade de luz nela existente.
Para os pitagóricos existiam quatro elementos na natureza: terra, água, ar e fogo, todos com suas correspondências numéricas. O símbolo da escola pitagórica era o pentagrama. Essa figura geométrica era um algoritmo importante na geometria porque ele possuia algumas propriedades fundamentais que se projetavam em outras formas. Um pentagrama é obtido traçando-se as diagonais de um pentágono regular; usando as intersecções dos segmentos dessas diagonais é obtido um novo pentágono regular, que é proporcional ao original pela aplicação da chamada razão áurea, que se expressa pela equação a+ b= a = √5.
Essa equação mostra a relação entre o número e a forma. Diziam os pitagóricos que o pentagrama áureo tinha como principal propriedade o poder de decompor-se infinitamente em uma sucessão de quadrados e retângulos sucessivos, todos apresentando características singulares de individualidade, e ao mesmo tempo conservando as propriedades do todo em que foram recortados. Por isso ele era representativo do universo em todas as suas formas.
O TETRACTYS
Apesar da exatidão com que os pitagóricos trataram a matemática e a geometria, sua filosofia sempre foi colocada na categoria de misticismo. Isso provocou a rejeição da Igreja e prejudicou sua aceitação nos círculos científicos cristãos. A concepção pitagórica de que todas as coisas são números, e que o processo de libertação da alma seria resultante de um esforço feito basicamente pelo indivíduo nunca agradou aos teólogos do cristianismo. Os pitagóricos afirmavam também que a purificação da alma era resultado de um trabalho intelectual, que se dava através do estudo da estrutura numérica das coisas. Esse conhecimento faria da alma uma unidade harmônica com os demais padrões energéticos do universo, porque punha a descoberto os verdadeiros valores que se deve cultivar para a obtenção da chamada iluminação. Era um processo de salvação da alma que estava nas mãos do próprio homem, excluindo a Igreja como intermediária dessa relação. Essa foi a principal razão do pitagorismo acabar sendo colocado no rol das heresias, embora Aristóteles, o filósofo mais respeitado pela Igreja, tivesse incorporado em suas teses muitas concepções inspiradas pelos pitagóricos.
Os pitagóricos gostavam de demonstrar as várias propriedades dos números em figuras geométricas. Um dos números mais importante na cosmogonia pitagórica era o 10, que eles consideravam triangular. Esse número era chamado por eles de Tetraktys, ou, em português, a tétrada. O Tetractys era uma espécie de pirâmide, ou triângulo onde se inscreviam os primeiros numerais, base de toda numeração ordinal, dando como resultado um número místico, representativo dos quatro elementos-base da natureza: fogo, água, ar e terra: ou numericamente: 10=1 + 2 + 3 + 4, série que servia de representação para a totalidade do universo. Assim, a série 1,2,3,4, representaria individualmente a mônada, a dualidade, a trindade e o sólido, que equivalem, de per si, ás quatro fases de manifestações de Deus no mundo. Essa ideia também foi desenvolvida na tradição da Cabala, na doutrina dos quatro mundos. [1]
Assim, a tétrada, que sempre era desenhada com um alfa em cima, dois alfas abaixo deste, depois três alfas e por fim quatro alfas na base da pirâmide era o principal símbolo do conhecimento, segundo a filosofia pitagórica.
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O Tetractys era também uma representação do sistema solar. A partir desse símbolo Pitágoras deduziu conhecimentos astrológicos extremamente exatos, só comprovados pela astronomia moderna, embora no seu tempo apenas sete corpos celestes fossem conhecidos: saturno, júpiter, marte, sol, vênus, mercúrio e lua.
O TETRACTYS E A CABALA
Para Pitágoras, todos o números tinham propriedades e identidades próprias que se relacionavam, não só à forças da natureza, mas principalmente a valores morais. Numa escala de 1 a 12, que seria a escala própria do universo, partindo do princípio de que haveria 12 regiões cósmicas (os 12 signos do zodíaco), os pitagóricos chegaram a interessantes concepções, muito semelhantes àquelas deduzidas pelos cultores da Cabala.
Assim, o Tetractys simboliza os quatro elementos — terra, ar, fogo e água ─ e a sequência 1,2,3,4 a harmonia das esferas cósmicas. A soma dos números perfaz 10, que é o número perfeito da mais alta ordem cabalista. Dez é também o número das Séfiras que compõem a Árvore da Vida..
Na Árvore da Vida, o primeiro alfa, da primeira linha é Kether, a coroa da Criação, primeira dimensão da Criação. A segunda linha, com dois pontos, representa a segunda dimensão. Na Árvore Sefirótica ela representa Hokmah, a manifestação masculina da divindade. Numericamente ela é o 2 e geometricamente aparece como dois pontos, ligados por uma linha paralela. A Terceira linha, com três pontos, representa a terceira dimensão, que numericamente é o 3, a Séfira Binah, formando um plano definido por um triângulo de três pontos. A quarta linha representa a dimensão do universo físico (as demais séfiras) manifestado a partir da trindade acima mencionada. Numericamente ela é o 4 e geometricamente um tetraedro, ou um cubo.[2]
Para os pitagóricos o Tetractys era um símbolo divino. Os iniciados nessa doutrina desenvolveram até uma oração para introdução do culto á ela.
"Abençoa-nos, divino número, tu que dás geração aos homens e aos deuses! Ó divina, divina Tectractys, tu que conténs as raízes da vida e mantém a criação fluindo eternamente! Tu começas com a profunda e pura unidade e chegas ao sagrado quaternário. Então tu te tornas a mãe de tudo, o que comporta, que engrandece, o primeiro nascido, o que nunca desaparece, o fundamental e sagrado número dez, que tudo integra."
As escolas pitagóricas eram uma espécie de sociedade secreta. Assim, os iniciados deviam fazer um juramento ao Tetractys. Depois disso serviam como aprendizes, em silêncio, durante três anos. Eles acreditavam na existência de 2 quaternários de números, sendo o primeiro obtido por adição e o segundo por multiplicação. Esses quaternários integrariam a música, a geometria e a aritmética, disciplinas segundo as quais a harmonia do universo estava estabelecida. O primeiro quaternário era formado pela sequência 1,2,3,4. No total o universo comportaria 11 quaternários. E o mundo que deles resultava era geométrica e harmoniosamente estruturado.
O símbolo acima foi criado por Jacob Boehme, filósofo místico do século XVI. Ele representa o Tetractys com as iniciais do Tetragramaton, as quatro letras do nome de Deus. Aqui temos uma perfeita interação simbólica entre o pitagorismo e a Cabala.
Isso porque pitagorismo e Cabala tem muitas coisas em comum. A Árvore Sefirótica da Cabala, embora não tenha forma triangular, não obstante, é semelhante ao Tetractys em sua conformação filosófica. Da mesma forma que as dez séfiras da Árvore da Vida da Cabala, os dez números da Tetractys também se referem às fases de emanação da essência divina no mundo real, e cada fase do quaternário corresponde a cada um dos mundos de emanação da Cabala. As dez séfiras da Árvore da Vida correspondem, cada uma a um alfa do Tetractys.
O TETRACTYS E O TARÔ.
A tradição do jogo do Tarô tem muita influência vinda da Cabala e do pitagorismo. Na leitura do Tarô, as combinações feitas com as cartas correspondem às diversas combinações dos números da Tectratys, as quais são representações de futuros eventos, relacionados com a pessoa que as consulta.
A primeira posição, marcada por um alfa, representa a capacidade de leitura das cartas, que dão ao operador a habilidade de entender as outras. A segunda posição, marcada por dois alfas, representa o cosmo e o indivíduo, e as relações entre ambos. A terceira fila, marcada por três alfas, representa três tipos de decisão que um indivíduo deve tomar. A quarta fila, marcada por quatro alfas, representa os quatro elementos. Eles estão conectados às forças dinâmicas da criação e suas combinações estão relacionadas aos pensamentos, objetivos, emoções, oportunidades, e todas as realidades físicas e psicológicas do indivíduo que as consulta. São relações que se estabelecem á nível de inconsciente, pois como mostrou Jung em seus estudos sobre a Cabala, as cartas do Taro representam arquétipos hospedados no Inconsciente Coletivo da Humanidade, que são comuns a todas as pessoas em todos os tempos e lugares.
A INFLUÊNCIA NA MAÇONARIA
A Maçonaria, como sabemos, incorpora em seus ensinamentos uma boa dose de influência cabalista e principalmente de pitagorismo. Grande parte da simbologia ligada à geometria, trabalhada nos rituais maçônicos são de origem pitagórica. Ela está ligada não só a visão cosmológica que a Arte Real tem acerca das propriedades do universo, como também em relação às consequências morais que estão embutidas nessas relações geométricas e matemáticas, já que elas são, ao mesmo tempo, materiais e espirituais. Destarte, como a Maçonaria sustenta que o espírito do homem está ligado á Alma Mundi (a Alma do Mundo, o Espírito Criador, o GADU) toda essa estrutura estaria representada na planta do Templo maçônico, que por sua vez, é uma representação do próprio edifício cósmico.
Essa ideia, como vimos, está patente nas relações demonstradas no Tetractys. Assim, esse símbolo também seria uma representação do próprio edifício cósmico, sendo o homem um reflexo dessas relações.
Como todos os maçons sabem, o pitagorismo é uma das colunas mestras do ensinamento maçônico, da mesma forma que a tradição da Cabala. Por isso vale a pena conhecer mais a fundo essa extraordinária manifestação do pensamento humano para entender melhor os fundamentos da Maçonaria.
A figura que vemos acima é o chamado Teorema de Pitágoras, uma das mais interessantes contribuições desse filósofo ao estudo da matemática. Pitágoras (570 – 461 a. C) acreditava que o universo era regido por números. Dessa forma, toda a filosofia estudada em sua Academia tinha como meta descobrir as propriedades dos números, pois para ele a matemática era o elemento responsável pela harmonia do universo. Assim, os números pares e ímpares e suas somas expressavam as relações do universo que se encontram em permanente processo de mutação. Por isso o número era considerado como a essência das coisas, o símbolo mais representativo do processo criativo do mundo.
Para os adeptos do pitagorismo o cosmo é regido por relações matemáticas. É um pressuposto que lhes foi sugerido a partir da observação dos astros. Dessa observação eles intuíram a existência de uma ordem na estrutura do universo e que ela seria demonstrável em termos matemáticos e geométricos. A alternância entre dia e noite, as estações do ano, o movimento circular e perfeito das estrelas eram uma clara evidência desse pressuposto. Com isso eles cunharam o termo cosmos, para mostrar que o universo era regido por uma ordem numérica/geométrica que determinava a sua criação e desenvolvimento. Cosmos, portanto, é um termo pitagórico que integra as ideias de ordem, harmonia e beleza.
Uma das conclusões extraídas dessas especulações foi que a matéria universal era granular. Em consequência, a sua forma também seria esférica. Dessa maneira, todos os corpos celestes também seriam esféricos. A partir dessa cosmovisão os pitagóricos também concluíram que a Terra também era esférica e que ela girava ao redor de um centro. Alguns pitagóricos chegaram até a intuir a rotação da Terra em volta de um eixo, mas o caráter esotérico que se atribuía ao pitagorismo impediu que suas conclusões sobre astrologia fossem levadas a sério pelos defensores da doutrina cristã. Assim, o pensamento pitagórico foi relegado à vala comum das heresias e codificado como pernicioso ao espírito humano.
Porém, com a abertura proporcionada pelo Renascimento, o pitagorismo, junto com outros sistemas filosóficos censurados pela Igreja, ressurgiu. Os intelectuais renas-centistas redescobriram-no e perceberam quem nem tudo, como afirmavam os teólogos da Igreja, eram heresias ou superstições inspiradas por pensadores influenciados pelo demônio. A maior influência da escola pitagórica deu-se no domínio da geometria e foi aplicada no estudo da astrologia e da astronomia, sendo também muito útil na arquitetura e nas ciências matemáticas.
Pitágoras afirmava que o número é o princípio fundamental que demonstra a essência do universo. Ele não distingue forma, lei e substância nos elementos, como realidades em si mesmas. Considera ser o número o elo que liga todas as coisas existentes no universo, quer dizer, é o valor numeral do elemento que lhe dá identidade. A essa mesma conclusão chegaram os cientistas ao determinar a existência do chamado número atômico, termo usado em física e química para designar o número de prótons encontrados no núcleo de um átomo. Essa descoberta foi associada ao físico britânico Henry Moseley e é hoje uma das principais ferramentas no estudo das propriedades químicas e físicas dos materiais.
Os mestres cabalistas também tiveram a mesma inspiração ao intuir a existência de um valor numérico no nome das pessoas. Esse nome, segundo a Cabala, é o “nome original” que a nossa alma recebe quando sai do Centro Irradiante (o Criador), o qual é determinado segundo a quantidade de luz nela existente.
Para os pitagóricos existiam quatro elementos na natureza: terra, água, ar e fogo, todos com suas correspondências numéricas. O símbolo da escola pitagórica era o pentagrama. Essa figura geométrica era um algoritmo importante na geometria porque ele possuia algumas propriedades fundamentais que se projetavam em outras formas. Um pentagrama é obtido traçando-se as diagonais de um pentágono regular; usando as intersecções dos segmentos dessas diagonais é obtido um novo pentágono regular, que é proporcional ao original pela aplicação da chamada razão áurea, que se expressa pela equação a+ b= a = √5.
Essa equação mostra a relação entre o número e a forma. Diziam os pitagóricos que o pentagrama áureo tinha como principal propriedade o poder de decompor-se infinitamente em uma sucessão de quadrados e retângulos sucessivos, todos apresentando características singulares de individualidade, e ao mesmo tempo conservando as propriedades do todo em que foram recortados. Por isso ele era representativo do universo em todas as suas formas.
O TETRACTYS
Apesar da exatidão com que os pitagóricos trataram a matemática e a geometria, sua filosofia sempre foi colocada na categoria de misticismo. Isso provocou a rejeição da Igreja e prejudicou sua aceitação nos círculos científicos cristãos. A concepção pitagórica de que todas as coisas são números, e que o processo de libertação da alma seria resultante de um esforço feito basicamente pelo indivíduo nunca agradou aos teólogos do cristianismo. Os pitagóricos afirmavam também que a purificação da alma era resultado de um trabalho intelectual, que se dava através do estudo da estrutura numérica das coisas. Esse conhecimento faria da alma uma unidade harmônica com os demais padrões energéticos do universo, porque punha a descoberto os verdadeiros valores que se deve cultivar para a obtenção da chamada iluminação. Era um processo de salvação da alma que estava nas mãos do próprio homem, excluindo a Igreja como intermediária dessa relação. Essa foi a principal razão do pitagorismo acabar sendo colocado no rol das heresias, embora Aristóteles, o filósofo mais respeitado pela Igreja, tivesse incorporado em suas teses muitas concepções inspiradas pelos pitagóricos.
Os pitagóricos gostavam de demonstrar as várias propriedades dos números em figuras geométricas. Um dos números mais importante na cosmogonia pitagórica era o 10, que eles consideravam triangular. Esse número era chamado por eles de Tetraktys, ou, em português, a tétrada. O Tetractys era uma espécie de pirâmide, ou triângulo onde se inscreviam os primeiros numerais, base de toda numeração ordinal, dando como resultado um número místico, representativo dos quatro elementos-base da natureza: fogo, água, ar e terra: ou numericamente: 10=1 + 2 + 3 + 4, série que servia de representação para a totalidade do universo. Assim, a série 1,2,3,4, representaria individualmente a mônada, a dualidade, a trindade e o sólido, que equivalem, de per si, ás quatro fases de manifestações de Deus no mundo. Essa ideia também foi desenvolvida na tradição da Cabala, na doutrina dos quatro mundos. [1]
Assim, a tétrada, que sempre era desenhada com um alfa em cima, dois alfas abaixo deste, depois três alfas e por fim quatro alfas na base da pirâmide era o principal símbolo do conhecimento, segundo a filosofia pitagórica.
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O Tetractys era também uma representação do sistema solar. A partir desse símbolo Pitágoras deduziu conhecimentos astrológicos extremamente exatos, só comprovados pela astronomia moderna, embora no seu tempo apenas sete corpos celestes fossem conhecidos: saturno, júpiter, marte, sol, vênus, mercúrio e lua.
O TETRACTYS E A CABALA
Para Pitágoras, todos o números tinham propriedades e identidades próprias que se relacionavam, não só à forças da natureza, mas principalmente a valores morais. Numa escala de 1 a 12, que seria a escala própria do universo, partindo do princípio de que haveria 12 regiões cósmicas (os 12 signos do zodíaco), os pitagóricos chegaram a interessantes concepções, muito semelhantes àquelas deduzidas pelos cultores da Cabala.
Assim, o Tetractys simboliza os quatro elementos — terra, ar, fogo e água ─ e a sequência 1,2,3,4 a harmonia das esferas cósmicas. A soma dos números perfaz 10, que é o número perfeito da mais alta ordem cabalista. Dez é também o número das Séfiras que compõem a Árvore da Vida..
Na Árvore da Vida, o primeiro alfa, da primeira linha é Kether, a coroa da Criação, primeira dimensão da Criação. A segunda linha, com dois pontos, representa a segunda dimensão. Na Árvore Sefirótica ela representa Hokmah, a manifestação masculina da divindade. Numericamente ela é o 2 e geometricamente aparece como dois pontos, ligados por uma linha paralela. A Terceira linha, com três pontos, representa a terceira dimensão, que numericamente é o 3, a Séfira Binah, formando um plano definido por um triângulo de três pontos. A quarta linha representa a dimensão do universo físico (as demais séfiras) manifestado a partir da trindade acima mencionada. Numericamente ela é o 4 e geometricamente um tetraedro, ou um cubo.[2]
Para os pitagóricos o Tetractys era um símbolo divino. Os iniciados nessa doutrina desenvolveram até uma oração para introdução do culto á ela.
"Abençoa-nos, divino número, tu que dás geração aos homens e aos deuses! Ó divina, divina Tectractys, tu que conténs as raízes da vida e mantém a criação fluindo eternamente! Tu começas com a profunda e pura unidade e chegas ao sagrado quaternário. Então tu te tornas a mãe de tudo, o que comporta, que engrandece, o primeiro nascido, o que nunca desaparece, o fundamental e sagrado número dez, que tudo integra."
As escolas pitagóricas eram uma espécie de sociedade secreta. Assim, os iniciados deviam fazer um juramento ao Tetractys. Depois disso serviam como aprendizes, em silêncio, durante três anos. Eles acreditavam na existência de 2 quaternários de números, sendo o primeiro obtido por adição e o segundo por multiplicação. Esses quaternários integrariam a música, a geometria e a aritmética, disciplinas segundo as quais a harmonia do universo estava estabelecida. O primeiro quaternário era formado pela sequência 1,2,3,4. No total o universo comportaria 11 quaternários. E o mundo que deles resultava era geométrica e harmoniosamente estruturado.
O símbolo acima foi criado por Jacob Boehme, filósofo místico do século XVI. Ele representa o Tetractys com as iniciais do Tetragramaton, as quatro letras do nome de Deus. Aqui temos uma perfeita interação simbólica entre o pitagorismo e a Cabala.
Isso porque pitagorismo e Cabala tem muitas coisas em comum. A Árvore Sefirótica da Cabala, embora não tenha forma triangular, não obstante, é semelhante ao Tetractys em sua conformação filosófica. Da mesma forma que as dez séfiras da Árvore da Vida da Cabala, os dez números da Tetractys também se referem às fases de emanação da essência divina no mundo real, e cada fase do quaternário corresponde a cada um dos mundos de emanação da Cabala. As dez séfiras da Árvore da Vida correspondem, cada uma a um alfa do Tetractys.
O TETRACTYS E O TARÔ.
A tradição do jogo do Tarô tem muita influência vinda da Cabala e do pitagorismo. Na leitura do Tarô, as combinações feitas com as cartas correspondem às diversas combinações dos números da Tectratys, as quais são representações de futuros eventos, relacionados com a pessoa que as consulta.
A primeira posição, marcada por um alfa, representa a capacidade de leitura das cartas, que dão ao operador a habilidade de entender as outras. A segunda posição, marcada por dois alfas, representa o cosmo e o indivíduo, e as relações entre ambos. A terceira fila, marcada por três alfas, representa três tipos de decisão que um indivíduo deve tomar. A quarta fila, marcada por quatro alfas, representa os quatro elementos. Eles estão conectados às forças dinâmicas da criação e suas combinações estão relacionadas aos pensamentos, objetivos, emoções, oportunidades, e todas as realidades físicas e psicológicas do indivíduo que as consulta. São relações que se estabelecem á nível de inconsciente, pois como mostrou Jung em seus estudos sobre a Cabala, as cartas do Taro representam arquétipos hospedados no Inconsciente Coletivo da Humanidade, que são comuns a todas as pessoas em todos os tempos e lugares.
A INFLUÊNCIA NA MAÇONARIA
A Maçonaria, como sabemos, incorpora em seus ensinamentos uma boa dose de influência cabalista e principalmente de pitagorismo. Grande parte da simbologia ligada à geometria, trabalhada nos rituais maçônicos são de origem pitagórica. Ela está ligada não só a visão cosmológica que a Arte Real tem acerca das propriedades do universo, como também em relação às consequências morais que estão embutidas nessas relações geométricas e matemáticas, já que elas são, ao mesmo tempo, materiais e espirituais. Destarte, como a Maçonaria sustenta que o espírito do homem está ligado á Alma Mundi (a Alma do Mundo, o Espírito Criador, o GADU) toda essa estrutura estaria representada na planta do Templo maçônico, que por sua vez, é uma representação do próprio edifício cósmico.
Essa ideia, como vimos, está patente nas relações demonstradas no Tetractys. Assim, esse símbolo também seria uma representação do próprio edifício cósmico, sendo o homem um reflexo dessas relações.
Como todos os maçons sabem, o pitagorismo é uma das colunas mestras do ensinamento maçônico, da mesma forma que a tradição da Cabala. Por isso vale a pena conhecer mais a fundo essa extraordinária manifestação do pensamento humano para entender melhor os fundamentos da Maçonaria.
[1] Ou seja, os mundos de Atziloth, Briah, Yetzirah e Assiah.
[2] Na imagem o Tetractys, adaptado á tradição da Cabala, mostrando a sua relação com o Tetragrammaton.