Da titular, licenciada, para o em exercício (18)

Querido,

Coisa mais esquisita: só eu não saí bem na fita...Vê se me reabilita. Mas é assim, este mundo é dos homens. Vê o que acontece em Hollywood, por exemplo, onde as mulheres podem até ser divas, femmes fatales, o escambau...mas têm prazo de validade...Contudo, a fama duradoura, os melhores papéis, dos vilões, inclusive vão para vocês. Vê bem, a Ingrid com aquela beleza estonteante e é de Bogart que fica a imagem imorredoura.

Arre, até o Criador nos amaldiçoou com a expulsão do Paraíso – não o fiscal, ainda – e essa escorchante dívida de sangue, que seguimos pagando por quarenta anos ou mais prestações, mensalmente...

Mas pensemos nas boas coisas da vida. Como vês, seguindo a tradição mineira e maneira, enforquei. E não podes imaginar meu alvoroço com a corda no pescoço. Senti-me elevada à categoria excelsa de um Alferes, de um Ataulpa, de um Hussein.

O foco da inquietação dos rapeizes agora é essa ditadura, que dizem ser a pior de suas formas. Não acredito que esposes essas opiniões eivadas do calor dos bastidores, jurisconsulto que és, de vocação e formação. Talvez te conviesse examinar a possibilidade de um pronunciamento à Nação, em cadeia, para desfazeres rumores de descrença nas instituições que temos e tememos por tão sagradas – e sangradas.

E por falar, a sangria. Provamos e a aprovamos no nosso buraco. É forte, mas apaixonante. Pena o Machado não ter aparecido para fazer a contagem dos pontos. Ele é sempre de conversa afiada, embora grave.

Tua langouste estava excelente. Pescas em águas profundas. Vou dar uma lida agora nas publicações diárias. Desde que deixei de ver o clipping aí no Palácio, tenho descoberto tanta coisa.

Bisous d´amitié

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 27/05/2016
Reeditado em 27/05/2016
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