Do em exercício para a titular, licenciada (17)

Dilmíssima,

tinha ontem à noite ainda lhe redigido missiva eletrônica circunstanciada de minha penosa jornada mas me confundi no momento do envio e tudo se perdeu. E já urgia minha presença o reparador Morfeu. Assim deixei para hoje, após as abluções e as matinas, para retomar nosso diálogo.

Esse não-evento, fez-me raciocinar e concordar contigo, na plenitude de meu entendimento: ninguém mais confiável e discreto do que o Bessias para as idas e vindas providenciais. Espero que não te molestes se eu vier a ocupá-lo com maior frequência doravante.

Imagina, por exemplo, que cogitei convocar meu colegas de pôquer e logo desisti justamente pela falta de um emissário de provadas confiança e sensatez. E sei que Ribamar, Calheiros e Machado estariam muito propensos a disputar umas boas rodadas. Com as cartas nas mãos, são imbatíveis. E seguem a regra do jogo.

Pensei em ligar-te, após ver o Velho Chico. Queria tirar umas dúvidas sobre a originalidade dessa deleitosa trama-de-época. E mineira que és, me saciarias a sede de mais aprender sobre esse fascinante e faiscante estado que, paulistas, tivemos sempre em nossa imaginação - e caminhos. Desde o tempo das entradas e bandeiras. E as bandeiras agora dão vocês, com essa plêiade de relevantes e brilhantes atores de nosso cenário político.

Hesitei contudo de recorrer ao telefone. E foi justamente o Ma(n)chado que me advertiu desse arriscado, conquanto tentador, meio de comunicação. Mas eu queria mesmo saber de como andam o Inácio, o Eduardo e até o Romero que, duma hora para outra, fogem de meu radar. Dommage, diria Voltaire.

Como vês, e como te comoves, estou investindo no meu francês, que em tempos ginasiais releguei a um segundo plano, em razão de outras prioridades acadêmicas, que já me endereçavam na rota constitucional.

Estive pensando seriamente em enviar-te para pacificar o nosso tão sofrido nordeste, onde rebeliões se sucedem no âmago do sistema prisional. Há algo errado aí, pois em Curitiba, mais particularmente, São José dos Pinhais, por exemplo, reina absoluta ordem e compostura. Contudo não vou tirar-te da merecida licença. Essas ocasiões são raras em nossas vidas de servidores públicos e, a despeito de um espírito indômito que preside nossas vontades, cumpre gozá-las. Relaxando-se, inicialmente, e após, como prescreveu a judiciosa Marta.

Os Obamas - que pretendo visitar brevemente, e levar tuas lembranças - já escolheram residência para a vida pós-presidencial. Vão continuar a residir na região de Washington mesmo, Kalorama, se me não trai a memória.

Fizeram escolha acertada, bem a gosto de Michelle, preocupada com a continuidade da educação das filhas. Ali residiram grandes nomes da história norte-americana, próceres verdadeiros, como um Wilson, um Taft, um Hoover. E são nove quartos.

Corpus, finalmente. Quero crer que estarias propensa a provar de nossa langouste thermidor para almoço. Ou quem sabe, um brunch com vista para o cerrado? Se não, vai pelo tupperware...

A paz em Cristo,

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 26/05/2016
Reeditado em 26/05/2016
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