O paradoxo da democracia brasileira / Golpe e olimpíadas
A presidente Dilma tem considerado, com sabedoria, não poder haver democracia sem respeito à justiça, razão pela qual, erroneamente, ao meu ver, tem respeitado excessivamente os nossos tribunais. O erro evidencia uma situação paradoxal e absurda que ameaça o país.
Suponha um país estranho, tomado por juízes corruptos envolvidos em um jogo chamado “me favorece que eu te favoreço”. Nesse pobre país, os juízes, sistematicamente, analisam todos os casos sob o mesmo ponto de vista parcial que, contrário às leis que estabelecem a igualdade dos cidadãos perante a justiça, favorecem, sempre, os poderosos, sendo por eles favorecidos em retribuição. Somam esse pagamento, o favor dos poderosos, aos salários imensos, engordados por vantagens inconfessáveis, que lhes permitiriam viver farta e honestamente. Não tivessem feito o joguinho das retribuições, no entanto, e não teriam chegado onde estão.
Poderá ser juiz no Brasil alguém que considere que todos são iguais perante a lei? Haverá algum juiz no Brasil que julgue de modo equânime, considerando que todas as pessoas tenham igualdade de direitos? Em outras palavras, existe algum juiz íntegro no país? Não sei responder. Torço para que exista algum. Vige entre nós o sistema das retribuições, constatação trivial que deve ser explicitada. juízes tornam-se juízes tendo sido selecionados por outros juízes. São selecionados por aqueles que participam do jogo das retribuições. Somos todos iguais perante as leis, não perante os juízes.
Palavras podem ter mais de um sentido. A palavra “juiz”, por exemplo, pode significar aquele que representa a Justiça, personagem sumamente respeitável. Pode significar, também, algum embusteiro travestido em representante da justiça, mas empossado no cargo de juiz. Tais criaturas não são respeitáveis.
Usemos maiúsculas para facilitar a distinção entre uns e outros. juízes julgam com justiça, os outros, os juízes, sabem sempre, de antemão, para que lado penderá seu julgamento. Favorecerão os poderosos, os que terão mais recursos para lhes retribuir o favor.
Que dizer de tais criaturas? Reiteremos que os juízes são pessoas sumamente respeitáveis, mas, que considerações merecem esses outros?
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Observemos uma fotografia. Para simbolizar a Justiça, juízes usam a toga, uma capa que os distingue de cidadãos comuns. Verdadeiros juízes envergam a vestimenta incomum com honradez e decoro, evocando reverência desde sua imagem; o traje não usual cai-lhes com propriedade, ressaltando sua respeitabilidade, impondo deferência em reconhecimento a sua dignidade. Outros, ao se fantasiar do mesmo modo são ridículos.
São ridículos os que, não o sendo, fingem-se de juízes conseguindo apenas fazer o papel de palhaços. Travestidos em juízes, sem o ser, são apenas palhaços fantasiados, não fazendo jus, obviamente, a qualquer reverência. Assim, qualquer um que, sem respeitar a Justiça, ostente a fantasia de juiz, age como um farsante, merecendo a consideração devida a palhaços; mas palhaços vis que são.
Uma vez que “juízes” são representantes da Justiça, e que a Justiça é igual para todos, são juízes apenas aqueles que julgam com equidade e justiça. Os que se fingem de juízes, não o sendo, são vilões, fato que deve ser explicitado. Macaqueados com uma toga que lhes assenta como em palhaços, não se confundem com juízes.
Note que confundir juízes com palhaços constituiria desrespeito aos juízes e à Justiça. Importante, por essa razão, que explicitemos claramente a diferença gritante entre juízes e palhaços, que enalteçamos e respeitemos uns, e exponhamos e ridicularizemos os outros.
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O golpe e as olimpíadas
Quando a Globo e outros comparsas se prontificaram a derrubar o governo Dilma, não imaginavam a trapalhada em que meteriam seus patrões, devido às mobilizações populares contrárias a seus intentos. Imaginavam conseguir insuflar o povo contra a presidente, derrubá-la, e alardear o feito para o mundo inteiro, sob aplausos, durante as olimpíadas.
Tendo deixado engatilhar o golpe, apertar a corda sobre o pescoço da presidente, os patrocinadores das olimpíadas percebem agora, com os levantes populares, o imbróglio em que se meteram. Vinham sendo enganados sobre um suposto apoio popular ao golpe pelos mesmos informantes farsantes encarregados de o fomentar.
Percebem agora que o afastamento de Dilma atiçaria levantes e manifestações populares clamando por sua volta, aumentadas pela indignação frente à impunidade dos governantes usurpadores, induzindo o mundo inteiro a torcer e clamar pelo retorno de Dilma e da democracia ao país.
Ocorre que as olimpíadas constituem um momento chave para a divulgação de inúmeros produtos. Incertezas quanto ao sucesso, ou mesmo à realização dos jogos, constituirão grande apreensão e enormes perdas. Um golpe poderia suscitar boicotes por atletas e países, boicote a patrocinadores, desorganizações na realização dos jogos e do suporte logístico, distúrbios de rua, manifestações. Como conter a polícia assassina e aterrorizante do estado do Rio?, como evitar seus excessos? Haverá olimpíadas em meio à balbúrdia? Seria um pandemônio.
Enquanto os brasileiros lutam por Dilma, o mundo inteiro torce por ela.
Dilma fica.