Ponto nevrálgico

“Três quartos do gênero humano não vão além, nem se preocupam com o ser pensante. O outro quarto indaga. Ninguém obteve nem obterá a resposta”

(Voltaire)

O político com um balaio na cabeça indo à feira é só um simples político, nada mais. Duro é saber a origem do balaio e quem é o Babalorixá que vem atrás apagando suas pegadas.

O pintor com uma tela debaixo do braço, mais tintas e pinceis dentro do alforje é só um simples pintor. Escárnio é o mesmo montar no camelo, adentrar no deserto à fome e sede para pintar o pôr-do-sol em tons de cinza.

O escritor frente à pedra-dura escrevendo com o giz de cera é somente um simples escritor. Pior é o mesmo saber que a bula escrita ontem, hoje não tem nenhuma valia, tampouco amanhã.

O cantor com o violão às costas atravessando o atlântico no Titanic é só e somente só um simples náufrago. Então se convém que o mar não serve só pra peixes. Enquanto isso na terra-do-nunca o tubarão toca trombone.

Ora, ora! ora! como já dizia o velho deitado: “de louco, doutor e artista cada um tem um pouco.” Porém, lá pelos idos de 350 a.C. questionara um tal de Platão: “A quem interessa os artistas na Polis? A quê se prestam? Corromperem os mais jovens?”

Hoje, o dito parece um tanto ingênuo, tão acostumados estamos às ideias do presente. Eis o drama atual, drama da inversão de valores, miséria, guerra e sangue, os conflitos ideológicos. Como sempre, um grande campo de batalha onde se digladiam o bem e o mal.

Pasme insigne leitor que se atreveu até aqui; o menino pedinte no meio da rua continuará sendo pobre-menino-pobre.

Enquanto isso no Louvre os girassóis de Van Gogh valem milhões de dólares, magnatas ostentam vossas mansões e carrões. Vai lá ver se podemos entender esta humanitas?

Mesmo assim, bilhões e bilhões de livros nas bibliotecas do mundo, mas nada nos dizem da verdade-absoluta. Assim é a natureza humana.

Logo, seria o humano o obscuro enigma dessa galáxia? O que se faz entender que de teoria em teoria teorizando o que se possa teorizar ou quem sabe, o que se possa criticar... até meu próprio ato de escrever.

Por isso, turva-me a vista, vejo o homem dependurado nos galhos tísicos do cogumelo-atômico degustando os restos dos frutos proibidos à luz de candelabros. De repente vê-se lá embaixo os ditos frutos rolando sobre as folhas secas como se fossem crânios ocos.

Gilberto Oliveira
Enviado por Gilberto Oliveira em 06/05/2016
Reeditado em 14/05/2016
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