Memórias de uma homenagem
Assim, como não nos banhamos no mesmo rio duas vezes, como já bem disse o filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso, não é possível reproduzir o mesmo texto, pois tudo está constantemente mudando. Faço aqui uma tentativa, espremendo a memória, para deixar registrado o texto que fiz para meu avô materno na ocasião do seu desencarne.
Do meu avô, em sua lucidez, guardo poucas e marcantes lembranças. Duas me são muita fortes: a primeira de quando ele sempre chegava na minha casa e minha mãe havia plantado um pé de mamão, ele olhava para a planta e dizia: " Minha filha é macho, não dá mamão não"; a segunda é de quando minha mãe me mandava acompanha-lo a mercearia para fazer algumas compras que ela pedia, pois, infelizmente, já um reflexo da doença, ele trazia os itens errados, se confundia.
Já eram os sinais da cruel doença que consome as lembranças. Quando digo que guardo poucas lembranças dele quando lúcido, não significa que descarte seu período enfermo. Pelo contrário considero que este foi um momento riquíssimo de aprendizado para todos que conviveram. Mesmo no silêncio , sua condição dialogava comigo e muito me ensinou.
Para mim foi uma escola. Na ocasião do seu desencarne, tal como nos caso onde o desencarnado muito já sofreu, foi um motivo de alívio. Alívio misturado com uma profunda saudade.
Que ao retorno a pátria espiritual, possamos nos reencontrar e continuar nossas conversas. Finalizo essa tentativa de resgate a um texto que não gostaria de ter perdido, com uma frase que tenho a absoluta lembrança que a pus no fim do texto original.
"Velho, meu querido velho, agora já não mais caminhas lento"