Perfis recantistas ( 103 - Manuel Carlos Chionga)
Vozes d'África já conheceis da emocionante pena de Castro Alves, mas elas se tornam ainda mais atuais, mais dramáticas, na revivência do jovem poeta moçambicano, que vai surgindo aos nossos ouvidos e demais sentidos, Manuel Chionga. Trazem-nos a realidade de uma nação antes brutalmente colonizada pela dura mão da exploração portuguesa que, após quatro décadas de libertação vê seu povo mergulhado na incerteza, na pobreza e na injustiça social.
Chionga elegeu o soneto para descrever o cotidiano da realidade que o cerca. Até este instante, numa dezena deles, vai expressando as peripécias de sua vida num microcosmo daquele continente encantado e misterioso que por séculos foi e continua sendo alvo da cobiça alheia, sobretudo, da parte dos europeus.
Em duas simples amostragens de seu trabalho, Chionga discorre sobre a tragédia do dia a dia de seu industrioso povo, à mercê do banditismo impiedoso e sem freios que viceja entre a sua própria gente, bem como nos fala, com denodada fé e justa exaltação sobre o seu modesto mas honesto patrimônio no conhecimento da língua francesa, em que atua como mestre, e poeta.
Tendo visitado a pátria de Mia Couto há uns oito anos, por uma semana tão-somente, pude lá testemunhar a luta daquela nobre gente no seu cotidiano, cercada de uma pródiga natureza, onde a floração densamente azul das acácias das ruas de Maputo dão o toque de beleza e de esperança.