Sou caipira, mas sou Doutor.
Numa estradinha de terra batida,
já calejada de tanto eu pisar, trotava, tinha pressa
pois a labuta não espera o dia clarear,
na cabeça surrado chapéu panamá, no ombro bornal,
é a merenda que nunca pode faltar,
no ombro também fazendo companhia ao bornal,
ela, sempre ela, a enxada que a minha mão mais uma vez
iria sem querer e sem culpa, calejar.
Menino ainda, rosto liso para melhor o suor passar,
que nada era que a barba ainda não brotara.
Enxada no alto, enxada na terra num vai e vem
cortando ervas, pra que a plantação sadia crescesse.
Ah! ainda tinha a noite depois do dia ensolarado
pra poder testemunhar, minha aflição, de caneta na mão, a sonhar.
Enquanto estudava de terno e gravata, um Doutor,
falando bonito na defesa do trabalhador,
É de Doutor hoje me chamam, mas o que eu queria mesmo,
era voltar no tempo pra novamente minha enxada empinar.
Sou caipira, mas sou Doutor, Doutor na profissão,
mas um caipira dentro do coração.