Sou caipira, mas sou Doutor.

Numa estradinha de terra batida,

já calejada de tanto eu pisar, trotava, tinha pressa

pois a labuta não espera o dia clarear,

na cabeça surrado chapéu panamá, no ombro bornal,

é a merenda que nunca pode faltar,

no ombro também fazendo companhia ao bornal,

ela, sempre ela, a enxada que a minha mão mais uma vez

iria sem querer e sem culpa, calejar.

Menino ainda, rosto liso para melhor o suor passar,

que nada era que a barba ainda não brotara.

Enxada no alto, enxada na terra num vai e vem

cortando ervas, pra que a plantação sadia crescesse.

Ah! ainda tinha a noite depois do dia ensolarado

pra poder testemunhar, minha aflição, de caneta na mão, a sonhar.

Enquanto estudava de terno e gravata, um Doutor,

falando bonito na defesa do trabalhador,

É de Doutor hoje me chamam, mas o que eu queria mesmo,

era voltar no tempo pra novamente minha enxada empinar.

Sou caipira, mas sou Doutor, Doutor na profissão,

mas um caipira dentro do coração.

ChangCheng
Enviado por ChangCheng em 16/04/2016
Reeditado em 16/04/2016
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