Ensaio #019: A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA - MPB

Propondo-me falar de música, especificamente da música popular do Brasil, eis-me aqui, às voltas com a vultuosa diversidade de nossas músicas. Dificilmente vou abranger todos, por isso detenho-me à, na popular, música genuinamente brasileira.

Assim sendo, não podemos deixar de citar três estilos distintos, mas intimamente interligados com forte afro influência. Tratam-se do samba, choro e chorinho. Paralelamente, a saudade profunda dos exilados e degredados que para aqui foram enviados, gestou o fado, algo a lamentar pelo destino de sofrer o exílio em terras de Aquém-mar.

Desses quatro citados estilos, o fado, assim que pode, voltou para Portugal como tributo cultural brasileiro e, em Além-mar, encontrou eco entre os patrícios e lá se consagrou definitivamente como o ícone mais marcante da cultural musical lusitana.

O samba e seus matizes, choro, chorinho, provavelmente devido a marcante relação com sua origem africana, sofreram forte preconceito da elite dominadora. Samba-de-breque, sincopado, partido-alto, enredo, samba-canção são algumas das variantes do samba que o consagraram como o mais importante estilo musical autêntico do Brasil. Mais recente, surge o samba-reggae com marcante influência jamaicana que na Bahia toma vida própria e desponta em ruidosa e agitada Timbalada, por causa da marcante presença dos timbales (atabaques), percussão de origem africana. Tom Cardoso comenta:

“… como definiu a presidente do Museu da Imagem do Som (MIS),

Marília Barboza, “… a resposta negra à soberania dos gêneros

musicais herdeiros da polca européia, entre eles o maxixe com

letra, que Donga ingenuamente também chamava de samba…”

[http://www.samba-choro.com.br/s-c/tribuna/samba-choro.

0209/0903.html]

O Samba nos deu inúmeros autores e cantores. Enumerar todos seria uma missão quase impossível. Cito alguns, não em ordem cronológica, mas alfabética: Agepê, Araci de Almeida, Ari Cordovil, Benito de Paula, Beth Carvalho, Bezerra da Silva, Candeia, Cartola, Clara Nunes, Clementina de Jesus, Darcy, Dicró, Donga, Dorival Caymmi, Ederaldo Gentil, João Nogueira, Jackson do Pandeiro, Jamelão, Jorge Veiga, Leci Brandão, Luiz Wanderley, Martinho da Vila, Noel Rosa, Noite Ilustrada, Noriel Vilela, Paulinho da Viola, Seu Jorge, Simone, Tião Motorista, Tia Ciata, Wilson Simonal, Zimbo Trio.

Conta-se que no Sertão Nordestino entre 1879 a 1882, com a construção das ferrovias pela Great Western, com a distinção entre a festa dos gringos e a que estes promoviam para todos os peões, a “FOR ALL”, teria surgido o Forró ou arrasta-pé, festa já há muito existente nos povoados sertanejos animadas por uma sanfona, um zabumba, uma caixa e um triângulo. Trata-se de um conjunto de ritmos genuinamente oriundos do Nordeste Brasileiro com características próprias. Uma suíte de estilos interligados entre si pela espontaneidade e alegria e agito que os mesmos proporcionam aos dançantes tais como o Baião, Xote, Xaxado, Ciranda, Maxixe, Maracatu, Embolada, Desafios de Viola e Coco.

Quando surgiu então a MPB? Há consenso que tenha surgido no período colonial do Brasil, entre os Séculos XVI e XVIII. A mesclagem dos vários estilos trazidos da Europa pelos colonizadores como a quadrilha, a mazurca, a modinha, valsa, marcha, a schottish, polca e até a música erudita foram alelos marcantes que, combinados com as batidas marcantes dos ritmos africanos do lundu, a modinha portuguesa, os típicos cantos e sons tribais dos índios e danças de salão traçaram o DNA da música genuína brasileira.. Desse cadinho multiétnico, nasce a MPB, não ainda com esta acronímica designação que só veio emplacar mais tarde, nos anos 60.

Nos séculos XVIII e XIX, nas cidades em desenvolvimento e em aumento demográfico, se destacam dois ritmos, que creio serem o embrião da MPB: o lundu e a modinha. O lundu, de origem africana, com sua ginga de caráter sensual e 'beats' dançantes, enquanto a modinha, de origem portuguesa, deixa no ar um tom de melancolia a falar de amor, numa batida suave e erudita.

O Choro ou Chorinho, entra em cena a partir da segunda metade do século XIX. Surgem com a mistura do lundu, da modinha e da dança de salão europeia. Em 1899, a cantora e pianista Chiquinha Gonzaga compõe a música Abre Alas, uma das mais conhecidas marchinhas carnavalescas da história.

Ao nascer do século XX começam a surgir as bases do que seria o samba. Dos morros e dos cortiços do Rio de Janeiro, com mistura de batuques e rodas de capoeira com os pagodes e as batidas em homenagem aos orixás, dá-se o começo do carnaval que vai tomando corpo com a participação, principalmente de mulatos e negros ex-escravos. Assim nasce o carnaval. O ano de 1917 é um marco, pois Ernesto dos Santos, o Donga, compõe o primeiro samba que se tem notícia: Pelo Telefone. Neste mesmo ano, Pixinguinha, importante cantor e compositor da MPB do início do século XX, grava Carinhoso.

Nas décadas de 20 e 30 a música popular brasileira cresce e se populariza nas rádios, alcançando a identidade do público ouvinte. A rádio brasileira teve um papel importante na popularização desses ritmos. Cantores e compositores tais como Ary Barroso, Lamartine Babo, Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa, Mário Lago, Cármen Miranda, Mário Reis e Francisco Alves (Chico Viola) dão vida e cara ao Samba, música genuinamente brasileira. Muitos outros expoentes sugiram nas décadas seguintes.

Nos anos 40 surge Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, com músicas de ritmo contagiante como Asa Branca, Assum Preto, Paulo Afonso, Algodão, cantando os lamentos da seca do Nordeste e seus retirantes. É o primeiro a divulgar a música nordestina no grande centro cultural da época, o Rio de Janeiro. Há uma grande plêiade de artistas que muito contribuíram para a divulgação e valorização desse naipe da música popular brasileira. Dentre estes, além do Luiz, citamos Marinês e sua Gente, Jackson do Pandeiro, Alvarenga e Ranchinho, Dominguinhos, Noca do Acordeon, Trio Nordestino, Nardelli, Genival Lacerda, Zé do Baião, Abdias do Acordeon, Zé Calixto, Zé do Fole, Luiz Jacinto da Silva (saudoso Coroné Ludugero), Mario Zan, Waldonys, Zé Ramalho e tantos outros expoentes que faltaria espaço para citar todos. Estes fizeram, fazem história, divulgam e ainda promovem a música raiz do Sertão Nordestino.

Nesse meio tempo, desponta um novo estilo musical, o samba-canção de ritmo mais calmo e orquestrado, suas canções falavam principalmente de amor. É a música romântica, cantada. por um time de ouro, dentre eles, Dolores Duran, Antônio Maria, Marlene, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Caubi Peixoto, os seresteiros Nélson Gonçalves, Adílson Ramos, Francisco Petrônio, Nilton César, Alcides Gerardi, Carlos José, Altemar Dultra, Evaldo Gouveia, Jair Amorim e tantos outros.

No final da década de 1950, eis que surge a Bossa Nova, um novo ritmo musical, bem trabalhado, de balanço e cadência suaves. Tem ginga de samba e um marcante molho de jazz realçando ainda mais sua beleza. Dentre os artistas que projetaram a Bossa Nova, temos Antônio Carlos Jobim, João Gilberto, Elizeth Cardoso, Dick Farei, Norma Benguel, Ronaldo Bôscoli, Luiz Carlos Miele, Elis Regina e muitos outros. A Bossa Nova tornou-se um importante veículo que levou ao exterior nossa encanto e beleza, marcante presença e grande sucesso, notadamente nos Estados Unidos e Israel.. Ganha fama e palco do mundo inteiro, aparece em trilhas sonoras de muitos filmes em Hollywood etc. Era a ascensão de nossa música em contramão do fluxo costumeiro que era de fora pra dentro, agora o Brasil exportava seus ritmos.

Na década de 60, houve muita produção de versões estrangeiras. De cada dez músicas tocadas, duas eram brasileiras e as demais, versões. Os Beatles e Rolling Stones estouravam no mundo inteiro e os produtores fonográficos do Brasil aproveitavam a onda, o embalo e faturavam muito em cima disso, produzindo versões destes e de muitos outros cantores de fora que batiam o topo das paradas de lá. Os Festivais Universitários, FIC (Festival Internacional da Canção) abriram porta para novos autores que produziam músicas de altíssima qualidade em estilo próprio diferenciado dos já existentes. Deram origem, de forma espontânea, a movimentos como a Jovem Guarda, ao MPB (Música Brasileira), Tropicália.

A Jovem Guarda foi formada por importantes cantores como Roberto e Erasmo Carlos, Wanderleia, Rosemary, Vanusa, Antônio Marcos, Sérgio Reis, Martinha, Rossini Pinto, Ronnie Von, Sylvinha e Eduardo Araújo, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Demétrius, Ed Carlo, Leno e Lílian, Evinha (Trio Esperança), Deny e Dino, Paulo Sérgio, Dick Danello, Reginaldo Rossi, Kátia Cilene, Sérgio Murilo, Waldirene, Arthurzinho, Ed Wilson, Ronnie Cord, Jorge Ben Jor, Tim Maia, George Freedman, além de bandas como Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, Lafayette e seu Conjunto, Os Incríveis, Os Vips, Os Jovens, The Pops e The Fevers, Os Carbonos. Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Tom e Dito, Leno e Lilian, Cely e Tony Campelo. José Roberto, Evaldo Braga, Jane e Herondi, Odair José davam o tom romântico da época.

O um novo movimento musical surge em meados dos anos 60, quando a Bossa Nova sofria modificações e viria culminar como a nova onda musical revelada através dos Festivais da Música Popular Brasileira, sendo denominada através do seu acrônimo MPB. Essa nova onda não ficou limitada a um estilo específico, mas era tanto eclético quando versátil. Eram, ao mesmo tempo, estilos diversificados caracterizando a identidade musical do Brasil. Como vivíamos um regime de exceção ou ditadura militar, muitas das letras das músicas vêm codificadas com mensagens ocultas nesses códigos. Chico Buarque explorava bem esse artifício. “Roda Viva” e “Carolina” são exemplos disto. Geraldo Vandré também, em suas belas obras “Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores” e "Disparada", esta, na voz ginga inconfundível de Jair Rodrigues e muitos outros deixam pérolas, filigranas em suas letras cantadas e decantadas Brasil afora. A censura entra em cena para não deixar que essas mensagens fossem “inocentemente” passadas adiante. As letras eram muito inteligentes, bem elaboradas, diferente de muitas que se difundem na atualidade onde o lucro, retorno financeiro pesam mais na balança quando se lança uma nova música no mercado.

Da MPB, nos fins da década de 60, sai outro movimento efêmero, mas que marca muito sua geração. A Tropicália, Tropicalismo ou Movimento Tropicalista foi um movimento cultural brasileiro surgido basicamente pela influência das correntes artísticas da vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira (como o pop-rock e o concretismo); misturam manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais. Tinha objetivos comportamentais, que encontram eco em boa parte da sociedade, sob o regime militar, no final da década de 1960. O movimento manifesta-se principalmente na música de Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, Gilberto Gil, Torquato Neto, Os Mutantes e Tom Zé.

Paralelamente nessa época, desponta o grupo musical Pessoal Ceará, formado por Ednardo, Belchior, Raimundo Fagner, Rodger Rogério e Tetty fazem sucesso com seu disco “Pessoal do Ceará - Meu Corpo, Minha Embalagem, Todo Gasto Na Viagem”. Nessa bagagem, o sucesso em Ingazeiras, Terral, Cavalo Ferro, Curta Metragem, Falando da Vida, Dono dos Teus Olhos, Palmas Pra Dar Ibope, Beira-Mar, Susto, A Mala.

Ainda nos anos 60, surge o Sambalanço (samba de balanço), considerado um substrato entre o popular Samba e a Bossa Nova notadamente nas boates de São Paulo e do Rio de Janeiro. Caracterizado pelo deslocamento da acentuação rítmica com forte influência jazzística projetando-se até a década de 80. Artistas que o difundem: Jorge Ben Jor, Elza Soares, Miltinho, Ed Lincoln, Djalma Ferreira, Orlan Divo, Silvio Cesar, Luís Bandeira, Pedrinho Rodrigues, Luís Reis, Haroldo Barbosa, Luís Antônio, Jadir de Castro e João Roberto Kelly, Os Devaneios, Grupo Joni Mazza, Bebeto, Erasmo Carlos, Banda Black Rio, Copa 7, Luiz Wagner e Dhema.

O dia da MPB é celebrado em 27 de setembro em homenagem ao cantor brasileiro, Francisco Alves, marcando a data de sua morte em 27 de setembro de 1952.

Não poderia deixar de falar da música gospel brasileira que, a partir dos anos 70, vem deixando seu legado como rastro nos sítios da MPB. A princípio, os evangélicos cantam apenas músicas dos seus hinários, versões de músicas americanas ou europeias. O Grupo VPC (Vencedores por Cristo) foi pioneiro em lançar músicas novas genuinamente brasileiras se utilizando de nossa cultura para compor seus hinos. Seguem suas trilhas os grupos Elo, Logos, Milad, Novo Alvorecer, Banda Gerd, Asaf Borba, Wolô, João Alexandre, Guilherme Kerr Neto, Alisson Silva e muitos outros dão mais cores verde e amarela ao cenário da música religiosa. Padres católicos também têm investido muito na produção de hinos em ritmos brasileiros, dentre eles, os padres, Zezinho, Marcelo Rossi, Reginaldo Manzotti, Fábio de Melo e outros.

A partir dos 80, quase nada se tem observado de novo. Na década seguinte, a uma divulgação tocada por certo apresentador de televisão o que ele equivocadamente chama de música sertaneja. Sertaneja é tudo inerente ao Sertão Brasileiro, notadamente o Sertão do Nordeste Brasileiro. Em outras palavras, tudo relacionado ao popular Forró: Xote, Xaxado, Baião, Coco, Ciranda, Maxixe. O movimento que resgata a música caipira, pega carona e segue conhecido como Música Sertaneja Universitária. Há muita pedra preciosa que marca com garbo a música caipira. Tonico e Tinoco creio que pioneiros na divulgação desse importante estilo que enriquece a cultura brasileira. Nesse universo, destaca-se a música caipira raiz. Ícones como Rolando Broldrin, Sérgio Reis, Nhô Pai, Tião Carreiro, Inesita Barbosa, Renato Teixeira, Almir Sater, e mais recentes, Chrystian e Ralf, Daniel, Leonardo, Zezé de Camargo e Luciano, Cristiano Araújo, Luan Santana, Michel Teló, Milionário e Zé Rico, Roberta Miranda, Camem Silva, Bob Nelson, Paula Fernanda, Sula Miranda,Mayck e Lyan e tantos outros.

A cada década, novos cantores, novas tendências vão surgindo e alcançado seu público-alvo. Há gosto pra tudo. Surgem novos naipes de peso como as bandas Barão Vermelho, Gengiscan, Kid Abelha, Catedral, os cantores Adriana Calcanhoto, Sandy, Renato Russo …

Esses Pioneiros deram a cara a tapa, pagaram alto preço para abrir passagem para os que após estes foram despontando no cenário musical. De veredas esburacadas e poeirentas, deixaram vias belamente asfaltadas e, diga-se de passagem, com direito a tapetão vermelho.

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Fontes de pesquisa:

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Grupo_Logos

http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Publicacoes/Consulta_Expressa/Setor/Transporte_Ferroviario/200206_1.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Transporte_ferrovi%C3%A1rio_no_Brasil

https://pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:Cantores_de_forr%C3%B3

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jovem_Guarda

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tropic%C3%A1lia

Fonte: http://datascomemorativas.org/27-de-setembro/#ixzz3njDma0I6

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 13/04/2016
Reeditado em 25/04/2017
Código do texto: T5604476
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