Sobre a radicalização momentânea
O mundo inteiro parece estar bastante radicalizado, não só o Brasil. Por aqui nunca tínhamos visto tamanha polarização; se ocorreu algo assim antes, foi logo antes da segunda guerra, mas duvido que, mesmo então, tenha havido dicotomia tão generalizada. Aliás, polarizações assim costumam prenunciar guerras; maus augúrios.
É provável que fenômeno tão intenso e generalizado tenha várias causas. Uma delas, no entanto, é claríssima: a metodologia de divulgações do facebook.
O facebook adquiriu uma importância considerável na canalização das informações recebidas por todos. Ele envia e sugere notícias para as pessoas, mas não as mesmas; ele “conhece” cada um de seus usuários e trata cada um de maneira personalizada, apresentando textos e vídeos que “ele” “suspeita” serão do agrado de cada usuário.
Como você está me lendo, não deve ser um coxinha, esse texto será apresentado a poucos deles, ficará quase restrito ao contingente oposto.
Alimentados por vieses opostos, os dois grupos vão se radicalizando e distanciando, um do outro, constituindo polos opostos e cada vez mais antagônicos. Os coxinhas estão lendo textos que confirmam, fortalecem e radicalizam suas crenças, nós fazemos o mesmo, mas caminhando em direção oposta. O resultado tende a ser explosivo. O mesmo está ocorrendo no mundo inteiro.
Obviamente, essa “química” não está passando desapercebida pelos magos que controlam o facebook. Estamos sendo manipulados e estudados. Temos permitido tal abuso por parte de comerciantes. A tendência do facebook é favorecer o lucro para abocanhar parte dele. A concentração do lucro corresponde ao arrocho da população, sugada cada vez mais eficientemente.
A manipulação política é ainda mais grave.
A polarização tende a fomentar a guerra.
Letícia
Recentemente, a atriz Letícia Sabatella foi suspensa do facebook em represália a suas manifestações políticas. Personagem pública e angelical, disparou, imediatamente, uma onda de protestos contra a arbitrariedade e foi logo anistiada. Mas, note, o facebook tem dono, somos convidados por lá, e obrigados a nos comportar de acordo com os mandamentos dos anfitriões.
Contou-nos Esopo que quando a onça ficou velha, e já não conseguia mais caçar, convidou todos os bichos para uma festa de congraçamento em sua toca, em comemoração à pacificação. Contentíssimos com a notícia, foram todos.
Chegando muito atrasada à festa, a tartaruga preferiu dar meia volta, ao constatar apenas rastros de entrada na toca, nenhum de saída.
Usuários comuns não receberão a mesma deferência que Letícia, poderemos ser, sumariamente, excluídos.
Talvez existam punições, ou experimentos, ainda mais cruéis. Sim, somos cobaias humanas. Americanos têm proteções legais contra tais experimentos, outros, não.
Sobre as possibilidades de manipulação
Creio que o cidadão comum tenha uma ideia muito vaga do funcionamento de programas de computador, como o facebook. O programador é livre para ter qualquer ideia e implementá-la no programa; pense em um videogame: o programador inventa as regras, define tudo o que se vê na tela, todas as possibilidades de ocorrência ali.
O programador pode prestigiar, ou desprestigiar, suas postagens no facebook. Pode destacá-las, ou ocultá-las. Pode omiti-las.
Pode omitir postagens que deveriam chegar a você, ou conduzir você até uma outra. O poder de manipulação do facebook é praticamente ilimitado. O usuário comum nem ao menos compreenderá a manipulação.
Fico imaginando o que ocorrerá em um momento crucial, véspera de uma guerra mundial, por exemplo. Guerreiros e pacifistas travando a primeira batalha, a favor ou contra o conflito. Os antagonistas tentando expor suas versões, ocultar as opostas.
Nesse instante o facebook privilegiará uns, censurará outros, dificultará postagens indesejáveis, impedirá acessos a postagens relevantes, cortará fluxos. Favorecerá linhas infiltradas no inimigo. A facilidade de manipulação é imensa, o controle quase total. É o primeiro ato da guerra não convencional.
Para caçar aves, coloca-se um chamariz, um pássaro com as penas das asas cortadas, em local visível, com bastante alimento. Outros pássaros logo se juntam ao chamariz, constituindo um atrativo cada vez maior para uma multidão deles, todos em busca da segurança do bando. Estamos nos abrigando no galinheiro construído pela raposa. Difícil imaginar como escapar de um ataque, estando lá dentro.
O momento
Estamos vivendo um experimento de guerra não convencional. A tentativa de golpe chega embalada em fortíssima manipulação, muito mais evidente nos meios de comunicação tradicionais; muito mais sutis e efetivas na internet. A censura aqui tem ocorrido sob inúmeras roupagens, a maioria delas imperceptíveis até pelo autor da postagem censurada.
Não sei como as coisas estão acontecendo em outros países, mas aposto em reedição da campanha difamatória iniciada na Venezuela, e repetida aqui. Suspeito que o próximo alvo seja a Rússia. Tenho curiosidade em saber os moldes nos quais a mesma campanha será disseminada na China, mas aposto que, por lá, os manipuladores tenham muito menos traquejo; creio que se sentirão peixes fora d'água. A suposição não exclui a crença em um ataque feroz: a última cartada pacífica americana para manter a hegemonia do poder mundial consiste em desmembrar, ou dissolver a China. Jogarão duro, por lá.
Temo a dissolução dos países, nos moldes atuais. Temo a implementação de uma campanha avassaladora em prol da dissolução de países, governos, nações, e o fortalecimento e a implementação do poder corporativo global e generalizado. Temo que sejamos bombardeados por uma campanha nesse sentido, pressionados a descartar governos para nos submeter ao jugo sem freios das corporações multinacionais.
Também temo uma guerra mundial.
Creio que viveremos, nos próximos 5 anos, os momentos mais agitados da história humana. Tormenta colossal se assoma. Um mundo novo se desvelará. Será a derrocada do ocidente.
Contragolpe leve, sutil, mas eficiente
Uma forma de reduzir nossa sujeição à manipulação consiste na construção de um programa com aparência similar à do facebook, mas de concepção radicalmente diferente, descentralizado, sem um dono. Sugiro um programa nos moldes p2p, sem controle central, baseado em cada usuário. A conexão entre os usuários se daria diretamente, sem a mediação de um dono.
O maior obstáculo à implementação de uma rede nesses moldes, creio, não decorre de embaraços técnicos, mas da dificuldade em disseminar a rede substituta do facebook. O momento de desconfiança decorrente do processo de guerra não-convencional já em andamento é bastante oportuno para isso.
A exemplo de Linus Torvalds, idealizador do Linux, o autor de tal programa tem a promessa de consagração e o agradecimento das multidões semi-libertas.