Live Earth: anunciando uma nova moda ou a maior revolução de todos os tempos?
O dia 07/07/07 ficou marcado como aquele em que o planeta foi tomado de assalto por um dos maiores ou o maior evento musical de todos os tempos. Ao longo de 24 horas, algumas das mais importante cidades, em cinco continentes, estiveram envolvidas em shows musicais simultâneos, organizados pelo ex-presidente dos EUA, Al Gore. Músicos aclamados mundialmente como Roger Waters (Pink Floyd), Sting (The Police), Madonna e muitos outros, além de estrelas do cinema, participaram e demonstraram sua preocupação com as condições da nossa casa, a Terra. Teoricamente, estas “celebridades” representam a voz da razão, clamando por um novo estilo de vida, que se desenvolva em harmonia com a dinâmica planetária. Politicamente corretos e sem intenções não declaradas.
Neste evento, chama a atenção o poder da música e da mídia, que este poder seja utilizado por um político contra a política vigente em seu próprio país (o governo Bush privilegia a manutenção da liderança econômica norte-americana e não a preservação ambiental) e, principalmente, o fato de manifestação de tal envergadura só ter ocorrido agora, sendo que o movimento ecológico ganhou força a partir de experiências realizadas na década de 1970. Enquanto, ao longo de quase três décadas, pesquisadores brandiram seus relatórios, alertando para os perigos do efeito estufa, exploração desordenada de recursos naturais e poluição de toda espécie, a mídia os ignorava ou os tinha por alarmistas exagerados. Este quadro só começou a mudar com o início das negociações para o Protocolo de Kioto e a Agenda 21.
O fato é que em questão não está apenas o zelo pelo planeta, mas também a substituição da atual matriz energética mundial. Quem controla a energia, controla o poder. Há tempos se sabe que as reservas de combustíveis fósseis (petróleo, gás, carvão, xisto betuminoso), sob as quais se ergueu toda uma civilização e um modo de vida, não são infinitas. Neste início de século, elas dão sinais de esgotamento. Mesmo que dominasse completamente os países árabes (onde se localizam grande parte das reservas de gás e petróleo) os EUA, líder econômico, e que nesta condição desejam se manter, não alcançariam o objetivo de saciar sua ambição pelo controle planetário permanente. No momento aquele país está às voltas com o estabelecimento de parcerias e pesquisas para o desenvolvimento de fontes energéticas alternativas e definição de uma nova matriz que provavelmente será o biodiesel.
O que isso tem a ver com o Live Earth? Tudo. A mudança da matriz energética, obrigatoriamente, depende da mudança das formas de vida, assim como da alteração dos códigos de valor. Assim, uma nova ideologia está em formação e é conveniente que as pessoas sejam preparadas para ela. Os governos do mundo inteiro estão negociando o que será a nova ordem política e energética, prontos a encaixar, a todos, em novos padrões. Socialmente, o risco que se corre é que a nova ideologia emergente seja alienatória, mais uma moda, de longa duração ou não, mas que não leve os cidadãos à verdadeira conscientização dos problemas ambientais e sociais. Sair de um padrão para entrar em outro não é exatamente um grande avanço. O Live Earth, sob este prisma, representa a encruzilhada, revolução ou modismo alienatório?
Atualmente há fortes indícios de que as maiores ambições dos donos do poder não estão mais limitados ao nosso planeta. Em recente entrevista um dos desenvolvedores do protocolo TCP/IP, o também diretor do Google, Vinton Cerf, disse que a Internet já está estabelecida e agora os esforços se voltam para a criação de uma rede interplanetária de computadores. Conforme o blog G1, do portal Globo.com, “Cerf também é conhecido por defender a criação de uma internet interplanetária até 2010. Em projeto realizado junto ao Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, ele trabalha para padronizar protocolos utilizados na comunicação espacial -- isso possibilitaria que as pessoas na Terra recebessem dados de veículos espaciais, como aqueles que exploram Marte”. Este ponto faz pensar na posição norte-americana diante das pressões para sua adesão ao Protocolo de Kioto: para ao EUA é mais importante manter a liderança econômica do que preservar o meio ambiente porque sua política não mira mais apenas o recursos deste planeta. Há muito a fazer para se chegar à exploração econômica do espaço, mas certamente esta é a meta e a grande questão é sob quais condições culturais, sociais e trabalhistas se pensa nesta nova realidade futura.
REFERÊNCIA
G1. Internet Está Fora De Controle", Afirma Criador Da Rede. Disponível na Internet em < http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,AA1383007-6174,00.html> Acessado em 10.07.2007.