A FACE OCULTA DA BIPOLARIDADE SOCIAL
O tema é complexo e me proponho (bem sucintamente?) a aqui colocar minha angústia reflexiva.
Houve uma época, bem lá atrás, em que eu me perguntava “aos meus botões” o porquê de os torcedores “rivais” se destruírem nas arquibancadas das arenas futebolísticas, já que a BELÍSSIMA essência de todo o esporte é o desafio da superação de si mesmo junto à promoção do respeito coletivo, mesmo ao perdedor, aquele respeito no qual toda paz social se alicerça.
Analogamente é como se perguntar, por que alguns, no trânsito das grandes cidades e montados nos seus diferentes veiculos, se tornam animais irracionais quando detêm o controle duma direção por um espaço que consideram só “seu ”.
Mais ainda, se nos voltarmos para as guerras religiosas que permeiam a História da Humanidade desde os seus primórdios, como entender, em sã consciência, que pessoas desde pequeninas são treinadas no “espírito” a crerem que o “seu deus” supera em poderes o “deus do outro”, e que em nome dele, tudo é lhe permitido, inclusive explodir seus semelhantes pelos minados campos da vida.
Enfim, olhando os andares das carruagens do tempo, aprendemos que o Homem é sempre o mesmo ser perigoso, em cujo entorno mudam apenas as forças pragmáticas das suas armas: beligerante, traiçoeiro, egoísta, vaidoso (predisposto ao empoderamento do tudo com os nadas de si mesmo!) ,ser ambicioso, arrogante e paradoxalmente carente, disposto a tudo para conquistar aquilo que acredita ser só dele, e o mais incrível, um ser ímpar, predador insuperável, que para aqui veio dotado de força física e mental (inteligência) para abater a todos, inclusive o seu semelhante frente ao menor risco de insatisfação física e material, mormente se insuflado pela frustração emocional.
Ocorre que , por mais que sejamos uma civilização dita “desenvolvida”, somos o resultado social precário de sociedades heterogêneas pelos micros e macros cosmos do planeta, cuja desenvolvida tecnologia já globaliza e evidencia as diferenças implementadas pelas injustiças sociais num mundo em que nossos valores se volatizam rapidamente ao longo do tempo; e, mesmo os que deveriam ser pétreos e nobres para a convivência pacífica, se transformam numa velocidade assustadora, quase sempre para piores conceitos de vida em sociedade.
Nessa nossa tragédia de beligerância sistematizada entre seres, surgem sociedades e Nações cuja violência já arrebenta fronteiras com a vulcânica força resultante de vetor incontrolável que se dissemina a todos, a nada poupar e a tudo tender a destruir.
Frente à angústia do desconhecimento do " de onde viemos" e "para aonde caminhamos", a humanidade insegura nos socorremos em infundadas crenças de ídolos construídos, mortos e vivos mitos patéticos estereotipados de nada, "marketados" e que se derretem no tempo da suas próprias incongruências, nas crescentes insolvências das suas “gestões civilizatórias”.
Tempos difíceis para todos e aqui no Brasil não é diferente.
Vivemos um momento inusitado, de triste e tensa polarização sócio-política, fomentado subliminarmente pelo longo tempo de falsas conquistas sociais; todos cidadãos muitos cansados, espoliados e drenados de sonhos, todos a gritarmos por socorro às mesmas dores, socorro que não nos chega, todos postados numa vitrine de patética representação de marionetes animalescos , numa inacreditável “rinha humanóide” não diferente de qualquer fundamentalismo mundano nunca fundamentado pela razão.
Assim, logo ali pelas paralisadas ruas do todo, como se representados por “dois galos de camisas distintas, caquéticos e já depenados), frente à reivindicação famélica de tudo, disputamos a representação das últimas migalhas dum país destruído, agonizante, andarilho moribundo pelos últimos resquícios das fagulhas dum rescaldo social inacreditável, o desse atual cenário resultante duma miséria holística plantada pelo abandono humanístico que não poupou a absolutamente ninguém...a não ser aos que dela se sustentam.
Paradoxalmente , cidadãos comuns, nos dividimos numa mesma voz de único grito pelas mesmas necessidades não satisfeitas, as de direito natural.
Bipolarizamos o nada da nossa falência projetada numa meta zerada e multiplicada no déficit em tudo.
Volto ao início do meu texto: hoje entendo perfeitamente o que acontece nas perenes arenas de futebol, nas incontáveis igrejas que surgem prometendo salvações às diversas fés, e nos patéticos e nanicos palanques políticos de sempre, a aqui arriscar uma reflexão conclusiva à minha sensação de mundo: nessa nossa profunda carência dolorida “auto depreciativa, equivocada de sustentação e deficitária de prioridade social”, essa que também se soma à nossa biológica essência de seres perdidos pelos nossos caminhos desconhecidos, é mister que tenhamos algo, ainda que seja as pífias representações das nossas tantas dores.
Precisamos sim ser campeões em alguma coisa, nem que seja na ficção das vitórias invisíveis que nos são “gritadas” pelas vozes disfônicas.
Quando tantas misérias cósmicas nos amedrontam e nos acuam a tudo e a todos, somos nós que estamos ali no grito das disputas psicóticas dos pódios que nada ponderam, para ganharmos a luta carnívora e predadora do homem sempre lobo do homem.
Somos nós que nos movimentamos na rinha histórica dos nossos galos sangrentos e despedaçados.
Temos que lutar por cada grãos de milho jogado pelas "mãos bondosas" na terra abandonada e fustigada.
Assim, se a nossa camisa do time do coração , ou se o nosso “deus” ou se nosso mito político forem os campeões da vitrine e do discurso, mesmo que seja numa equivocada e tão pobre vitória, seremos nós que estaremos ali no pódio das surrealidades, artistas vencedores do NADA sobre todas as nossas falências mais íntimas, ali sempre enganadas mas visceralmente aplaudidas.
Pela vida, é preciso se ser efêmera celebridade ao menos por uma vez, ainda que pela voz do outro, no invisível interior sofrido de cada um de nós...
Nós urgimos por gritar “gol!” pelos nossos caminhos.
Porque quando não se tem absolutamente nada do essencial a perder é preciso sonhar que podemos ganhar algo em algum campo de luta visceral, mesmo que suados na “ fraca camisa de força social”.
Não vale só bola na trave! Precisamos balançar nossas redes estáticas pelo tempo.
É da natureza humana...
Qualquer teatro de vitória é válido, nem que for o de se nocautear um “galo-mito” por dia, ainda que hoje continuemos todos igualmente paupérrimos dos principais sentidos humanitários... por todas as direções perdidas.
Ainda que não nos damos conta das enganadoras vozes que espertamente produzem e que falsamente sanam todas as nossas conjuntas dores programáticas...precisamos levantar a bandeira de todas as nossas causas negligenciadas.
Creio que é nessa perigosa carência humanitária, sempre adubada pela concorrência desleal, nesse buraco social e existencial interminável, manipulado e cavado pelos mais espertos que se locupletam das dores humanas, que se baseia o conselho providencial dum dito do povo:
Política, religião e futebol, nunca se discute.
Aprendi que apenas se observa para as necessárias reflexões do meio...
Posto que são instrumentos de manipulação dos cenários sofridos e sempre aguçados, prester a explodir, pêndulos perigosos que bipolarizam social e existencialmente os Homens fracos de consciência, no todo resultante que assistimos da nossa perene psicose humana.
Psicose humana: a que tem face oculta e cujas mãos instigam ao auto flagelamento social pelas tantas explosões fundamentalistas...as que sempre vigoram em nome das vitórias dos “nadas” pelos históricos e tão lamentáveis tempos, os incríveis tempos de agora, inclusive.