O coração do Centro Histórico

A gênese de uma cidade onde resistem casarios e sobrados históricos, templos religiosos e centros administrativos servem como referência para a população. Onde, como e porque as cidades se desenvolveram de tal maneira? Algumas cidades priorizam a preservação dos centros históricos e conjuntos arquitetônicos no intuito de oferecer aos cidadãos o direito à memória e o contato com a história local. Entretanto, muitas cidades relegam ao esquecimento tudo que remete ao passado perpetuando a síndrome da modernidade e que o “velho” deve ser suprimido para dar lugar ao “novo”. Um ideal progressista que culminou na destruição dos elementos históricos e naturais do meio urbano e trouxe um desamparo afetivo que as “coisas velhas” podem evocar. As memórias que sobrevivem em cada fresta e rachadura promovem o bem estar e a qualidade de vida das pessoas que se reconhecem em cada detalhe da urbe. Os álbuns de família, os monumentos, as edificações e as paisagens fornecem sentido e significado para a compreensão da realidade.

Na cidade de Torres/RS, o conjunto arquitetônico de relevância histórica vem se perdendo nas últimas décadas. Casarios e sobrados centenários foram relegados ao descaso provocando uma profunda ruptura no sentimento de pertencimento e identidade local. As fachadas e adereços do patrimônio edificado são re-significados sem sua contextualização histórica e ferem o direito à memória social. Os centros históricos são cápsulas que propiciam o saborear do tempo favorecendo a percepção das mudanças e permanências evidentes no cotidiano. No coração da “zona antiga” de Torres a praça Cel. Severiano Rodrigues da Silva foi implantada na década de 1950 com um arrojado projeto paisagístico que propicia um panorama deslumbrante da lagoa do Violão, dos logradouros históricos e suas edificações assentada na encosta da Torre Norte (Morro do Farol) onde habita a singela Igreja São Domingos das Torres, uma peculiar construção colonial de 1824. Com o processo de restauração da igreja concluído, a revitalização do seu entorno torna-se fundamental. Inicia com a supressão das árvores exóticas da praça Cel. Severiano Rodrigues da Silva e manejo das calçadas e bancos perfilados nos três níveis de terraço com um ajardinamento decente que valorize o centro histórico e sua paisagem original. Assim podemos privilegiar as palmeiras- reais que ali já estão há um pouco mais de meio século e o visual da igreja restaurada é devolvido para a população. Um ambiente arejado onde as pessoas podem transitar livremente sentindo o pulsar da História embebidos na poesia da Natureza. O desafio atual é reintegrar e revitalizar o Centro Histórico como o berço dos torrenses, um local de memórias e identidades, cotidianos e sonhos que transformaram o ambiente e a cultura. Só preservamos aquilo que conhecemos, criamos laços afetivos e valorizamos o que é de todos plantando uma semente de amor pela nossa terra onde o Centro Histórico mora em nossos corações!

Publicado no Jornal Litoral Norte/RS e Jornal A Folha/Torres.

Leonardo Gedeon
Enviado por Leonardo Gedeon em 31/03/2016
Código do texto: T5590660
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