Semestralmente as Lojas maçônicas divulgam entre os seus membros a chamada palavra semestral, que é uma senha de uso nacional, passada de Irmão para Irmão atrávés da Cadeia da União. Essa é uma prática comum entre as sociedades iniciáticas, que serve para reconhecimento entre seus membros em todas as partes do mundo.
M. MacGregor Mathers, no preâmbulo da obra Kabbalah Revelada, de Knor Von Rosenroth escreve: “Grande importância é dada ao ideal de fraternidade. A potência da fraternidade sempre foi um fato essencial em uma ordem oculta, separada do seu ideal altruísta; há também o espiritual e o físico. Qualquer ramo na harmonia de um círculo permitirá a entrada de uma força oposta. Um espiritualista experiente testemunhará a favor da verdade desta afirmação.”[1]
Quer dizer: tanto na Cabala, quanto na Maçonaria, é a força da egrégora que leva o grupo á consecução do seu objetivo. O processo assim o exige, pois como já está mais que provado, a lei que rege a formação do universo é a Lei da União. Essa Lei se define pelo fato de todos os corpos existentes no universo, orgânicos e inorgânicos, serem construídos de forma a buscar no ambiente outros corpos para com eles fazer interação. A própria massa física do universo é resultado de uma rede de relações estabelecidas entre componentes atômicos que se entrechocam, se cruzam e se recriam como átomos, moléculas, compostos, elementos químicos, organismos etc. Assim, pode-se dizer que o universo, que antes era UM, saiu das mãos de Deus caótico, pulverizado, fragmentado. Mas ao longo das flechas do tempo e do espaço ele vai se rejuntando e se tornando novamente uma unidade.
Esse é o sentido que a Maçonaria dá ao tema da União. Essa é mais uma alegoria que os maçons espiritualistas emprestaram da Cabala. A União Fraternal se realiza na construção do edifício universal, obra essa da qual os maçons são os pedreiros, sendo nisso guiados pelos seus Mestres, que são os Arcanjos. E todos obedecendo aos planos traçados pelo Grande Arquiteto do Universo, que é Deus.
Por isso a Maçonaria foi buscar no Templo de Salomão a sua alegoria mais significativa. Esse Templo, pelo simbolismo que ele encerra, é a maquete mística do universo, desenhado segundo os mesmos planos que o Grande Arquiteto do Universo concebeu para o mundo. Assim nos ensina a Cabala, mostrando o desenho do universo físico e espiritual como sendo semelhante á uma espécie de árvore ( a Árvore da Vida) que vai sendo formada á medida que a Energia Divina se espalha pelo nada cósmico.
Como se sabe, o Templo de Salomão foi construído a partir do modelo que Deus transmitiu a Moisés para a construção do Tabernáculo. O Tabernáculo, como se sabe, era uma tenda, uma espécie de Templo ambulante, que serviria para o culto dos israelitas enquanto eles vivessem no deserto. Essa tenda foi construída segundo proporções místicas e secretas, ornada com utensílios simbólicos, que representavam etapas de construção da matéria universal, pois ele se destinava a servir como a Casa de Deus na Terra. Assim também era considerado o Templo de Salomão, por isso se considera que esse edifício era um simulacro, uma maquete do universo, uma reprodução do cosmo na terra, pois a morada do Senhor é todo o universo.
A Bíblia diz que Moisés consagrou o Tabernáculo na forma como o Grande Arquiteto do Universo lhe havia ordenado, santificando depois a Aarão como seu primeiro Sumo Sacerdote, espargindo sobre a sua cabeça o óleo precioso que escorreu para suas vestes e desceu até ás orlas do seu vestido. Ou seja, derramou-se pela terra. Assim, na sagração do Tabernáculo e na unção do seu sacerdote, consumou-se a União que doravante deveria existir entre Jeová e seu povo, União essa que seria sacramentada toda vez que o povo eleito se reunisse em Assembleia. Era, pois a instituição da Loja, com todo o sentido simbólico que ela representa, que ali estava sendo realizada.
A Cabala explica esse simbolismo da seguinte forma: a barba é o fluxo (de energia) que nasce na primeira sefiroth (Kether) e percorre toda a Árvore da Vida (o universo) unificando a totalidade das realidades existentes no mundo. A Árvore Sefirótica, como se sabe, é uma representação simbólica do universo como realidade macro e projeta o seu reflexo no homem como realidade micro.
A palavra barba, em hebraico se escreve Hachad. Seu significado é de unidade, pois ela corresponde ao número um. Por aplicação da técnica chamada gematria essa palavra, quando decomposta em suas letras, tem valor numérico igual a 13. (A=1, CH=8, d=4 = 13). Esses valores correspondem às partes da barba do Macroprosopo, também chamado de Andrógino Superior ou Vasto Semblante, simbolismo usado pelos cabalistas para designar a Energia Divina que se espalha pelo espaço cósmico, unificando a realidade que ela formata, na figura do Homem Universal, chamado Adão Kadmon. Na Siphra Dtzeniovtha, (O Livro do Mistério Oculto), se diz que “ da barba, menciona-se que não foi feita nem criada. Esta é o ornamento do todo. Ela procede dos ouvidos e tem o aspecto de uma circunferência que se expande constantemente pelo espaço aberto, enquanto seus caracóis sobem e descem. Está dividida em treze partes que pendem com treze adornos.”[2]
A barba, portanto, no simbolismo da Cabala, é a energia que unifica o total existente no Cosmo, fazendo dessa totalidade dispersa uma unidade, ou seja, um Universo. Simboliza, pois, a energia que unifica, ou seja, ela é a argamassa que dá liga ao mundo para que ele seja um organismo único. É o símbolo da União. Para os judeus, a invocação desse salmo designava o espirito de unidade e fraternidade que devia imperar entre o povo de Deus. Essa Irmandade era simbolizada pela Barba de Aarão, uma imagem da Árvore da Vida, a qual o fluxo da energia divina percorria desde a cabeça (a séfiroth Kether) até a orla dos seus vestidos, ou seja, os pés, representados pela sefiroth Malkuth.
Assim, o Salmo 133, na verdade, é um simbolismo que está centrado em um segredo arcano de extraordinário significado, e a Maçonaria, ao adotá-lo na abertura de suas Lojas não está apenas contemplando a idéia da Fraternidade pura e simples, mas realizando o objetivo cósmico de integração total de todas as emanações da energia divina. Trata-se, na verdade, de um mantra poderoso, uma âncora fundamental para o eliciamento da energia cósmica necessária para a formação da egrégora maçônica.
[1] A Kabbalah Revelada- Ed. Madras, 2004
[2] A Kabbalah Revalada, citado, pg. 89.