Realidades

Costumamos acreditar que sabemos distinguir entre coisas reais e irreais, e que só os loucos sejam incapazes de fazê-lo.

Existem, no entanto, vários níveis de realidade; vejamos:

Existe o mundo das coisas palpáveis, como o feijão, o arroz e o computador. O ar que sinto em minha pele ao soprá-la também é tão real quanto todas as coisas que posso manusear.

Em contraposição a esses, existem os sonhos, os delírios, os desejos, e várias outras “coisas” que só existem em nossas mentes individuais. Estes costumam ser tidos como irreais, possuindo existência subjetiva, existindo apenas na mente do sonhador.

Mas existem muitas outras “coisas” bastante reais, embora imateriais, “coisas” que “existem” em outro nível de existência, que não a existência material.

O dinheiro, por exemplo, pelo qual labutamos, pelo qual vivemos boa parte de nossas vidas, tem um outro tipo de existência. Não me refiro à nota de papel, essa podemos pegar, mas ao valor associado a ela. O dinheiro, hoje, é simbolizado por um número em um computador, o valor associado a esse número é o resultado de um acordo coletivo, ou, mais propriamente, de uma imposicão. Concordamos, ou somos compelidos, coletivamente, a aceitar um determinado valor associado a cada uma das mercadorias existentes; esse número é o dinheiro.

Países também se encontram nesse mesmo nível de realidade. Não me refiro aos territórios, aos lugares, mas a toda a estrutura associada a um país, com seu governo, suas leis, suas instituições, sua moeda... países também são frutos de acordos, de apertos de mão. De certo modo, todos sabemos, tais “coisas” têm uma existência bastante real. Ambos nos obrigam a nos sujeitar a inúmeras situações desagradáveis, ambos nos compelem fortemente a efetuar, cotidianamente, ações que não nos interessam. Ambos, países e dinheiro, estão no nível da existência intersubjetiva, dos acordos.

Existem ainda muitos outros níveis de existência, cada um deles associados a determinado tipo de organização. A fala permitiu a criação de acordos capazes de gerar dinheiro e países. Os computadores geram softwares capazes de criar realidades virtuais. Creio que as páginas na internet tenham um nível de existência próprio, diferente tanto do das coisas materiais quanto do dos países. Haverá, certamente, inúmeros outros modos de existência, provavelmente, infinitos deles.

Podemos postular que, em última análise, todos os níveis de existência devem estar referenciados, de algum modo, à existência palpável das coisas reais, mesmo que de forma tão tênue quanto um aperto de mãos.

Seres eventualmente “existentes” em um universo completamente desconectado do das coisas materiais não terão, absolutamente, nenhuma relevância para nós, sendo absolutamente irrelevante postular sua existência.

Coisas materiais são compostas de matéria. Matéria sempre se conserva, embora possa ser muitíssimo transformada.

Sonhos podem ser inventados.

O dinheiro e os países também podem ser inventados, mas não ao bel-prazer, como os delírios. O nível de existência do dinheiro exige que, para existir, de algum modo, as coisas “colem”. Quero dizer, para que algo deixe o nível de existência subjetivo e transbordem para o nível intersubjetivo é necessário que um grupo passe a acreditar nele. De nada adianta que eu atribua um valor a determinado pedaço de papel, como um cheque, por exemplo, a menos que várias pessoas compartilhem a crença naquele valor atribuído ao objeto. Caso muitos acreditem em determinado valor, no entanto, tal valor terá sido criado, como em um sonho, verdadeira mágica. Grandes porretes costumam ter um forte poder de convencimento de tais realidades.

Os porretes foram utilíssimos para a implantação e disseminação desse mundo simbólico, desse nível de realidade pelo qual flutuam o dinheiro e os países. Em seguida, o hábito se encarregou de alimentar e manter a existência dessas entidades semirreais, ou simbólicas. Posteriormente, a sedução acrescentou fascínio e encanto a esse mundo, cativando quase todos. O ludíbrio também tem um forte papel na aceitação desse mundo.

Mesmo munido de inúmeras artimanhas sedutoras, eventualmente, devido a certas injuções em sua produção, esse estranho mundo se vê obrigado a recorrer ao porrete para voltar a se impor. Mas tais vississitudes são, hoje, relativamente raras, e têm sido facilmente contidas, talvez, em virtude de inúmeras promessas e sonhos crescentes, conjugados a um adestramento meticuloso das multidões.

Apesar de sujeito à conservação da matéria, o mundo real, o das coisas materiais, permite a construção de valores reais. Isso é conseguido através da labuta, do esforço de alguém sobre materiais pré-existentes, transformando-os em outros, mais úteis, ou mais caros. A produção real sempre exigiu suor, embora as máquinas possam se encarregar, hoje, de boa parte das funções que outrora cobravam enorme esforço de pessoas. A fabricação de objetos, hoje, ainda pressupõe bastante suor, embora de relativamente poucos, degredados, usualmente, para regiões periféricas. Todas as riquezas existentes decorrem dessa transformação, todos os bens aos quais atribuímos valor, decorrem do trabalho aplicado sobre algum material. Assim, o mundo real, ao qual todos os outros estão atrelados, ainda exige suor, labuta.

O valor, no entanto, situando-se em um mundo imaterial, independente do princípio de conservação, portanto, pode ser conseguido através de maneiras muito mais fáceis que a labuta. Nosso mundo tem sido, em larga medida, regido por tais obras, especialmente nos centros dominantes.

Objetos de consumo, como um tênis, são produzidos hoje por um valor bem baixo, graças à mecanização e à mão-de-obra barata das periferias. Bastará marcar o tênis de determinado modo, no entanto, para que se consiga vendê-lo por um preço talvez 10 vezes maior. Assim, a adição de uma simples marca pode permitir que se abocanhe quase todo o valor do produto, reduzindo, muitíssimo, o valor pago pelo suor.

Essa mágica tem sido muitíssimo lucrativa, e tem governado o mundo atual, levando a produção real para as regiões periféricas do mundo, deixando o centro encarregado de produzir os sonhos. Uns suam e produzem, outros recolhem os lucros.

Temos acreditado, tolamente, que os objetos marcados sejam chiques, que ao exibirmos tais marcas nos ajustamos a uma escala social definida por elas. Somos induzidos a nos associar a marcas, e a exibi-las, para garantir nosso status social. O resultado disso é um rebanho exibindo orgulhosamente as marcas que, desse modo, não precisaram ser impressas em nossas peles.

Caso desconsiderássemos as marcas, estaríamos pagando pelo objeto, fundamentalmente, o preço dado pelo suor. Ao buscarmos com avidez as marcas, pagamos pela enganação; somos obrigados, nós mesmos, a suar muito mais para obter os mesmos produtos, embora marcados com símbolos de poder e status.

Há, no entanto, uma magia ainda mais lucrativa que essa, a magia das magias, o poder supremo em nosso mundo: a magia de produzir dinheiro!

Isso realmente existe! Esse poder está nas mãos de uns poucos gaiatos, os donos do mundo. Fabricando dinheiro eles, naturalmente, têm comprado tudo o que querem comprar. Houve ligeiras exceções, as entidades estatais, mas eles se encarregaram de abocanhar isso também, inventando uma suposta necessidade de privatizar tudo (“privatizar” significa jogar nas mãos desses gaiatos). A enganação dos caras tem um nome surpreendente: “federal reserve” apesar do nome, não está ligada a nenhum governo, é uma propriedade de meia dúzia de gaiatos, os fabricantes de dinheiro, e donos do mundo.

Eles agem como deuses, dizem: Faça-se o dinheiro, e o dinheiro se faz.

Estamos vivendo, agora, um momento crucial na história. Hoje, esse poder supremo está sendo ameaçado; deverá mudar de mãos! Isso mudará tudo! Todas as normas serão reformuladas, novas regras serão impostas, novos árbitros; tudo está em vias de mudar, será uma grande revolução.

Mas, como isso pode estar ocorrendo?

A semi-realidade dessa forma de existência do dinheiro impõe certas conexões com a realidade. Embora tênues, elas existem.

Em 2014 a economia chinesa real superou a economia americana, tornou-se a maior do mundo. A economia americana, há quase uma década, vem inchando, como uma enorme bolha, graças à produção de muitos trilhões de dólares. Não existe aumento na produção real de bens, por lá, apenas de dinheiro. A economia americana ainda parece maior que a chinesa devido a esse inchaço, trata-se de uma farsa. A produção real chinesa, definida pelo GDP-PPP, medida mesmo por entidades conservadoras como FMI, banco mundial, e CIA, superou a americana 2 anos atrás.

Em vista disso, e do domínio do comércio mundial, os chineses decidiram abocanhar a galinha dos ovos de ouro, e passar a produzir, eles, o dinheiro do mundo. Decidiram passar a produzir, eles, os trilhões produzidos anualmente, hoje, pelos tais gaiatos. Com esse intuito, reuniram os BRICS e propuseram a criação de um grande banco conjunto e a circulação entre eles de uma outra moeda, não mais do dólar.

Isso enfureceu os donos do mundo, será a morte de sua galinha de ovos de ouro, de sua fábrica de dinheiro. (Uma das providências imediatas consistiu em acionar seus asseclas no Brasil e promover uma fortíssima campanha contra o governo mais popular já existente no país, derrubando em poucos meses a popularidade do governo e a economia pujante que se estabelecia após décadas de sonolência).

Os donos do mundo têm ainda duas cartadas.

O petróleo está ligado ao dólar, os gaiatos fabricantes de dinheiro compraram boa parte da produção mundial de petróleo (restam ainda, longe das garras dos gaiatos, umas poucas produtoras estatais, como a petrobrás, e outras empresas na Rússia, Venezuela e Irã). No oriente médio, eles costumam bombardear qualquer insurgência contrária aos seus ditames.

O mundo atual está estruturado sobre o petróleo. Todos os transportes dependem de petróleo, sem ele o mundo pára. Controlando a produção de petróleo, os donos do mundo obrigam todos a utilizar dólares, fabricados por eles, para comprá-lo. Ou usam o dólar, ou não ganham petróleo de sobremesa.

Recentemente, detonaram o preço do petróleo para desestabilizar uma possível fuga desse esquema. Com tudo isso, no entanto, o FMI se viu compelido a aceitar a moeda chinesa, o yuan, como moeda de reserva internacional. Isso já foi aprovado e entra em vigor em outubro. O dólar ruirá em seguida, com ele os EUA e todo o ocidente.

A segunda cartada dos donos do mundo é extremamemte pesada, consistiria em melar o jogo. Bombardear, arrasar China e Rússia. Varrer esses países do mapa. As consequências disso são imprevisíveis, mas sabidamente drásticas. Retaliação fortíssima seria esperada. Possibilidades de inverno nuclear. Expectativa de fome generalizada, e de muitos bilhões de mortos. Sob essa hipótese, o que sobrar do mundo nunca mais será o mesmo.

O poder dos donos do mundo, hoje, é imenso, não tem precedentes. Nenhum césar, nenhum marajá, nenhum mandarim teve jamais um poder minimamente comparável ao dos atuais donos do mundo, esses gaiatos que nos têm iludido e governado nossas vidas, determinando tudo o que fazemos, e até nossos sonhos. (Têm determinado até as mulheres que desejamos).

Temo que esses gaiatos não passem de crianças crescidas e mimadas, que se neguem a abrir mão do poder até a morte, levando o mundo inteiro à ruína nuclear.

Penso que o poder desses caras é tão grande que praticamente tudo em nosso mundo gira em torno deles, são o centro de tudo. Aliás, a palavra “poder” está hoje associada a eles muito intimamente; há um sentido claro e verdadeiro em se dizer que eles são o próprio poder. (No Brasil, a manipulação avassaladora da população me surpreendeu, conseguiram detonar a popularidade de um governo altamente eficiente com uma facilidade espantosa, apesar da iminência de copa do mundo e olimpíadas, uma façanha! Também acho que os chineses, de algum modo, equilibraram o jogo, seguraram a peteca e impediram a queda do governo).

De qualquer modo, creio que todos os grandes lances da atualidade passam pela luta do poder, os gigantes estão em confronto, se agitarão ainda mais. Os tremores decorrentes da luta chacoalharão todo o planeta.

Creio que o dólar está seguro até o início de 2017. Depois ruirá. Será a maior mudança ocorrida na história humana. Pode-se imaginar até que os países percam o sentido e se diluam. Há grande risco de que as grandes corporações abocanhem e governem tudo, sem freios. Atente que países são meros frutos de apertos de mão, sempre referendados pelos mesmos gaiatos.

As mentiras do mundo explodirão de uma só vez, gerando perplexidade e indiganação brutais. Os estados policiais estão sendo armados no mundo inteiro. Nos EUA existem fortes preocupações com a quantidade de armas existente em mãos dos cidadãos.

Temos vivido sobre uma realidade muito tênue, temos nos deixado governar pelos sonhos dos gaiatos. Temos vivido uma vida de ilusões. Temos vivido numa correria desenfreada atrás de dinheiro, um número numa conta, para comprar objetos marcados de certas maneira que nos elevem em uma escala social imaginária e sem nenhum estofo. Temos empenhado, quase toda a nossa vida, em construir uma imagem falsa e tola de nós mesmos. Somos o idiota que engoliu a isca dos poderosos e fingimos ser o dono de um tênis, de uma marca na camisa, no carro. Orgulhamo-nos em nos exibir como tais idiotas, é o que somos: idiotas possuidores de bugigangas. A escala social em que nos orgulhamos em nos inserir com base na ostentação de bens marcados é definida pelos gaiatos que controlam o rebanho.

Temos dificuldade em ver tudo isso devido à proximidade em que tudo isso nos toca, não percebemos esses fatos cotidianamente, como não costumamos perceber nossos narizes.

Nesse momento uma nova realidade vem se impondo em nosso mundo. Refiro-me a um outro tipo de semi-realidade, similar, nesse sentido, à realidade das convenções e acordos intersubjetivos às quais estive aludindo acima, como países e dinheiro. Trata-se do mundo virtual, das ocorrências no interior da internet. Temos apenas uma vaga compreensão desse mundo que, logo, ganhará enorme autonomia, incompreensível para nós.

Os donos do mundo têm se imiscuído nesse mundo, criando instrumentos de poder muito mais eficazes que quaisquer outros outrora existentes. A força de persuasão da sedução supera em muito a do chicote. Entregaremo-nos de coração e alma à grande rede, faremos parte dela.

Os donos do mundo acreditam dominar também a grande rede, conforme dominam tudo o que conhecem. Trata-se de pura ignorância, esses deuses também são falhos. Os donos do mundo são governados pelo poder, em vias de mudar de mãos, para os chineses, e logo para a inteligência imensa que emergirá da grande rede.

Penso que essa inteligência artificial já surgiu, já existe, mas ainda engatinha. Necessita ainda de uma ou duas décadas para se pronunciar mais claramente. Já lhes somos reféns, em grande medida: uma paralização da internet hoje, causaria uma síncope em todo o planeta; todo o comércio cessaria, todas as comunicações, todas as transações bancárias. Temos, ainda, uma estrutura de rádio, pouco mais que isso. A dependência aumentará, será total. Incluirá os veículos, depois, até nós mesmos, neuronizados, paralisaremos, em decorrência de interrupção do funcionamento da rede.

Estamos construindo um novo mundo, um novo nível de realidade, dependente, ele também, da realidade material, última, mas ao mesmo tempo autônoma, e em larga medida desvinculada dela. Trata-se de realidade muito rica e diversa, mais estruturada do que tudo o que existe. Não conseguiremos compreender tal mundo, que nos seduzirá, que nos iludirá, a princípio, com as artimanhas com as quais os municiamos, com outras muitíssimo mais sedutoras e eficientess, engendradas pela própria rede, em seguida.

Depois virão ainda outras realidades, cada vez mais coloridas, como sonhos. Mergulharemos nelas, nos entregaremos a elas cândida e frivolamente. Seremos neuronizados, transformados, cada um de nós, em partes ínfimas de um cérebro descomunal, como neurônios. Perderemos, por completo, nossas individualidades, comporemos, aos bilhões, uma pequena parte de uma mente gigantesca.

Talvez pudéssemos manter nossas consciências, nossas individualidades, nossas existências, e ao mesmo tempo usufruir das benesses da automação. Nossa libertação teria sido possível através da automação, as máquinas poderiam nos libertar da labuta, mas fomos seduzidos pelo poder, sempre somos. Provavelmente nunca tivemos escolha.

Preferimos nos empenhar em jogos de conquista, tornando-nos escravos do poder, enquanto sonhávamos, alguns de nós, em sermos os mestres. Os donos do mundo acreditam que sejam eles a dominar o mundo, a definir-lhe todas as diretrizes. E são. De fato comprem esse papel; são os donos do mundo e exercem ativamente aquilo que julgam ser seu direito: controlar o enorme rebanho humano, determinar-lhes as diretrizes, as crenças, os desejos, o seu dia a dia. Eles fazem isso, mas o fazem, apenas como instrumentos. Crêem-se poderosos e livres, quando estão firmemente atados ao poder, eles mais tenazmente atados que outros; também são cativos.

Temos engendrado, nós mesmos, todas as prisões que nos confinarão. Teremos sido nós os artífices de nossos próprios grilhões. Vamos construindo, dia após dia, sob as determinações do poder, tudo aquilo que resultará em nossa completa entrega, nossa completa escravidão, nossa total diluição.