Tempos de mudança
Costumamos pensar no mundo como imutável, como se as definições geopolíticas fossem eternas, não são. Países são apenas o fruto de acordos, de relações. Em última instância, um país é o resultado de apertos de mãos. Daqui a 2 anos, talvez, o traçado do mundo pode estar irreconhecível, sem nenhum dos países atuais. Talvez nem mais existam países em 2 anos. Pessoas têm uma existência mais palpável do que países, ainda que um tempo de vida costumeiramente menor.
Hoje, em 2016, o mundo encontra-se em um impasse surpreendente. Milênios atrás, disseminou-se pelo mundo o costume de trocar mercadorias por metais; foi o surgimento da moeda. Séculos atrás, substituiu-se o uso do metal pelo de um papel, uma promissória, garantindo sua troca por certa quantidade de metal. Nossas vidas têm girado em torno desse papel, agora transformado em um número em um computador. Décadas atrás, passaram a emitir tais papéis sem nenhuma restrição, conforme a vontade.
Havia, no início, certo pudor, certa parcimônia; parecia adequado tentar conter a tentação de fazer dinheiro conforme a gula. Mas as novidades de ontem acabam se tornando naturais e corriqueiras, e assim, passa a ser natural, hoje, fazer um bilhão de dinheiros, amanhã 2, depois 3. 10 bilhões já não impressionam a quem possui 9.
Assim, naturalmente, aqueles que produziam dinheiro passaram a produzir mais e mais. É aquele mesmo dinheiro pelo qual labutamos em nosso dia a dia. Ele é feito por uns gaiatos gulosos que o fazem como se fossem deuses. Dizem: Faça-se o dinheiro, e o dinheiro é feito; trata-se apenas de um número em uma planilha.
Naturalmente, esses gaiatos tinham que distribuir esse dinheiro com seus comparsas, ou alguém mais forte lhes tomaria esse privilégio. Foram tecidas redes de relacionamentos com tais propósitos. Os países, em especial, têm esse propósito, garantir privilégios como esse (talvez “fazer dinheiro” seja o maior de todos os privilégios no mundo de hoje).
Ou seja, países são criados com o propósito de assegurar privilégios desse tipo. As pessoas apertam as mãos, assinam papéis, determinam relações, e estão criados os países. Países criam, entre outras coisas, exércitos. Exércitos, entre outros, garantem a existência do país, entidade que assegura o privilégio dos poderosos.
Tendemos a acreditar na “palpabilidade” dos países, (permitam-me a expressão). São meros acordos, extremamente frágeis, especialmente os países periféricos. Parecem robustos na medida em que favorecem os desejosdos poderosos.
As redes de relacionamentos reais tendem hoje, ainda, a se aglutinar localmente. Isso foi absolutamente natural e virtualmente intransponível até poucas décadas atrás, quando éramos compelidos a nos relacionar, exclusivamente, com pessoas nas cercanias.
Essa restrição gerou os países atuais. Foram redes de relacionamento estabelecidas pelos poderosos locais. Por essa razão os países possuem um território.
O poder central encontra-se atualmente localizado nos Estados Unidos. Lá estão os que fabricam dinheiro, e a maioria de seus comparsas, os que repartem esses e outros lucros fáceis e extraordinários. Lá está também o grande porrete, uma poderosíssima rede de bases militares espalhada pelo mundo todo, recheada de armas inimagináveis.
Os poderosos inventaram ainda outras “maneiras mágicas” de ganhar dinheiro, constituem o mundo das finanças. Pode-se decuplicar o valor de uma dada companhia colocando-se suas ações à venda na bolsa de valores. Note que nada real terá sido criado, exceto um valor financeiro, um número em uma planilha. Aliás, para criar dinheiro hoje basta digitar um número no lugar correto e o valor estará criado. Se uma pessoa comum fizer isso será presa. Só a uns poucos é dado o direito de executar esse golpe.
Também se podem criar “valores mágicos” adicionando uma marca a um objeto. Pegue um tênis de 5 dólares, acrescente nele uma certa marca e conseguirá vendê-lo por 50. Note que os que labutam para produzir o tênis terão que dividir os 5 dólares recebidos pela venda do objeto, outros, muito menos numerosos, receberão os 45 decorrentes da imposição da marca.
Trata-se, obviamente, de dinheiro fácil, e os poderosos foram repassando tais empreendimentos para seus comparsas ao redor. Os países ricos, então, passaram a se especializar nessas atividades lucrativas, e trataram de empurrar a parte onerosa para populações distantes. Assim, a produção real foi quase toda transferida para a Ásia, enquanto os poderosos se entretinham, apenas, em recolher os lucros (também nunca se esqueceram das armas).
Desse modo, os asiáticos, especialmente os chineses, acabaram dominando o mundo real, o mundo das coisas palpáveis e do suor. Eles produzem os objetos; outros, no entanto, colocam a marca e embolsam quase toda a grana da venda. Os poderosos se deslocaram para o mundo das finanças, dos símbolos, apenas recolhem lucros.
Bem, os chineses acabaram ficando ricos e não querem mais ser feitos de otários. Também querem meter a mão nesse bolo dominado pelos atuais donos do mundo. Pensaram: por que só esses caras podem fazer dinheiro? Quero fazer também. Imaginaram, então, algo bem simples, criar uma moeda para trocar seus produtos. Então se juntaram com outros insatisfeitos, fizeram os BRICS e disseram, vamos fazer um grande banco, e utilizar nele nossa própria moeda, abandonando o dólar.
Mas os poderosos, os donos do mundo, abominaram tal ideia. Se isso acontecer ninguém mais vai querer receber dólar, que assim não comprará mais nada; e não adiantaria nada produzir um dinheiro sem valor. Então os donos do mundo se indignaram com a ideia!
Lembram que o Brasil estava de vento em popa? Que estava dando tudo certo por aqui, que tínhamos conseguido trazer a Copa, Olimpíadas, que o país crescia, que estávamos no centro das atenções mundiais e que a Dilma tinha uma popularidade sem precedentes?
Pois é, acho que os poderosos estavam nos dando um empurrãozínho, acho que tinham planos de nos alçar e nos apresentar como opção ao modelo chinês e ao russo. Mas aí ousamos entrar nos BRICS e desafiar os poderosos. Eles então resolveram melar tudo por aqui. Foi bem fácil. Somos muito tolos e ignorantes. E eles dominam nossos meios de comunicação. Talvez tenha bastado nos dividir, fazer metade do time jogar contra.
Mas a ideia óbvia de se desvincular do dólar persiste, e é o grande temor dos poderosos, mataria sua galinha dos ovos de ouro. Eles têm produzido trilhões de dinheiros com sua varinha mágica, usarão o porrete para continuar fazendo isso.
O grande impasse atual, então, é esse. Os donos do mundo querem continuar a fabricar dinheiro. Outros querem que essa tramoia acabe. Os donos do mundo têm um enorme porrete, mas os outros
estão construindo porretes imensos que logo superarão os atuais. Os donos do mundo sabem que isso está ocorrendo, sabem que seu porrete logo será superado. Daí meu temor de um ataque nuclear arrasador à China e à Rússia. em 2017, após a posse do novo presidente americano. Tenho medo.
As consequências disso serão nefastas para todos, uma catástrofe sem precedentes.
Se não houver uma guerra, no entanto, logo o poder mundial mudará de mãos. Quando isso ocorrer haverá mudanças de regras, de árbitros. Não será mais permitido a um grupinho produzir o dinheiro que nós temos que suar para conseguir umas migalhas. Os Estados Unidos degringolarão, implodirão. Todo o ocidente ruirá com ele. Todo o mundo sentirá o fortíssimo impacto. Difícil imaginar o que emergirá daí. Creio que o mapa do mundo será completamente redesenhado. Não se descartam pesadelos como uma reestruturação neofeudal, ou a dissolução dos estados protagonizada e regida por corporações gigantescas e gulosas.
Uma imensa onda deve varrer o mundo após a posse do próximo presidente americano. Revolverá tudo o que há, todas as nossas estruturas, todos os nossos acordos. Revelará inúmeras mentiras, falcatruas gigantescas e absurdas. Estados policiais estão sendo construídos, ensaiados e fortalecidos pelo mundo inteiro para obrigar as pessoas a continuar a usar os mesmos arreios que temos usado, a permitir os mesmos privilégios aos poderosos. Tempos de mudança se assomam.