Amor, tardio amor...
Quando era jovem, tinha a cabeça cheia de idéias, que beiravam a imbecilidade. O campo que tive menos sucesso, foi o do amor.
Por alguma razão misteriosa, não soube amar como gostaria de ser amado. E como tivesse tratado desse assunto com superficialidade, tornou-se um dos meus maiores pesares.
Para mim, amor era coisa que o homem impunha à mulher, pois ela era por essência recalcitrante. O único modo de agir era subjugá-la. Uma historia de amor era em primeiro lugar, uma historia de conquista, depois uma história de ocupação, nunca de amizade e igualdade. Pura relação de força, na qual o homem tinha interesse em se manter na posição dominante. Nem pensar em " deixar-se levar ", mesmo depois de ela se render. Como a dominação era ilegítima, ele devia " vigiar " ( ciúme) constantemente sua conquistada, devia mantê-la sob sua influência, se quisesse evitar que ele se rebelasse. Impossível imaginar uma relação harmoniosa, uma relação baseada na troca ou numa igualdade qualquer dos parceiros.
Ainda fico me perguntando de onde vinham aquelas idéias idiotas que deterioraram minhas histórias de amor e até um casamento de quase 25 anos. Com aquela concepção imperialista na cabeça, me sentia o " Sr. Patrão " e me esforçava por me comportar como potencia ocupante. Minha busca amorosa se resumia em zelar pelo território que achava " conquistado ".
Resultado: eu amava, às vezes loucamente, mas não era amado. Ou melhor, mesmo quando era amado - isso às vezes até acontecia - eu não me sentia amado, porque para que isso pudesse vir a ocorrer, seria preciso depor as armas e concordar em deixar de ser o manda chuva, coisa para o qual não estava preparado.
As histórias que vivi naquela época de grande imbecilidade, me deixaram amargas lembranças e algumas marcas de sofrimento físico e emocional. Estava claro, que alguma mulher podia ter se sentido felicissima em poder compartilhar comigo alguns momentos de imenso carinho e, até ter tido muita vontade de fazer amor comigo, mas como eu mantinha o rumo imperialista e inflexivel, com o passar dos anos, esse sentimento ía-se evaporando e a desperança torna-se inevitável.
Que tristeza ter perdido tanto tempo e tantas oportunidades de felicidade verdadeira. Tantos anos depois, ainda sinto a impressão de que eu não sei me deixar amar...
Felizmente, às custas de muito sofrimento das partes, acabei me desvencilhando daquelas idéias grotescas. Há alguns anos, dei um salto quântico que me projetou a anos-luz, num universo encantado em que as possibilidades de compartilhamento finalmente, abriram sobre mim, as suas asas encantadas.
Parei de medir as mulheres com o padrão de um modelo ideal pelo qual elas só podiam sair perdendo. Entendi que o melhor, em amor e em tudo, é inimigo do bom, e que a procura da perfeição é danosa. Finalmente estou pronto para perceber que historias de amor com mulheres, são exatamente iguais as minhas histórias pessoais tanto humana como intelectualmente.
Consegui abandonar o frustrante papel de " tutor " . Aprendi que há muito mais prazer em dar e receber do que em dominar ou impor-se pela sedução. Se bem que por incapacidade inata, às vezes perco meus pontos de referencia e ainda não sei decifrar alguns sinais que não conheço bem.
Senti sozinho, nessa descoberta, uma espécie de nascimento emocional e fiquei de algum modo, " em estado de graça ".
Mais tarde, em conversa com alguns amigos, soube que preciso ter cuidado, pois assim como encontrei essa " graça ", também posso voltar a perde-la, e algumas pessoas dedicam o resto de suas vidas tentando reencontrá-la...
Apesar dessa permanente sombra, sou feliz por ter entendido que se fôr possivel evitar tudo que estraga a vida, e ao contrário, fornecermos tudo que a alimenta, poderemos desenvolver os maravilhosos recursos ocultos, no fundo de cada um de nós. Descobriremos então a nossa capacidade de dar com generosidade e de receber com gratidão.
Rio de janeiro, 02 de setembro de 2015.