Projeto Quelônios do Araguaia
O Araguaia é um dos mais importantes e bonitos rios do Cerrado brasileiro. Ele nasce na Serra do Caiapó, município de Mineiros, e percorre 2.627 km na divisa entre os estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará, até desaguar no rio Tocantins.
O Rio Araguaia é reconhecido por sua enorme diversidade de peixes e por suas belas praias, formadas durante o período de estiagem entre maio e setembro, que são atrativos maravilhosos para quem deseja fugir do estresse das grandes cidades e quer relaxar apreciando a natureza.
Especialmente a partir das décadas de 1960 e 1970, com o crescimento de Brasília, Goiânia e Cuiabá, além do aumento geral da população nos demais municípios do Planalto Central, o vale do Araguaia passou a receber número cada vez maior de turistas e visitantes, com conseqüências adversas sobre suas águas, praias, animais e plantas.
Com objetivo de organizar melhor esse fluxo turístico e evitar abusos contra o meio ambiente, os governos federal e goiano começaram a desenvolver ações e projetos de proteção, fiscalização e educação ambiental.
Foi nesse contexto que surgiu, em 1985, o Projeto Quelônios do Araguaia com objetivo de proteger as populações de tartarugas e tracajás, através do monitoramento de diversas praias, numa extensa área localizada entre os municípios de Aruanã, Nova Crixás, Mundo Novo e São Miguel do Araguaia.
Quem executava o Projeto Quelônios do Araguaia eram os técnicos do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), através da Divisão de Proteção à Natureza do Departamento de Parques Nacionais e Reservas Equivalentes (DPNRE), e com apoio da Delegacia Estadual do IBDF em Goiás.
O coordenador nacional do Projeto era o Engenheiro Florestal Vitor Hugo Cantarelli, que posteriormente, em 1990, fundou o Centro Nacional de Quelônios da Amazônia (CENAQUA), fortalecendo ainda mais essa importante iniciativa.
As atividades do Projeto Quelônios do Araguaia seguem a mesma metodologia das demais bases operacionais distribuídas na Região Norte.
Contudo, o diferencial do Araguaia em relação às demais áreas atendidas pelo Projeto Quelônios é justamente essa presença maciça de turistas. Nas outras partes da Amazônia, em geral afastadas dos grandes centros urbanos, os técnicos e ambientalistas precisam lidar apenas com as populações ribeirinhas ou indígenas, além é claro de traficantes e pescadores ilegais que se dirigem as áreas com o único objetivo de caçar animais e coletar ovos e filhotes.
No Araguaia, as caravanas de turistas chegam com boas intenções, querendo apenas curtir e relaxar, mas o que eles não sabem é que bem antes deles foram as tartarugas as primeiras a descobrir o valor desse lugar majestoso, pois são essas praias de areia branca e fina que elas utilizam para colocar suas ninhadas.
Nos meses de julho a dezembro, as praias se tornam verdadeiras maternidades de milhares de tartaruguinhas.
O período reprodutivo dura aproximadamente 2 meses, e no seu auge é possível ver dezenas de fêmeas, aglomeradas ao final da tarde em frente aos bancos de areia, aguardando o pôr-do-sol para iniciar a desova. As fêmeas saem à noite do rio, sob a luz tênue do luar, para escavar seus ninhos na areia fofa, colando de 50 a 150 ovos.
O tempo de incubação é de 55 dias, e quando os filhotes nascem são bem frágeis, com 5 cm de comprimento e pesando apenas 25 gramas. Eles são recolhidos e colocados em berçários por cerca de 20 dias, para se fortalecerem e, assim, aumentar suas chances de sobrevivência quando forem soltos na natureza.
Ao longo dos 30 anos de monitoramento do Projeto Quelônios do Araguaia foram manejados mais de 80 mil ninhos e protegidos mais de 4 milhões de filhotes.
O IBDF iniciou esse trabalho com apoio da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Goiás (SEMAGO), e de lá para cá o número de parceiros só foi aumentado. Batalhão Ambiental, Instituto Chico Mendes, Prefeituras, ONGs Ecológicas, comunidades ribeirinhas, lideranças indígenas, jornalistas, agências de turismo, pesquisadores de universidades goianas (UFG, UEG, Católica etc.) e de inúmeros estados passaram a atuar na conservação das tartarugas e tracajás, tornando os resultados mais robustos e expressivos.
O Projeto Quelônios do Araguaia é uma marca forte que se consolidou a partir do empenho de inúmeros profissionais dedicados, que diariamente superam limitações, sobrepõem obstáculos, atuando intensamente na conscientização da população itinerante que visita regularmente esse paraíso. Sem tais profissionais certamente que o sucesso desse trabalho em garantir a proteção do Araguaia e de toda a sua riqueza natural não seria possível. A eles, em nome de toda sociedade e dos quelônios, dedicamos os nossos mais sinceros agradecimentos!!!
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Palmas - TO, Janeiro de 2016.
Giovanni Salera Júnior
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br
Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187
Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior