Projeto Quelônios da Ilha do Bananal

A Ilha do Bananal é considerada um santuário ecológico, pois detém uma riqueza extraordinária em recursos naturais. Seus 2 milhões de hectares abrigam belíssimas paisagens, com rios, lagos e matas repletas de espécies raras e cobiçadas pelo homem.

A proteção das populações de tartarugas e tracajás da Ilha do Bananal teve início, em 1985, quando ainda o Estado de Tocantins não havia sido criado e as áreas de reprodução inseridas no Parque Nacional do Araguaia estavam sob a jurisdição do Estado de Goiás. Na época o Engenheiro Florestal Vitor Hugo Cantarelli, coordenador nacional do Projeto Quelônios da Amazônia (PQA) ministrou treinamento in-loco para as equipes do IBDF e da Fundação Estadual de Meio Ambiente do Estado de Goiás (FEMAGO), respectivamente, responsáveis pelas ações no Parque Nacional e outras praias do rio Araguaia.

Inicialmente as ações de monitoramento das áreas de desova e proteção dos filhotes eram realizadas na base do rio Javaés (margem leste da Ilha), pelos técnicos e fiscais do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal - IBDF (órgão federal responsável pelo projeto e que posteriormente deu origem ao IBAMA), comandadas pelo servidor José Gonçalves Trindade.

A metodologia do Projeto Quelônios da Ilha do Bananal é a mesma para as demais bases distribuídas nos estados da Região Norte, que se dividem em: (1) trabalhos de fiscalização, (2) translocação de ovos, (3) monitoramento das etapas de incubação e eclosão, (4) atividades educativas, e (5) manejo e devolução dos filhotes à natureza.

Em 30 anos de existência, o Projeto Quelônios da Ilha do Bananal já garantiu a proteção de mais de 1 milhão de filhotes, contribuindo para manutenção dos estoques populacionais de tartarugas e tracajás na bacia do rio Araguaia. Além desse número expressivo, essa localidade é referência nacional como celeiro de conhecimento científico para preservação das espécies de quelônios amazônicos.

Por trás do sucesso do Projeto Quelônios da Ilha do Bananal existe uma coleção de estórias interessantes e curiosas de ambientalistas corajosos que se engajaram nesse trabalho. Talvez o melhor exemplo disso seja percebido na história da bióloga paulistana Adriana Malvasio.

No começo de 1997, quando cursava Doutorado no Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da USP, Adriana recebeu um convite para lecionar na recém-criada Universidade do Tocantins (UNITINS), na distante cidade de Araguaína, situada a 2 mil km de São Paulo.

Ela que já era uma verdadeira apaixonada pelos “bichos de casco” não se intimidou pela distância e percorreu todo o trajeto dirigindo seu carro até chegar ao norte do Tocantins, em julho daquele ano. Logo no começo das aulas, organizou um grupo de alunos e fez sua primeira visita à Ilha do Bananal. A UNITINS não dispunha de veículos nem motoristas, mas isso não foi empecilho, pois Adriana arcou os custos da viagem, dirigindo seu Fiat verde por 400 km, abarrotado de estudantes, mochilas, barracas, colchonetes, alimentos e todo material de pesquisa.

Naquela época, eles tinham que levar tudo que precisavam para se manter em campo durante a coleta de dados, além de se revezarem para fazer a comida e cuidar da limpeza do acampamento.

Deixar o padrão de vida da capital paulista, onde cresceu cercada de amigos e familiares, rodeada por grandes intelectuais da USP, para começar um trabalho pioneiro numa região distante e pouco explorada parecia loucura para muita gente. Foi justamente com esse espírito guerreiro e muita alegria - duas de suas marcas fortes - que Adriana superou obstáculos, agregou parceiros e alcançou enormes resultados.

Desse começo ousado já se passaram quase 19 anos, e desde então dezenas de alunos e professores dos cursos de Biologia, Veterinária, Zootecnia, Agronomia, Geografia, Matemática e Engenharia Ambiental, além de diversos cursos de pós-graduação estiveram envolvidos nas pesquisas realizadas.

Já foram produzidas várias monografias, dissertações de Mestrado, teses de Doutorado e inúmeros artigos em revistas especializadas, muitos dos quais referenciados e premiados em congressos científicos.

Hoje, o Projeto Quelônios da Ilha do Bananal é um exemplo de sucesso na conservação do patrimônio ambiental brasileiro e grande parte dessa conquista se deve a ousadia, capacidade de liderança e amor a ecologia da Doutora Adriana Malvasio!!!

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Palmas - TO, Janeiro de 2016.

Giovanni Salera Júnior

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187

Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 04/01/2016
Reeditado em 25/08/2016
Código do texto: T5499882
Classificação de conteúdo: seguro