Manipulação genética e freios
A revista Science concedeu o prêmio de maior avanço científico de 2015 à molécula capaz de editar DNA, uma temeridade.
O invento parece facilitar tremendamente a manipulação genética, banalizando algo que vinha sendo conseguido vagarosamente. Duas razões, ambas drásticas, incitam minha apreensão decorrente do alarde relativo a tal premiação, endereçada a avanço tecnológico de monta, ao desenvolvimento de uma ferramenta poderosíssima, quase comparável ao microscópio e aos instrumentos mais úteis para o desenvolvimento científico, papel que certamente terá no futuro.
Manipulações do DNA humano devem ser apresentadas em breve, junto com uma profusão de seres transgênicos. Ambas as promessas são assustadoras.
Acredito que inovações extremamente ameaçadoras como essa, potencialmente destruidoras de toda a humanidade, mereçam uma longa análise antes que possam vir a ser usadas. Creio que 50, ou, mais cautelosamente, 100 anos deveriam ser necessários para pensarmos sobre o assunto, analisarmos suas possíveis consequências e aprovar o uso de tecnologias tão temerárias.
A louvação da revista estimula nossa benevolência para com o monstro; quando nos arrependermos, já não haverá retorno; teremos aberto a caixa de Pandora. A molécula em pauta, por outro lado, vale trilhões de dinheiros, quantia muito superior ao preço usual das opiniões.
Os alimentos da humanidade, hoje, encontram-se sob a ameaça dos transgênicos. Os detentores desses flagelos deveriam ser acusados de disseminá-los, enquanto, sendo poderosíssimos, vão se apossando de toda a comida que comemos. Logo não conseguiremos sementes livres da contaminação introduzida irresponsavelmente, em nossa comida, por vilões sedentos por lucros, que buscam se apossar dela toda. Tais criaturas também têm disseminado, irresponsavelmente, pragas transgênicas que invadirão todo o planeta. A avidez desses seres poderosíssimos ameaça e agride a totalidade da vida no planeta, nos deixará à mercê de suas vontades; comida apenas em troca de subserviência e dinheiro. Já lhes somos reféns.
O novo ataque terá como alvo nosso patrimônio gênico. Será irreversível.
Em minha opinião, a artimanha mais sórdida empregada pelos gulosões insaciáveis cuja ânsia por mais lucros é proporcional a suas posses, consiste em simular umas benevolências, umas preocupações com o sofrimento, para justificar a gula crescente, a avidez por mais lucros.
Vejo-os como parasitas imensos, já desprovidos de membros, transformados em imensos sistemas digestivos, e vorazes. É essa a sina dos parasitas, seu destino inexorável. Encravados no hospedeiro, despojam-se de todo o aparato que não seja necessário para devorar-lhe as entranhas, transformando-se em tubos digestivos reprodutores.
Serão oferecidas curas para doenças genéticas cruéis dos nascituros, simulando ações bondosas e caritativas; parecerá malvado aquele que tentar impedir procedimentos tão benevolentes. Junto com a cura, serão oferecidos brindes. Será simples acrescentar uns 20 cm de altura ao felizardo, uns 20 pontos de QI, também. E, por que não uma musculatura poderosíssima também? Podemos imaginar a primeira leva de indivíduos geneticamente modificados disputando olimpíadas e, simultaneamente, inundando as principais universidades do planeta. O investimento será tentador a todos os pais; mesmo alguns milhões de dinheiros podem vir a ser vantajosamente recuperados apenas com ganhos obtidos nos esportes.
Em seguida virão aperfeiçoamentos mais arrojados. Um atleta sem precedentes será obtido com a adição de genes de um cão. Terá velocidade extrema e resistência inigualável. Pode-se arriscar outras variantes similares com ainda mais potencial. Genes de guepardo parecem promissores. Inúmeras promessas se apresentarão. Os riscos também serão claros e iminentes. Genes de outras criaturas poderão fazer emergir efeitos inusitados, será um tiro no escuro.
Revisados, editados e enriquecidos
Também implantarão os genes da felicidade, ser feliz consiste em grande benção, e existem esses genes que nos predispõem à felicidade. Poderão, assim, ser geradas criaturas muito dóceis e felizes; ovelhinhas capazes de seguir alegremente para o abatedouro.
Talvez seja conveniente extirpar certas tendências à rebeldia. Os mesmos parâmetros utilizados em bovinos e ovinos serão aplicados a nós; constituiremos belo rebanho.