O pulso da vida e o pulso da morte

O pulso da vida e o pulso da morte se misturam em suas existências.

No próprio pulsar da vida a morte já se anuncia. Ela é a única responsável pela vida ser delimitada como vida.

O pulso da vida é demarcado por tempos bem definidos, por altos e baixos, por oportunidades, ganhos e perdas, por momentos de reflexão, por novas chances, por recomeços, por possibilidade de perdoar e de pedir perdão, enquanto o pulso da morte é contínuo e não tem marcações.

O pulso da vida é ditoso e segue um fluxo. O pulso da morte é freqüente e não segue. O pulso da vida é experiência e aprendizado. O pulso da morte é reflexão e observação.

No pulso da vida somos os atores. No pulso da morte somos platéia.

No pulso da vida podemos gozar, desfrutar, agradecer e pedir mais. No pulso da morte só nos resta compreender e meditar.

No pulso da vida aprendemos que nem tudo nesta vida é importante. No pulso da morte nos certificamos daquilo que realmente é importante.

No pulso da vida fazemos e desfazemos. No pulso da morte costuramos todos os retalhos que anteriormente tecemos.

No pulso da vida percebemos o fluxo da morte como algo distante e quase inatingível. No pulso da morte percebemos a vida como algo que certamente existiu.

Morte e vida se casam, constroem, destroem, permitem o existir e o extinguir, mergulham e juntas submergem, criam o ser, o estar, o permanecer e o continuar. Morte e vida, severina ou da cidade, do ancião ou de qualquer idade, com rima ou com saudade. Uma não vive sem a outra, por sorte, uma se chama de vida, a outra, coitada, é a morte.