Mulheres negras em marcha, sim!

Marchar sim; persistir e avançar sempre!

A marcha das mulheres negras carrega no nome uma enorme responsabilidade ao pautar os avanços e as lutas cotidianas da maioria da população brasileira e que ainda é vista como minoria. É preciso destacar a polifonia carregada de sentidos quando ouve-se “.. mulheres negras..”, pois a luta dessas mulheres representam aquelas nossas ancestrais que foram à luta, que persistiram, que compraram com seus quitutes a alforria dos seus filhos, pais, maridos e irmãos. E com determinação e ousadia permaneceram altivas e residem em cada um (a) de nós, constituindo papel importantíssimo na construção da identidade brasileira.

A intensa jornada de lutas a que somos submetidas, as vitórias que devem ser celebradas e os retrocessos que não devem ser permitidos em meio a tempos tão sombrios, a escassez da sensibilidade e empatia que precede ódio e perda de direitos necessita ser exposta, a pauta é urgente. A mulher negra sempre foi vista como “produto exótico”, que “aguenta dor”, “resiste”, objeto sexual do “senhor” e perpetuada historicamente como o que há de menor prestígio na sociedade, parafraseando Elza Soares “ a carne mais barata do mercado é a carne feminina negra”. As questões de gênero e etnia se cruzam e desaguam numa realidade assustadora para as mulheres negras.

A divisão sexual do trabalho afasta as mulheres da vida pública, logo diminui-se a representatividade. Marchamos por que é importante lutar contra o machismo, contra a violência doméstica e psicológica, contra a erotização das nossas meninas, destacando que isso não parte de um pressuposto moralista e/ou moralizante, e sim, como preservação da infância e combate a pedofilia e a cultura do estupro.

Marchamos para combater a opressão étnica e de gênero que visa nos inferiorizar de maneira estúpida ao considerar a biologização reafirmada pela mídia, e, que perigosamente forma o imaginário coletivo tido como consenso, ao nos colocar como seres emocionais, passivos, frágeis e pouco racionais desconsiderando as vivências dessas mulheres que são arrimo de família e privilegiando somente aqueles e aquelas que se normatizam dentro de um padrão que segrega e exclui. Porém, as mulheres resistem, trabalham em suas múltiplas jornadas, são namoradas das namoradas, são esposas, mães, filhas, estudantes, correm contra o tempo em seus múltiplos papéis a desempenhar e ainda assim, participam ativamente da política do país.

Politica? Sim. Pois a autoestima elevada traz ânimo à luta da trabalhadora e a partir dessa busca configuramos reais números nas instâncias representativas. Números esses que crescem timidamente, mas avançam rumo a superação da opressão de raça, gênero, classe e orientação sexual ,e principalmente, rumo a ruptura de todo e qualquer tipo de hegemonia.

Marchamos para afirmar que estamos em alerta, que estamos prontas a ocupar espaços, mesmo que esses espaços tenham sido ocupados por outrem. Regozijar de mãos dadas, fortes, resistentes, combativas na construção de uma sociedade igualitária que valorize a diversidade cultural e as especificidades inseridas neste mundo plural.

Nas delicadezas ou nas palavras de ordem bradadas ofegantemente, nas paisagens, pairagens, em que as distâncias são diminuídas e pouco a pouco é possível perceber que não existem limites instransponíveis.

Marchamos por sororidade e que esta não seja seletiva, persistimos, acolhemos, avançamos e de braços dados marchamos afim de embalar e abalar o que está estruturalmente inerte, levando a cair por terra todo e qualquer resquício dos séculos de escravidão e da imposição de submissão que o patriarcado tratou de enraizar na sociedade como um todo.

Incentivar o protagonismo dessas fortes mulheres que figuram no topo da pirâmide das estatísticas de pobreza, situação de violência e invisibilização político-sócio-midiática. E essa é a nossa grande tarefa, potencializar as lutas afirmativamente através da reflexão e da ação política, pois a minha voz não pode ser somente a minha voz, ela necessita da projeção, legitimidade e acolhimento que só é agraciado se conquistado coletivamente.

Dessa forma é preciso que preservemos toda integridade física e psicológica que advém do abandono do Estado, encarceramento (e esquecimento) das mulheres negras, e que combatamos a perversidade racista, machista e lesbofóbica, constituindo memória e arquivo de uma militância aguerrida , pois marchamos por igualdade, não por que somos iguais (pois não queremos) e sim, por que somos equivalentes.

Thais R Lima
Enviado por Thais R Lima em 12/12/2015
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