Relógios
Com o tempo a gente aprende...
Relógios, ponteiros, batidas, ampulhetas, fios, areia, minutos e segundos...
Vejo em minha frente um oceano de instrumentos que se encaixam, fundem-se, regulam-se e metricamente são regulados com a finalidade de ordenar o tempo...
O tempo! Este senhor que já existe e sempre existiu, mesmo antes de ser organizado, dividido ou condicionado por qualquer recurso tecnológico da humanidade...
Sinto cheiros! O cheiro da lata de cada relógio, o cheiro do couro de cada pulseira, o cheiro do lubrificante utilizado para fazer com que as peças usadas para ordenar o tempo continuem se movimentando mais um tempo, após o próprio tempo impedir, por meio da ferrugem, que elas possam andar.
O tempo! Este senhor que não pode ser controlado. Este fenômeno que faz com que todas as tecnologias se curvem diante de sua maestria. Seu compasso apenas pode ser compreendido, medido e observado... dia após dia, minuto após minuto. Jamais poderá ser preso ou impedido de continuar... Mesmo que nós aqui não mais estivermos, ele permanecerá aqui marcando o tempo de nossa ausência.
O tempo! O senhor dos senhores e grande mestre que com seu eterno, tenebroso e perpétuo silêncio nos ensina lições preciosas e inquestionáveis.
Com tempo a gente aprende que os maiores valores da vida são aqueles cultivados na essência de cada pessoa e que cada pessoa é responsável pela formação contínua de sua essência.
Com o tempo a gente apreende que dependendo das lentes com que observamos o mundo, ele pode ser colorido ou preto e branco, tudo depende do nosso olhar.
Com o tempo a gente aprende que a dor vem para nos ensinar e por mais que você lute contra a dor, por mais tempo ela pode persistir. Por isso, com o tempo a gente aprende a fazer da dor a nossa aliada e ela deixa de se chamar dor para se chamar lição.
Com o tempo a gente aprende que o grau de felicidade de uma pessoa não está relacionado com as coisas que ela possui, mas sim, com a forma que ela reage diante da vida e de suas circunstancias.
Com o tempo a gente aprende que heróis de verdade são pessoas simples que conseguem ver o mundo como um grande jardim cheio de rosas e espinhos. Pessoas que amam, que sofrem, que choram, que sorriam, que vivem e, principalmente, que sabem que vão morrer.
Com o tempo a gente aprende que estamos aqui de passagem e que somos pequenos atores de uma trama muito maior.
Com o tempo a gente aprende que sorte, não é um acaso, e sim um direcionamento que nos é imposto em determinado momento.
Com o tempo a gente aprende que azar e desastre também não são acasos, e que podem ser igualados ao que chamamos de sorte.
Com o tempo a gente percebe que nossas escolhas não são unicamente nossas, mas sim reflexos das circunstancias em que vivemos.
Com o tempo a gente aprende que também somos responsáveis por nossas circunstancias e que nossas escolhas podem voltar a ser escolhas.
Um dia queremos partir, noutro queremos voltar, noutro queremos ficar, noutro queremos mudar de novo... Com o tempo a gente aprende que a gente muda e que podemos mudar de novo e que sempre podemos olhar para trás.
Com o tempo a gente se confunde e não sabe se é a gente que passa pelo tempo ou o tempo que passa pela gente.
A única certeza, é que agora, neste instante de tempo vejo esses relógios, ponteiros, batidas, ampulhetas, fios, areia, minutos e segundos se movendo. Os ponteiros andam e as badaladas seguem até o momento em que o tempo os impedir de continuar, ou talvez, até o momento em que eles se cansarem de servir ao tempo. Então, serão mais alguns relógios velhos largados no tempo, com os ponteiros parados pelo próprio tempo, mais vítimas do “senhor tempo”, este senhor que eles sempre serviram.