E a vida, o que é isso?
“Para falar sobre a morte é preciso sobretudo perceber qualquer coisa sobre a vida.
E a vida, o que é isso? Vida é tudo aquilo o que existe entre o nascimento e a morte. Este recheio é o que realmente importa, afinal aí se descobre que sexo sem amar pode até valer a pena, mas é apenas ginástica, não tem a mínima transcendência! e que a primeira metade da vida é muito interessante, porém da metade pro fim pode ser melhor ainda se for possível aprender alguns macetes com os tombos e feridas que nos desgraçaram lá no começo! Neste cenário, tudo que fez voltar para casa de mãos abanando, sem uma emoção, um conhecimento, ou uma ideia, foi a mais pura e insípida perda de tempo...
Inclusive, neste recheio é possível perceber que o indivíduo é capaz de sofrer mais com as coisas que imagina que estejam acontecendo, do que com as coisas que de fato aconteceram. Tão tênue é aquela linha que separa os olhares verdadeiramente acusadores,
da paranoia...
O tempo escancarou em minha cara que tudo que é rápido demais pode ser terrivelmente frustrante. Assim como me espancou que reconhecer um problema é o primeiro passo para conseguir resolvê-lo. Certos riscos então valem muito a pena, e o verdadeiro exercício é descobrir previamente quais realmente compensariam a dar uma colher de chá ao acaso... Tal recheio, vulgarmente chamado de vida, também deixou bem claro que a Itália, a Grécia, ou até mesmo Punta del Leste podem ser lugares esplêndidos, mas o realmente maravilhoso é ser feliz dentro da nossa própria casa.
Então é possível até perceber que após lutar tanto pelo direito à diferença, o que pode realmente importar é ser indiferente. Entendi enfim que é necessário guardar a senha do banco, do correio virtual, mas acima de tudo o imprescindível é guardar a senha que nos revela o âmago. Aquilo que nos exibe também pode nos esconder. Neste recheio foi que eu vi que é muito mais produtivo agir do que reagir, ou melhor, que esta pode ser a melhor reação. Aqui na vida não existe pior meio de avaliar a si próprio do que se comparando aos outros.
Na vida a perda, de qualquer natureza, se transforma em um aperitivo da morte. Passar a vida à toa acaba sendo um desperdício imperdoável. Acreditei então que não poderia deixar de sonhar pois isto que me faria trabalhar... Foi neste ínterim que pude notar que a vontade e a razão travam duelos ferrenhos, e que todas as escolhas geram dúvidas, em absoluto. Fica óbvio que a verdadeira paz é oriunda das entranhas da verdade. Harmonizar então o que se quer, daquilo que se sente e o que se precisa ser, acaba se transformando no verdadeiro segredo que a vida tem a se desvelar.”
São Luís, 05.dez.XV