Deus é um só?

Deus é um só?

Jorge Linhaça

Ao longo do tempo nos acostumamos a ouvir frases feitas que buscam simplificar questões que pretendemos ou preferimos não aprofundar. “Deus é um só!” faz parte desse lote.

Antes de mais nada permitam-me explicar que não estou dizendo que não haja um só Deus, no entanto, a percepção que temos desse Deus tem se tornado cada vez mais diversificada o que gera crenças diferentes e antagônicas quanto aos atributos da deidade.

Alguns creem num Deus antropomórfico, ou seja, semelhante em forma, ao homem.

Outros acreditam em um Deus que não tem forma definida, é apenas uma energia que rege o cosmo, alguns acreditam num Deus que é apenas espírito, ainda que esse espírito tenha forma humana... Eu acredito num Deus com um corpo de carne e ossos, tão tangível como o do homem, afinal fomos criados à sua imagem e semelhança e, além disso, Cristo disse aos seus seguidores que “ quem viu a mim viu ao Pai”. Oras, se Jesus tinha um corpo e quem viu a ele viu o Pai, por certo que pretendia que compreendêssemos sua semelhança real com Deus.

Existem muitos dogmas que atravessam séculos sendo exaustivamente repetidos e não sendo analisados e que, quando contestados desencadeiam reações até mesmo violentas da parte daqueles que os pretendem perpetuar.

Mas não vamos nos ater a esses dogmas neste texto.

A questão é que não se pode considerar que se crê num único Deus quando esse Deus é entendido ou concebido de maneiras absolutamente diversas.

Claro que cada um tem o direito de entender Deus à sua própria maneira, por isso mesmo é que Ele nos deu o Livre Arbítrio, para que façamos nossas próprias escolhas, no entanto, isso não muda em nada a realidade de sua forma ou caráter. Não é porque pretendemos que Deus seja pura misericórdia e nos perdoe gratuitamente por nossas falhas, que ele vá deixar de ser justo e nos julgar segundo nossos pecados. A misericórdia não pode roubar a justiça, assim como a justiça não pode roubar a misericórdia.

Deus não está sujeito às nossas normas, aos nossos desejos, às nossas concepções, não podemos modifica-lo ao nosso bel prazer apenas para aplacar nossas consciências e nos sentirmos mais adequados. Deus estabeleceu um planejamento para que aqueles que o seguem possam voltar à sua presença, esse plano inclui normas a serem seguidas, normas essas que se chamam “mandamentos”.

Assim como uma empresa estabelece metas a serem atingidas e cria normas de conduta para que tais metas sejam alcançadas, Deus, como um Pai amoroso, nos propicia um mapa para que possamos voltar, ou não, à Sua presença um dia.

Numa empresa, quando não seguimos as diretrizes estabelecidas, na maioria das vezes estamos fadados ao fracasso em nossos esforços. No plano de Deus ocorre algo bem semelhante.

Estranhamente, numa empresa não procuramos moldar as normas vigentes aos desejos de cada funcionário, para não se gerar uma terra de ninguém, uma insustentabilidade organizacional e desvios de foco. Já para com Deus, existe essa impressão errônea de que podemos modificar o plano estabelecido a fim de satisfazer nossas vontades e que Deus tem a obrigação de se adaptar aos nossos desejos e paixões.

Embora exista um só Deus, é necessário que encontremos a consciência necessária para compreende-lo, para que saibamos que é preciso deixar de lado a ideia de que Deus deve se adaptar a nós e não o contrário.

Compreendo perfeitamente a decepção de muitos com as várias religiões existentes, compreendo que alguns, dentre os quais me incluo, sofreram decepções e até perseguição entre seus pares e que isso acaba por nos alijar, parcial ou totalmente da busca de Deus.

Compreendo que nesses casos, cada um de nós tem uma reação diferente, que pretendemos nos livrar de “amarras” que nos impedem de progredir, que pretendemos encontrar respostas próprias para as dúvidas não respondidas. Infelizmente alguns desistem das respostas no processo, ou simplesmente se recusam a conhecer qualquer religião.

Existem pessoas que consideram os religiosos, como um todo, como preconceituosos, mas isso se deve a um preconceito ou estigma que se criou contra a religiosidade.

Temos 5 dedos em cada mão e todos são diferentes uns dos outros, não podemos julgar o dedo médio pela incapacidade do polegar de alcançar um objeto mais distante.

Deus é um só, resta saber se a percepção que você tem Dele não está equivocada e lhe levando a afastar-se cada vez mais dele.

Quem tem ouvidos ouça, quem tem olhos veja.