O Mundo Selfie
Chega mais, chega mais... vamos tirar um “Selfie”? Aêêêê!!! Sorrisos, caretas e alegria estampam rostos animados frente as câmeras. O “Selfie” é fenômeno atual promovido pela expansão das fotografias digitais, os celulares e as redes sociais. As pessoas tem aversão as fotos 3 x 4 da carteira de identidade e amam seus perfis inundados pela autopromoção da imagem em que o visual, o panorama fica em segundo plano. Importamos o termo “Selfie” do inglês “Self” que significa “eu próprio”. As fotografias refletem o olhar que o fotógrafo seleciona cuidadosamente observando o enquadramento e a luz. Quando clicamos congelando a auto imagem há a inversão de todas as técnicas da fotografia. Não queremos saber de primazia e sensibilidade artística, apenas o foco: Eu...Eu...Eu... e depois as outras pessoas e coisas. Essa atitude revela a individualidade e egocentrismo dos tempos atuais em que apenas registramos padrões de beleza e o inevitável envelhecimento se colocarmos as “selfies” em uma linha do tempo. Não vejo “selfies” de momentos tristes como num velório ou de deformações e deficiências físicas. Elencamos a todo o momento o que é “belo” (aceitável) ou “feio (inaceitável). A autoimagem é o gozo, o prazer e a satisfação, inclusive com a propagação de fotos de casais após o coito, as chamadas “selfies after sex”. Ao mesmo tempo que percebemos as conexões planetárias, intergalácticas e intercontinentais com o advento da internet e do avanço dos meios de comunicação e transportes durante o turbulento século XX continuamos míopes e limitados com a consciência do tamanho de uma ervilha. A avassaladora globalização trouxe a dubiedade entre o “ser global” e o “ser individualista”. Temos em mãos a inédita percepção do Cosmos e não sabemos resolver os problemas que estão a um palmo do nosso nariz. Um dilema ético, pois quanto mais conhecemos a complexidade do mundo mais nos escondemos em nossas carapaças. Comunico-me com milhões de pessoas, entretanto crescem as dificuldades de convivências e relacionamentos. A impessoalidade parece ser a marca registrada das relações sociais impostas pela cultura neoliberal. O interessante é o empoderamento e autoestima que a prática do “selfie” proporciona trazendo ao centro do picadeiro “os sujeitos anônimos da História”. Qualquer pessoa comum pode se tornar uma celebridade instantânea adquirindo muitos “likes” nas redes sociais. Estamos imersos no facial mundo das “selfies”, as histórias privadas e feitos particulares, atividades cotidianas que tornam-se espetáculos a serem compartilhados. A maquiada face virtual esconde um prisma de realidades adversas à riqueza e ostentação. Por trás das “selfies” desvela-se um mundo que pede socorro, regado de intransigências de toda ordem, guerras, desastres naturais, epidemias e fome. Como seria a detalhada “Selfie do Planeta Terra” carregada com seus mais de 7 bilhões de filhos e filhas pairando na Via Láctea? Um auto retrato “sem make e sem filtro” destilando descaso dos governos corruptos, terrorismo das grandes potências mundiais e intolerâncias religiosas, discriminação, preconceito e racismo incorporado a aniquilação da biodiversidade das florestas, rios e oceanos. Hipnotizados pela avalanche da indústria cultural e do entretenimento alienante, sucumbimos pelo desenfreado consumismo enquanto multiplicam-se os miseráveis e coroamos nossos algozes exploradores capitalistas. Diante das lamentáveis cenas do teatro da vida, temos que nos posicionar e elevar os princípios da ética, da justiça social e da paz. Rostinhos em primeiro plano ofuscam o descortinar de novos horizontes, por isso podemos salientar a urgência de MENOS “SELFIES” E MAIS ATITUDES!
Publicado em Jornal Litoral Norte e Jornal A Folha - Torres/RS.