Kant e o Idealismo alemão - Parte I
Geralmente, cita-se Platão como o primeiro “Idealista”, pois foi ele quem fez a transposição para o Ocidente dos princípios filosóficos hinduístas, dentre os quais, a concepção de que a “Ideia” é o protótipo, o modelo das coisas físicas, concretas.
A “Ideia” seria, portanto, a “verdadeira realidade”, enquanto o restante não passaria de uma mera cópia da mesma.
O Idealismo Platônico (também chamado de “realismo” ou “realista”), normalmente, é dividido em:
• O aspecto Gnosiológico1.
• O aspecto Metafísico2.
Sendo que o primeiro se refere às questões atinentes à maneira como ocorre
o Conhecimento; enquanto que o segundo relaciona-se com aquilo que está “atrás” ou “na base” das “coisas físicas”.
Outro conceito comum, mas não oriundo apenas de Platão, é o do “Idealismo” referente “aos Ideais”; isto é, aos objetivos a serem conquistados ou aos modos de comportamento a serem seguidos etc. Nesse sentido, o Idealismo atrela-se, geralmente, às questões éticas e/ou políticas, tais como “manter a honestidade”, “construir uma democracia” e símiles.
Posteriormente, o conceito foi sendo modificado e desse modo o Idealismo apresentou-se de várias maneiras ao longo da história e, especialmente, na Era Moderna, quando surgiram vários títulos complementares para diferenciá-los, tais como:
• Idealismo subjetivo,
• Idealismo objetivo,
• Idealismo lógico,
• Idealismo transcendental,
• Idealismo crítico,
• Idealismo fenomenológico etc.
Não detalharemos esses tópicos para não fugirmos do objetivo original, o Idealismo Alemão, mas convidamos os interessados a visitar outra obra de nossa autoria, Filosofia Sem Mistérios (vide Bibliografia), onde cada um deles é considerado em particular.
Aqui, adentraremos, especialmente, no universo do Filósofo Immanuel Kant, sem, no entanto, deixar de recomendar o estudo de Filósofos como Fichte, Schelling, Hegel, Leibniz, Malebranche, devido à importância dos mesmos. E, novamente, sugerimos a nossa obra anterior, Filosofia sem Mistérios, onde cada um desses sábios recebeu a merecida atenção.
O Idealismo caracteriza-se por seguir para a reflexão filosófica a partir do “Eu” (ou da alma, espírito, mente etc.) e não a partir das “coisas exteriores”, isto é, dos objetos, dos Seres, dos fatos etc. que estão “fora” do indivíduo.
Essa preferência pelo “Eu (ou pelo sujeito, pelo indivíduo)” baseia-se no fato de que o homem é, fundamentalmente, um “ideador” ou “representador”, por representar em sua mente (“fazer uma ideia”), as coisas que capta através dos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato).
Vendo, por exemplo, uma fruta, o indivíduo não processa diretamente aquela percepção visual. Ao contrário, assim que o estímulo lhe chega, a sua mente primeiramente o “desenha” ou “representa”, para só então prosseguir com o restante das operações mentais.
Essa é, aliás, a razão de cada coisa do universo ser diferente para cada um dos Seres humanos. Para uns, aquela fruta pode estar madura, para outros, nem tanto etc.
E porque o Idealismo começa com e no indivíduo, alguns religiosos e agregados, afirmam que o mesmo não teve inicio com a Filosofia, mas, sim, com o Cristianismo, particularmente com Santo Agostinho, já que a doutrina religiosa equipara a criatura com o Criador e o torna o “centro do universo”.
Porém, maioria dos estudiosos rebate tal afirmativa, lembrando-os de que foi o Cristianismo que derivou da Filosofia grega (onde a noção do “Idealismo” já estava consolidada) e não o inverso. Portanto, dar-lhe a paternidade é um equívoco absurdo.
Outros eruditos, também desdenham do argumento eclesiástico e insistem na associação do Idealismo com a Gnosiologia. Afinal, sendo o indivíduo o ponto de partida do Idealismo, nele reside a chave para responder a uma das principais questões filosóficas: “como, em geral, as coisas podem ser conhecidas?”.
Outros sábios vão além e afirmam que o “Idealismo” não pertence apenas ao campo da Gnosiologia, mas, também, ao da Metafísica, haja vista que o fato de se conhecer a uma coisa de forma verdadeira e absoluta, implica que se chegou ao “numeno, à essência” da mesma.
E nesse ponto é que se chega a Kant, já que a investigação sobre os limites e a possibilidade de se conhecer a “coisa-em-si” é que forma a estrutura do seu pensamento.
Rejeitando as formas de Idealismo propostas por Pensadores como Descartes e Berkeley, Kant criou o seu próprio sistema, o Idealismo Transcendental, cuja principal característica reside no destaque dado à função de “posto (ou colocado)” no conhecimento, já que para ele, a existência dos objetos externos não é cognoscível apenas através de seu percebimento direto pelos Sentidos, mas, sim, em razão daquele objeto ter sido posto ou colocado no conhecimento; ou seja, o objeto ter sido idealizado ou representado na mente. Não bastaria, por exemplo, eu tocar (usar o tato) nesse computador para conhecê-lo. Eu necessitaria pensar, idealizar, para lhe conhecer verdadeiramente.
Alguns estudiosos, contudo, observaram que o “realismo kantiano” desaparece em Fichte e, principalmente, em Schopenhauer, que equipara o mundo à representação ou idealização do mesmo; e, por isso, afirmaram que o autêntico “Idealismo Alemão” seria, a rigor, pós-kantiano. Além disso, graças ao avanço atual das tendências “Materialistas”, que propugnam que apenas as coisas materiais constituem a “Realidade”, vários estudiosos anunciaram o declínio do Idealismo e até a sua extinção. E alguns sábios renomados como Ortega y Gasset e Heidegger propuseram superar o Idealismo e o Realismo Materialista por alguma outra sistemática.
Porém, a despeito das críticas, outros célebres autores continuam adotando o “Idealismo kantiano”, por entenderem que no mesmo é que reside, de fato, o verdadeiro “Idealismo Alemão”, já que nenhum outro se lhe equipara em termos de profundidade e precisão. Apenas nele, afirmam, podem ser encontradas as ferramentas necessárias para se tratar de questões metafísicas e/ou cognitivas, as quais exigem o seu concurso para que, no mínimo, as investigações sobre as mesmas possam prosseguir.
Desse modo, vê-se que esse renovado e constante interesse pelo ideário kantiano reafirma a sua importância didática e confirma o seu caráter de “libertador do homem” das amarras do Materialismo.
A “Ideia” seria, portanto, a “verdadeira realidade”, enquanto o restante não passaria de uma mera cópia da mesma.
O Idealismo Platônico (também chamado de “realismo” ou “realista”), normalmente, é dividido em:
• O aspecto Gnosiológico1.
• O aspecto Metafísico2.
Sendo que o primeiro se refere às questões atinentes à maneira como ocorre
o Conhecimento; enquanto que o segundo relaciona-se com aquilo que está “atrás” ou “na base” das “coisas físicas”.
Outro conceito comum, mas não oriundo apenas de Platão, é o do “Idealismo” referente “aos Ideais”; isto é, aos objetivos a serem conquistados ou aos modos de comportamento a serem seguidos etc. Nesse sentido, o Idealismo atrela-se, geralmente, às questões éticas e/ou políticas, tais como “manter a honestidade”, “construir uma democracia” e símiles.
Posteriormente, o conceito foi sendo modificado e desse modo o Idealismo apresentou-se de várias maneiras ao longo da história e, especialmente, na Era Moderna, quando surgiram vários títulos complementares para diferenciá-los, tais como:
• Idealismo subjetivo,
• Idealismo objetivo,
• Idealismo lógico,
• Idealismo transcendental,
• Idealismo crítico,
• Idealismo fenomenológico etc.
Não detalharemos esses tópicos para não fugirmos do objetivo original, o Idealismo Alemão, mas convidamos os interessados a visitar outra obra de nossa autoria, Filosofia Sem Mistérios (vide Bibliografia), onde cada um deles é considerado em particular.
Aqui, adentraremos, especialmente, no universo do Filósofo Immanuel Kant, sem, no entanto, deixar de recomendar o estudo de Filósofos como Fichte, Schelling, Hegel, Leibniz, Malebranche, devido à importância dos mesmos. E, novamente, sugerimos a nossa obra anterior, Filosofia sem Mistérios, onde cada um desses sábios recebeu a merecida atenção.
O Idealismo caracteriza-se por seguir para a reflexão filosófica a partir do “Eu” (ou da alma, espírito, mente etc.) e não a partir das “coisas exteriores”, isto é, dos objetos, dos Seres, dos fatos etc. que estão “fora” do indivíduo.
Essa preferência pelo “Eu (ou pelo sujeito, pelo indivíduo)” baseia-se no fato de que o homem é, fundamentalmente, um “ideador” ou “representador”, por representar em sua mente (“fazer uma ideia”), as coisas que capta através dos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato).
Vendo, por exemplo, uma fruta, o indivíduo não processa diretamente aquela percepção visual. Ao contrário, assim que o estímulo lhe chega, a sua mente primeiramente o “desenha” ou “representa”, para só então prosseguir com o restante das operações mentais.
Essa é, aliás, a razão de cada coisa do universo ser diferente para cada um dos Seres humanos. Para uns, aquela fruta pode estar madura, para outros, nem tanto etc.
E porque o Idealismo começa com e no indivíduo, alguns religiosos e agregados, afirmam que o mesmo não teve inicio com a Filosofia, mas, sim, com o Cristianismo, particularmente com Santo Agostinho, já que a doutrina religiosa equipara a criatura com o Criador e o torna o “centro do universo”.
Porém, maioria dos estudiosos rebate tal afirmativa, lembrando-os de que foi o Cristianismo que derivou da Filosofia grega (onde a noção do “Idealismo” já estava consolidada) e não o inverso. Portanto, dar-lhe a paternidade é um equívoco absurdo.
Outros eruditos, também desdenham do argumento eclesiástico e insistem na associação do Idealismo com a Gnosiologia. Afinal, sendo o indivíduo o ponto de partida do Idealismo, nele reside a chave para responder a uma das principais questões filosóficas: “como, em geral, as coisas podem ser conhecidas?”.
Outros sábios vão além e afirmam que o “Idealismo” não pertence apenas ao campo da Gnosiologia, mas, também, ao da Metafísica, haja vista que o fato de se conhecer a uma coisa de forma verdadeira e absoluta, implica que se chegou ao “numeno, à essência” da mesma.
E nesse ponto é que se chega a Kant, já que a investigação sobre os limites e a possibilidade de se conhecer a “coisa-em-si” é que forma a estrutura do seu pensamento.
Rejeitando as formas de Idealismo propostas por Pensadores como Descartes e Berkeley, Kant criou o seu próprio sistema, o Idealismo Transcendental, cuja principal característica reside no destaque dado à função de “posto (ou colocado)” no conhecimento, já que para ele, a existência dos objetos externos não é cognoscível apenas através de seu percebimento direto pelos Sentidos, mas, sim, em razão daquele objeto ter sido posto ou colocado no conhecimento; ou seja, o objeto ter sido idealizado ou representado na mente. Não bastaria, por exemplo, eu tocar (usar o tato) nesse computador para conhecê-lo. Eu necessitaria pensar, idealizar, para lhe conhecer verdadeiramente.
Alguns estudiosos, contudo, observaram que o “realismo kantiano” desaparece em Fichte e, principalmente, em Schopenhauer, que equipara o mundo à representação ou idealização do mesmo; e, por isso, afirmaram que o autêntico “Idealismo Alemão” seria, a rigor, pós-kantiano. Além disso, graças ao avanço atual das tendências “Materialistas”, que propugnam que apenas as coisas materiais constituem a “Realidade”, vários estudiosos anunciaram o declínio do Idealismo e até a sua extinção. E alguns sábios renomados como Ortega y Gasset e Heidegger propuseram superar o Idealismo e o Realismo Materialista por alguma outra sistemática.
Porém, a despeito das críticas, outros célebres autores continuam adotando o “Idealismo kantiano”, por entenderem que no mesmo é que reside, de fato, o verdadeiro “Idealismo Alemão”, já que nenhum outro se lhe equipara em termos de profundidade e precisão. Apenas nele, afirmam, podem ser encontradas as ferramentas necessárias para se tratar de questões metafísicas e/ou cognitivas, as quais exigem o seu concurso para que, no mínimo, as investigações sobre as mesmas possam prosseguir.
Desse modo, vê-se que esse renovado e constante interesse pelo ideário kantiano reafirma a sua importância didática e confirma o seu caráter de “libertador do homem” das amarras do Materialismo.
Introdução a Immanuel Kant
A vida e a forma de ser do filósofo Kant foram objetos de estudos de vários eruditos e quase todos destacaram os ecos que a religiosidade pietista de sua mãe deixou-lhe na alma, a sua integridade moral, a sua entrega ao trabalho e ao dever e a extrema regularidade de hábitos.
Idiossincrasias que para a maioria das pessoas são virtuosas e que aliadas à sua coragem e genialidade, fizeram-no ser considerado como o maior filósofo alemão. E mesmo aqueles que não compartilham dessa classificação, são prontos em lhe reconhecer como um dos Pensadores mais brilhantes de todos os tempos.
Geralmente, o seu sistema é dividido em três etapas:
1. Período pré-crítico. Anterior a 1781, quando foi publicada a primeira edição de “Crítica da Razão Pura”.
2. Período crítico, que vai até 1790 quando foi publicada a “Crítica do Juízo”.
3. Período pós-critico, que se estende de 1790 até a sua morte.
Porém, é importante observar que essa divisão é útil apenas como uma primeira apresentação de seu ideário, não devendo ser considerada como uma espécie de “série”, pois o pensamento kantiano é de tal grandeza e complexidade que não pode ser reduzido a divisões formais.
Todavia, essas mesmas “grandeza e complexidade” acabaram se tornando um fator limitante à popularização de suas ideias; o que, com efeito, é um dado a se lamentar, já que através de suas reflexões é possível elucidar várias questões filosóficas e apontar rotas seguras para o desenvolvimento humano.
Por isso, no presente Ensaio buscamos adaptar o seu modo de pensar ao discurso de nossos dias, com o objetivo de trazer à luz toda a sua grandeza.
Temos consciência de que, por isso, alguns aspectos deixaram de ter o aprofundamento adequado, mas estamos certos de que o amável leitor (a) saberá entender o caráter de “iniciação” que se pretendeu com esses escritos.
Breve biografia de Kant
Um século antes de seu nascimento, seus antepassados deixaram a Escócia e seguiram para Konigsberg, Prússia, em busca de redenção para a penúria que os castigava.
Ali, em 1724, nasceu Immanuel, filho de uma devota pietista3, cujo fanatismo religioso despertou-lhe severa aversão pela igreja e pelo clero, embora tenha contribuído para que ele mantivesse até o fim da vida a postura de um verdadeiro “puritano alemão”. Além disso, o fervor religioso materno foi tão marcante em sua personalidade, que o fez buscar uma reaproximação com os pontos essenciais do Cristianismo, quando já estava na idade madura. Em relação ao seu pai, os dados são escassos e isso sugere certa desimportância em sua formação.
Kant viveu na era de Voltaire, do Iluminismo e da apologia ao Ceticismo e à Razão; e não pôde escapar dessa influência, embora, posteriormente, tenha refutado tais concepções.
Outra forte influência que sofreu foi a de Hume, sendo, no entanto, a que mais combateu posteriormente.
Por outro lado, uma figura que teve enorme importância para que ele desenvolvesse o seu ideário, foi o Imperador Frederico, o Grande, que lhe deu plena liberdade para compor, por exemplo, uma obra como “Crítica da Razão Pura” que, em grande medida, colidia com os dogmas religiosos, então, considerados sagrados e, portanto, inquestionáveis. Proteção que, também, lhe foi útil quando ele, em sua fase de reaproximação com a religião, escreveu textos claramente contrários à ortodoxia clerical.
Dificilmente, em qualquer outro governo, um professor assalariado (funcionário público) teria ousado escrever livros e artigos como os seus; como, aliás, confirma o fato de ele ter de prometer ao sucessor de Frederico, que não mais trabalharia nessa direção.
De todo modo, até que essas coisas acontecessem, muito tempo já havia passado e, desse modo, será necessário voltar o olhar para o ano de 1755, onde o encontraremos na função subalterna de “conferencista particular” na universidade de Konigsberg, onde permaneceu por quinze anos.
Nesse período, ele fez duas tentativas frustradas de alcançar o posto de Professor, sendo recusado por motivos menores. Apenas em 1770 conseguiu o cargo de Professor de Lógica e de Metafísica e logo alcançou pleno êxito junto aos alunos.
Seu princípio de centralizar toda a atenção nos alunos medianos (porque os “burros” não teriam jeito mesmo e os gênios não necessitariam de mestres) granjeou-lhe o apoio da maioria e, desse modo, a sua carreira acadêmica transcorreu tranquilamente, dando-lhe, inclusive, matéria para o livro que escreveu sobre Pedagogia, no qual, segundo ele, haveriam “vários preceitos excelentes”.
Aos quarenta e dois anos, solteiro, sem filhos, com poucos amigos e hábitos modestos, vivia para o trabalho e para os estudos. E, em tamanha placidez, que não se poderia imaginar que de sua genialidade oculta brotaria um Sistema Filosófico que iria revolucionar a Filosofia, a Moral e a Teologia.
Ele próprio parecia acomodado à sua rotina, permitindo-se apenas alguns ataques teóricos e sem maiores consequências à Metafísica, que lhe parecia “um escuro oceano sem costas ou faróis” e aos adeptos da mesma, sobre quem dizia serem “moradores nas altas torres da especulação... onde há, em geral, muito vento”.
Uma tranquilidade condizente com os seus interesses da ocasião: as coisas concretas, materiais, físicas. Seus estudos e escritos da época, versavam sobre planetas, terremotos, fogo, vento, éter, vulcões, geografia, etnologia e assuntos similares.
E mesmo quando se permitia a alguma ousadia, como defender a ideia de vida extraterrestre, as suas divagações embasavam-se, apenas, em dados empíricos ou racionais, como ocorreu em sua “Teoria do Céu”, que buscava explicar os movimentos celestes através das “Leis da Mecânica”, em clara alusão à “Hipótese Nebular” de Laplace.
Porém, a partir de certo momento e noutro campo de estudo, a “Antropologia”, ele começou a emitir sinais de seu desligamento com o antigo padrão, como se percebe no fato de ele ter sugerido a possibilidade de o homem ter sofrido um processo evolutivo, ao estilo, posteriormente, consagrado por Darwin.
Foi, certamente, o inicio de suas reflexões menos convencionais, as quais redundaram nas teses que abalariam o vetusto edifício em que se abrigava o Pensamento da época; pois, ao admitir, por exemplo, o “processo evolutivo” e, até mesmo, ao especular sobre “Seres extraterrestres” mais inteligentes que o homem, ele se opunha a dogmas religiosos como o “Criacionismo” e à ideia de sermos “o ápice da Criação”, feitos “à imagem e à semelhança do Criador”.
Em suas palavras:
“Não sabemos como a natureza provocou essa evolução e quais as causas que a ajudaram. Essa observação nos leva muito longe. Ela nos faz pensar se o atual período da história, por ocasião de uma grande revolução física, não poderá ser o segundo de um terceiro, quando um orangotango ou chipanzé desenvolverá os órgãos que servem para andar, tocar, falar etc. chegando à estrutura articulada de um Ser humano, com um órgão central para o uso do entendimento e evoluir gradativamente sob o treinamento das instituições sociais”.
Sinais, que se consolidaram e cristalizaram o seu rompimento com as doutrinas hegemônicas da época, bem como o avanço em sua determinação e em suas concepções.
Avanço, aliás, que o fez enfrentar as dificuldades financeira, profissional e social, para continuar o trabalho que rendeu, após quinze anos, a sua grande obra, “A Crítica da Razão Pura”, publicada em 1781, quando ele tinha 57 anos de idade.
Depois, seguiu essa nova trilha e produziu livros e textos que balançaram as normas sociais e religiosas de forma tão significativa que ainda hoje são paradigmas.
Por fim, faleceu aos oitenta anos de idade, de forma tão tranquila quanto viveu. Sua missão estava cumprida.
Ali, em 1724, nasceu Immanuel, filho de uma devota pietista3, cujo fanatismo religioso despertou-lhe severa aversão pela igreja e pelo clero, embora tenha contribuído para que ele mantivesse até o fim da vida a postura de um verdadeiro “puritano alemão”. Além disso, o fervor religioso materno foi tão marcante em sua personalidade, que o fez buscar uma reaproximação com os pontos essenciais do Cristianismo, quando já estava na idade madura. Em relação ao seu pai, os dados são escassos e isso sugere certa desimportância em sua formação.
Kant viveu na era de Voltaire, do Iluminismo e da apologia ao Ceticismo e à Razão; e não pôde escapar dessa influência, embora, posteriormente, tenha refutado tais concepções.
Outra forte influência que sofreu foi a de Hume, sendo, no entanto, a que mais combateu posteriormente.
Por outro lado, uma figura que teve enorme importância para que ele desenvolvesse o seu ideário, foi o Imperador Frederico, o Grande, que lhe deu plena liberdade para compor, por exemplo, uma obra como “Crítica da Razão Pura” que, em grande medida, colidia com os dogmas religiosos, então, considerados sagrados e, portanto, inquestionáveis. Proteção que, também, lhe foi útil quando ele, em sua fase de reaproximação com a religião, escreveu textos claramente contrários à ortodoxia clerical.
Dificilmente, em qualquer outro governo, um professor assalariado (funcionário público) teria ousado escrever livros e artigos como os seus; como, aliás, confirma o fato de ele ter de prometer ao sucessor de Frederico, que não mais trabalharia nessa direção.
De todo modo, até que essas coisas acontecessem, muito tempo já havia passado e, desse modo, será necessário voltar o olhar para o ano de 1755, onde o encontraremos na função subalterna de “conferencista particular” na universidade de Konigsberg, onde permaneceu por quinze anos.
Nesse período, ele fez duas tentativas frustradas de alcançar o posto de Professor, sendo recusado por motivos menores. Apenas em 1770 conseguiu o cargo de Professor de Lógica e de Metafísica e logo alcançou pleno êxito junto aos alunos.
Seu princípio de centralizar toda a atenção nos alunos medianos (porque os “burros” não teriam jeito mesmo e os gênios não necessitariam de mestres) granjeou-lhe o apoio da maioria e, desse modo, a sua carreira acadêmica transcorreu tranquilamente, dando-lhe, inclusive, matéria para o livro que escreveu sobre Pedagogia, no qual, segundo ele, haveriam “vários preceitos excelentes”.
Aos quarenta e dois anos, solteiro, sem filhos, com poucos amigos e hábitos modestos, vivia para o trabalho e para os estudos. E, em tamanha placidez, que não se poderia imaginar que de sua genialidade oculta brotaria um Sistema Filosófico que iria revolucionar a Filosofia, a Moral e a Teologia.
Ele próprio parecia acomodado à sua rotina, permitindo-se apenas alguns ataques teóricos e sem maiores consequências à Metafísica, que lhe parecia “um escuro oceano sem costas ou faróis” e aos adeptos da mesma, sobre quem dizia serem “moradores nas altas torres da especulação... onde há, em geral, muito vento”.
Uma tranquilidade condizente com os seus interesses da ocasião: as coisas concretas, materiais, físicas. Seus estudos e escritos da época, versavam sobre planetas, terremotos, fogo, vento, éter, vulcões, geografia, etnologia e assuntos similares.
E mesmo quando se permitia a alguma ousadia, como defender a ideia de vida extraterrestre, as suas divagações embasavam-se, apenas, em dados empíricos ou racionais, como ocorreu em sua “Teoria do Céu”, que buscava explicar os movimentos celestes através das “Leis da Mecânica”, em clara alusão à “Hipótese Nebular” de Laplace.
Porém, a partir de certo momento e noutro campo de estudo, a “Antropologia”, ele começou a emitir sinais de seu desligamento com o antigo padrão, como se percebe no fato de ele ter sugerido a possibilidade de o homem ter sofrido um processo evolutivo, ao estilo, posteriormente, consagrado por Darwin.
Foi, certamente, o inicio de suas reflexões menos convencionais, as quais redundaram nas teses que abalariam o vetusto edifício em que se abrigava o Pensamento da época; pois, ao admitir, por exemplo, o “processo evolutivo” e, até mesmo, ao especular sobre “Seres extraterrestres” mais inteligentes que o homem, ele se opunha a dogmas religiosos como o “Criacionismo” e à ideia de sermos “o ápice da Criação”, feitos “à imagem e à semelhança do Criador”.
Em suas palavras:
“Não sabemos como a natureza provocou essa evolução e quais as causas que a ajudaram. Essa observação nos leva muito longe. Ela nos faz pensar se o atual período da história, por ocasião de uma grande revolução física, não poderá ser o segundo de um terceiro, quando um orangotango ou chipanzé desenvolverá os órgãos que servem para andar, tocar, falar etc. chegando à estrutura articulada de um Ser humano, com um órgão central para o uso do entendimento e evoluir gradativamente sob o treinamento das instituições sociais”.
Sinais, que se consolidaram e cristalizaram o seu rompimento com as doutrinas hegemônicas da época, bem como o avanço em sua determinação e em suas concepções.
Avanço, aliás, que o fez enfrentar as dificuldades financeira, profissional e social, para continuar o trabalho que rendeu, após quinze anos, a sua grande obra, “A Crítica da Razão Pura”, publicada em 1781, quando ele tinha 57 anos de idade.
Depois, seguiu essa nova trilha e produziu livros e textos que balançaram as normas sociais e religiosas de forma tão significativa que ainda hoje são paradigmas.
Por fim, faleceu aos oitenta anos de idade, de forma tão tranquila quanto viveu. Sua missão estava cumprida.
Cronologia
Nasce em 22 de abril de 1724, em Konigsberg, Prússia.
Em 1763, publicação de “O único argumento possível para uma demonstração da existência de Deus”.
Em 1766, publicação de “Sonhos de um Visionário, interpretação mediante os sonhos da Metafísica”.
Em 1770, apresenta à universidade de Konigsberg a Dissertação “Sobre a forma e os princípios do mundo sensível e do mundo inteligível”.
Em 1781, publicação da primeira edição da “Crítica da Razão Pura”.
Em 1783, publicação de “Prolegômenos a qualquer metafísica futura que possa vir a ser considerada como ciência”.
Em 1785, publicação de “Fundamentação Metafísica dos costumes”.
Em 1788, publicação da “Crítica da Razão Prática”.
Em 1790, publicação da “Crítica da faculdade de julgar”.
Em 1793, publicação de “A religião dentro dos limites da simples razão”.
Em 1798, publicação de “O conflito das faculdades”.
Morre em 12 de fevereiro de 1804.
As Obras
Antecedentes à primeira Crítica
Com o advento do Iluminismo, passou-se a delegar à Razão, à fria racionalidade, a incumbência de responder a todas as questões filosóficas.
Ecoando o movimento de Voltaire, Diderot e outros pensadores, Francis Bacon fez com que a Europa e o resto do Ocidente outorgassem ao raciocínio, à Razão, a primazia de ser “o verdadeiro pensar”. Fez com que se depositasse irrestrita confiança no poder das Ciências e da Lógica para resolver em definitivo as dúvidas filosóficas e para ilustrar “o quão perfeito é o homem”.
E Condorcert, Spinoza e mais alguns eruditos, não hesitaram em seguir esse novo caminho, tornando a crença, a fé e a própria divindade, em meras figuras míticas e místicas, nascidas em um Passado sombrio e formadas apenas pelas trevas da ignorância e da superstição.
Assim, quando os Filósofos Helvetius e Holbach desfecharam o ataque mais possante – que fez “o próprio clero tornar-se ateu” – , poucos duvidaram de que o novo padrão viera em definitivo.
Contudo, ainda existiam aqueles que não se conformavam com o rumo proposto e, dentre estes, destacava-se a imponente figura de Jean Jacques Rousseau, que nunca deixou de acreditar na força e na importância dos sentimentos, das sensações, das intuições e da fé, em contraponto ao “Deus Raciocínio” ou à “Deusa Razão”.
E a sua pregação, mais a inexistência de provas efetivas de que a Razão fosse infalível, fez com que outras vozes eruditas seguissem-no, como aconteceu, por exemplo, com John Locke, que pela primeira vez analisou a Racionalidade segundo as premissas da Filosofia; ou seja, de maneira lógica e criteriosa.
Ao afirmar que todo conhecimento proviria necessariamente daquilo que foi captado pelos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato) e que, ao nascer, a Mente seria um quadro em branco (uma tábula rasa), inexistindo, portanto, as chamadas “ideias inatas”, Locke, de certo modo, reduziu-a a Razão à condição de um “órgão com funções definidas” e dependente dos estímulos externos para formar conceitos, pensamentos, julgamentos etc.
Outra voz que se destacou nesse campo, foi a de George Berkeley ao afirmar que “o Real, a Verdadeira Realidade” não é a matéria em si, mas a nossa percepção da mesma. Com isso, embora refutasse a tese Materialista de Locke, ele reafirmou, de modo indireto, a desimportância da Razão, haja vista que ela continuava dependente do que fosse captado pelos Sentidos para formar seus conceitos, pensamentos ou juízos.
E ainda nessa trilha, David Hume também advogou a dependência da Razão em relação aos sentidos, quando exarou sua tese acerca da inexistência de qualquer Metafísica, advogando a noção de que só existem, de fato, as coisas físicas, concretas.
Vê-se, portanto, que o argumento inicial de Rosseau foi seguido, de modos diversos, por importantes eruditos e se consolidou como uma tendência merecedora de assaz consideração.
E foi com esses avais que ele chegou até Kant.
Ecoando o movimento de Voltaire, Diderot e outros pensadores, Francis Bacon fez com que a Europa e o resto do Ocidente outorgassem ao raciocínio, à Razão, a primazia de ser “o verdadeiro pensar”. Fez com que se depositasse irrestrita confiança no poder das Ciências e da Lógica para resolver em definitivo as dúvidas filosóficas e para ilustrar “o quão perfeito é o homem”.
E Condorcert, Spinoza e mais alguns eruditos, não hesitaram em seguir esse novo caminho, tornando a crença, a fé e a própria divindade, em meras figuras míticas e místicas, nascidas em um Passado sombrio e formadas apenas pelas trevas da ignorância e da superstição.
Assim, quando os Filósofos Helvetius e Holbach desfecharam o ataque mais possante – que fez “o próprio clero tornar-se ateu” – , poucos duvidaram de que o novo padrão viera em definitivo.
Contudo, ainda existiam aqueles que não se conformavam com o rumo proposto e, dentre estes, destacava-se a imponente figura de Jean Jacques Rousseau, que nunca deixou de acreditar na força e na importância dos sentimentos, das sensações, das intuições e da fé, em contraponto ao “Deus Raciocínio” ou à “Deusa Razão”.
E a sua pregação, mais a inexistência de provas efetivas de que a Razão fosse infalível, fez com que outras vozes eruditas seguissem-no, como aconteceu, por exemplo, com John Locke, que pela primeira vez analisou a Racionalidade segundo as premissas da Filosofia; ou seja, de maneira lógica e criteriosa.
Ao afirmar que todo conhecimento proviria necessariamente daquilo que foi captado pelos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato) e que, ao nascer, a Mente seria um quadro em branco (uma tábula rasa), inexistindo, portanto, as chamadas “ideias inatas”, Locke, de certo modo, reduziu-a a Razão à condição de um “órgão com funções definidas” e dependente dos estímulos externos para formar conceitos, pensamentos, julgamentos etc.
Outra voz que se destacou nesse campo, foi a de George Berkeley ao afirmar que “o Real, a Verdadeira Realidade” não é a matéria em si, mas a nossa percepção da mesma. Com isso, embora refutasse a tese Materialista de Locke, ele reafirmou, de modo indireto, a desimportância da Razão, haja vista que ela continuava dependente do que fosse captado pelos Sentidos para formar seus conceitos, pensamentos ou juízos.
E ainda nessa trilha, David Hume também advogou a dependência da Razão em relação aos sentidos, quando exarou sua tese acerca da inexistência de qualquer Metafísica, advogando a noção de que só existem, de fato, as coisas físicas, concretas.
Vê-se, portanto, que o argumento inicial de Rosseau foi seguido, de modos diversos, por importantes eruditos e se consolidou como uma tendência merecedora de assaz consideração.
E foi com esses avais que ele chegou até Kant.
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Ao ler “Emilio”, obra prima do genebrino, Imannuel Kant encontrou no autor um homem que também buscava escapar da maré “Racionalista e Materialista” que predominava na ocasião e era vista com um símbolo de “modernidade e esclarecimento”.
Descobriu um homem que não tinha o menor pejo em afirmar a sua crença na superioridade do sentimento em relação ao raciocínio e que, consequentemente, não hesitava em duvidar da hegemonia da Razão.
Achou, ao cabo, alguém que não temia ir contra a corrente.
Então, para expor as suas próprias dúvidas sobre os limites e sobre a real capacidade da “Deusa Razão”, ele viu que chegara o momento de iniciar a sua obra grandiosa.
Ali nascia o “Criticismo kantiano”.
Descobriu um homem que não tinha o menor pejo em afirmar a sua crença na superioridade do sentimento em relação ao raciocínio e que, consequentemente, não hesitava em duvidar da hegemonia da Razão.
Achou, ao cabo, alguém que não temia ir contra a corrente.
Então, para expor as suas próprias dúvidas sobre os limites e sobre a real capacidade da “Deusa Razão”, ele viu que chegara o momento de iniciar a sua obra grandiosa.
Ali nascia o “Criticismo kantiano”.
Produção e divulgação de Vera L. M. Teragosa