COMEÇA A NASCER O POEMA

Recolho, com alegria, do Recanto das Letras, esta interlocução:

“16/08/2013, 22h49min – Zemary.

“Gestação sagrada. Gestação comemorativa, pois há de gerar algo – no caso – o poema. Entendi. Significa dizer que o VERDADEIRO POETA quase nunca fica "grávido", ou melhor, ou então, está sempre gestante. Poderia explicar melhor? Sou amadora, por isso gosto de obter detalhes, quando são tão subjetivos. Abraços meu mestre. Adorei.

Para o texto: A GESTAÇÃO DO POEMA (T4436401)”.

A GESTAÇÃO DO POEMA

Joaquim Moncks

Tenho dúvidas em reconhecer que a INSPIRAÇÃO teria capacidade para criar o poema, de fazê-lo. Acredito nela como fator desencadeador: centelha original vital, uma descarga elétrica inesperada... É ela que desencadeia o processo intuitivo. Ocorre no primeiro instante da tradução textual, aquele em que a palavra traduz-se emocionalmente. Uma catarse intempestiva. Tão forte e expressiva que no início do processo – há mais de cinquenta anos – ao garatujar o meu poema, aumentava a temperatura do corpo e as mãos suavam muito, a ponto de umedecê-las tanto que colavam momentaneamente no papel sobre qual corria a caneta... O segundo momento de criação é feito de transpiração, o trabalho intelectivo aportado sobre o texto que surgira quando da intuição traduzida no texto recém-criado... Porém, é este segundo momento de criação – A TRANSPIRAÇÃO – que vai fixar a apresentação formal do poema. E isto pode acontecer logo após o primeiro alinhavo textual ou levar meses e até anos. Tenho um poema (Dádiva e Colheita, publicado em http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/212909 , para o qual foram necessários vinte e quatro anos para dá-lo por pronto e vir a figurar em livro solo. E isto me faz diferenciado da maioria dos poetas, tendo em conta o contexto do processo criativo. Em verdade, faz mais de quarenta anos que me sinto apenas um leitor compulsivo e um denodado pesquisador do fenômeno que dá origem à linguagem poética. E este proceder faz com que tenha imensa admiração e respeito para com a Arte Poética. Fazer um bom poema é tarefa muito difícil, que exige muita dedicação e empenho. Fico com Sully Prudhomme, poeta, prêmio Nobel de 1901, ratificado pela genialidade de Thomas Edison e Einstein, luminares da centelha criacional: 10% de inspiração e 90% de transpiração... Boa dica pra quem está começando...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4436401

Enviado por Joaquim Moncks em 15/08/2013.

Amada poetamiga Maria Justi! Não interessa, a rigor, e nem importa, se o poeta (o autor) está ou não “grávido”, mas, sim pejado de POESIA em suas entranhas criativas. O comparativo aqui usado traz à baila a gestação, que é o crescimento do feto no ventre animal. Utilizo uma figura de linguagem, um exemplar de METÁFORA bem fácil de entender: o poema sendo gestado pela ideia original de seu autor. O que o texto aborda é o processo de gestação e nascimento da peça textual, esta, no caso, da categoria literária POESIA, em sua materialidade formal, que é o POEMA. Para muitos poetas iniciantes, vale apenas a “inspiração”. Creem a maioria dos novatos (é muito comum ficarem embasbacados com a espontaneidade da criação) que basta a intuição, que é o moto-gerador que vai levar o autor do poema ao encontro das ideias e palavras que virão a compor o poema. O ato espontâneo e imediato que tem o condão de criar, de dar forma à peça poética é esta a centelha original da criação. O poema vir a nascer totalmente pronto dificilmente acontece: o texto criado num impulso, num primeiro momento, é como o que ocorre com um embrião animal, terá de se formar pelo decurso do processo gestacional. O exercício da INTUIÇÃO pode até criar um bom texto, uma peça que surpreende o iniciante e este geralmente se satisfaz com o poema recém-criado. No entanto, é o segundo momento, em que prevalece a intelecção, que vai dar forma definitiva (ou quase) à peça poética. E esta ação autoral ocorre exatamente neste período gestacional da obra estética, em Poesia. Por sua cuidadosa, natural e humana gestação, terá maior chance de ter alguma pervivência quanto ao decurso do tempo e suas sequelas formais. Porque a palavra poética mal elaborada dificilmente resiste muito tempo: pouco traz de veracidade criativa, cansa logo o leitor e nada traz de novidades. Que seja muito bem-vindo o poema e sua gama de mistérios...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2013/15.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/5423590