Para Sempre
O que é a felicidade? Pergunto-me agora que já não me importa a resposta, mas vos digo; essa é uma questão que apoquentou meus dias durante praticamente todos os meus anos de vida.
Dia após dia correndo atrás de um sonho que, como fumaça, evanesce à mera sugestão de um toque. Como uma imagem que você só consegue observar com sua visão periférica e quando você tenta focar o olhar e percebê-la com exatidão, ela desaparece.
Eis a mais pura verdade do amor; que não por outra razão rima com “dor”. Esse é o sentimento que governou meus dias e minhas noites, sempre em busca, não uma busca qualquer, mas uma contenda desesperada e faminta para sentir aquele que era a peça fundamental da minha existência; o amor!
Não há amor sem dor, não há alegria sem tristeza, não há verdade sem mentira e não há nada, afinal, pois o mais difícil é reconhecer que tudo não passa de uma simples ilusão. Ninguém quer, ou ninguém consegue viver em pura neutralidade.
Eu tentei! Busquei dentro e fora pela verdade do amor, mas onde quer que esse sentimento surgisse vinham também uma gama de coisas ruins e no fim das contas, o amor não era o suficiente para me manter forte.
Ele tirou de mim mais do que me deu, e não estou querendo ser mal agradecido; não! Eu reconheço a felicidade que tive, mas como eu já disse logo em seguida vinha a tristeza. Minha paz fora roubada de mim, eu fui tirado de mim e colocado em um campo de batalha!
Desisti então da busca e me entreguei a outras coisas! Entreguei-me à arte, as drogas, à uma vida boêmia. Beijava quem eu queria beijar e ia para a cama com quem se dispusesse a me esquecer no dia seguinte.
Uma vida triste, você deve pensar e não serei eu quem irá se esforçar para lhe fazer pensar diferente. Eu não defendo o estilo da vida que vivi, mas ainda posso dizer que pelo menos a minha vida eu vivi da forma que consegui.
Ano após ano, o espelho estava lá e dentro dele, estava alguém que me lembrava o que eu tinha sido, o que eu era e o que eu me tornaria. A solidão é um veneno que se bebe devagar e aos poucos seu sangue se torna amargo e seu sorriso falso. Seus olhos expressam apenas uma tristeza profunda e escura, roubando-lhe o brilho e o viço.
Ah, a vida! Com essa eu parei de discutir. Recebi em minha casa a noite, o obscuro, o feio e de tanto olhar para as trevas, percebi dentro dela uma beleza que não era a que eu queria, mas era a que eu tinha.
No fim havia apenas vazio. Não um vazio daqueles que você sente quando todos os seus amigos saem e não te chamam para ir junto, mas um vazio existencial; junto a ele um cansaço que estava presente até mesmo enquanto eu dormia. Eu não sabia ainda, mas esse vazio seria meu amante mais fiel.
De braços em braços, de boca em boca eu fui passando como uma droga, despertando amores, paixões, dramas, discórdias, mas nada me importava. Meu próprio coração não tinha outra função que não fosse bombear meu sangue podre por minhas artérias empoeiradas. Minha pele era fria e morta, já não sentia o calor do toque e o prazer já não estava nem mesmo nas atividades que um dia eu amei fazer.
Tornei-me um “undead”, por falta de palavra melhor, mas creio que esta serve muito bem. O que seria um “undead”? É algo que está morto em vida, e vivo em morte. Preso entre os dois, sem viver plenamente o que seria o significado de uma vida, sem morrer e sem encontrar descanso de sua jornada!
Entretanto, ela veio um dia. Acho que já estava cansada de me ver lamentar a vida e decidiu que já era hora. Não veio como um lindo anjo, ou uma bela mulher para me beijar os lábios. Não veio com forma alguma, e nem me deu sinal.
Naquela noite, eu fui apenas me deitar e ainda pensei uma ultima vez nos amores que perdi. Na vida que vivi. Em tudo do qual eu abri mão e nas escolhas que fiz. Lembrei-me do rosto do meu primeiro amor. Ele foi o primeiro e o ultimo, pois com ele permaneceu meu coração por toda a minha vida. Ele nem notou. Viveu sua vida com outros amores e me deixou esquecido na poeira do tempo que inexoravelmente passou por nós e nos colocou em caminhos tão diferentes.
A mim, todavia, o tempo não fez questão de apagar a memória, pois lá estava o amor e a vida para me fazer cumprir à força a promessa que lhe fiz em uma noite de amor. Eu o amaria para sempre.
Sempre... essa palavra ganhou um significado diferente agora... pois, a morte veio e em meu sono me levou. Quando fechei os olhos e adormeci, foi como sempre acontecera. Vi-me envolto, abraçado por uma escuridão infinita e não mais saí de lá. Visitado apenas pelas lembranças da minha vida, como sonhos. Ora bons, ora tormentosos. E eu entendi que “para sempre” é muito tempo.